Nem mesmo a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil deve mudar o resultado negativo do turismo no país. Pelas projeções oficiais, os turistas brasileiros no exterior vão continuar gastando muito mais do que os estrangeiros vão deixar no Brasil.
Em 2014, somando gastos de turistas em geral e os que vêm só para a Copa, o Brasil deve receber R$ 9,2 bilhões, segundo a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo).
Não há estimativas de quanto os brasileiros vão gastar em 2014 fora do país, mas se o nível apenas se mantiver no que foi o ano passado, de US$ 16,42 bilhões, a diferença é grande: os brasileiros gastariam 78% a mais. Isso é o mínimo. A tendência é que as despesas brasileiras lá fora subam ainda mais. Entre 2005 e 2010, esses valores mais que triplicaram, indo de US$ 4,72 bilhões para US$ 16,42 bilhões.
Durante a Copa, são esperados 600 mil turistas estrangeiros no país, que devem fazer 1,932 milhão de viagens. Nessas idas e vindas, eles devem gastar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões, segundo estimativas divulgadas pelo Ministério do Turismo.
Já em todo o ano de 2014, a expectativa é que o Brasil receba no total (incluindo os que não vierem só para a Copa) 7,2 milhões de turistas estrangeiros e embolse com eles US$ 9,2 bilhões.
Parece bastante. Afinal, seria a primeira vez que o Brasil bateria a marca dos 7 milhões de turistas estrangeiros e os gastos deles seriam 73,58% maiores que em 2009.
Porém, o outro lado da balança também deve ficar (ainda) mais pesado. O câmbio desvalorizado tem estimulado os brasileiros a deixar cifras cada vez maiores na passagem por outros países.
Diferença de gastos tem ficado no vermelho nos últimos anos
A balança de pagamentos representa a diferença entre os gastos de brasileiros no exterior e os gastos dos estrangeiros no Brasil.
Em 2010, por exemplo, os brasileiros deixaram US$ 16,42 bilhões em viagens ao exterior, enquanto os estrangeiros deixaram US$ 5,92 bilhões por aqui. No final das contas, o Brasil ficou com um saldo negativo de US$ 10,5 bilhões.
Desde 1990, aliás, esse saldo só foi positivo em 2003 e 2004, segundo dados do Banco Central, quando o dólar alto encarecia os passeios para fora.
"A meta da Embratur para 2020 é dobrar o número de turistas [estrangeiros] e triplicar as divisas [os gastos deles]. O objetivo é superar esse deficit na conta do turismo", declara o presidente do órgão, Flávio Dino.
"Agora, se isso será suficiente para reverter o deficit, nem eu, nem você, nem a [agência de classificação financeira] Moody’s, nem a Standard & Poors poderão cravar. Isso depende de variáveis macroeconômicas internacionais, principalmente fora do Brasil. Não é só o câmbio.”
Gastos de brasileiros no exterior atinge recorde no semestre
O gasto dos brasileiros com viagens internacionais atingiu valor recorde de US$ 10,2 bilhões no primeiro semestre deste ano –44% a mais que no mesmo período de 2010–, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta semana.
As despesas dos estrangeiros que visitam o Brasil cresceram menos: de US$ 2,9 bilhões para US$ 3,4 bilhões.
O saldo este ano deve ficar negativo em US$ 15 bilhões, projeta o BC. Isso representa 25% do resultado negativo do país nas suas transações com o exterior.
Essa elevação se deu apesar do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nos gastos com cartão de crédito no exterior, que subiu de 2,38% para 6,38% no final de abril. O objetivo do governo era reduzir o endividamento dos brasileiros.
A explicação? Com o dólar mais barato, o brasileiro consegue comprar mais moeda americana com a mesma quantidade de reais, diz José Francisco Lopes, diretor de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo.
Se há cinco anos o brasileiro dispunha de R$ 5.000 para viajar, ao trocar esses reais pelo dólar a R$ 2,50 ele conseguia US$ 2.000 para gastar. Agora, com os mesmos R$ 5.000, consegue US$ 3.300.
UOL
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