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Mesmo com pacote, Grécia pode repetir cenário da crise de 2008

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Nesta semana o Parlamento grego aprovou, em meio a protestos da população, um pacote de medidas de austeridade fiscal como alternativa para conter a crise financeira. O aperto nas contas públicas, que envolve corte de empregos, aumento de impostos e privatizações, é condição para que a Grécia receba o quinto lote de ajuda da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de cerca de 12 bilhões de euros (R$ 27 bilhões). As medidas, porém, são paliativas, e servem para aliviar os mercados no curto prazo, enquanto a previsão de analistas no longo prazo aponta para um cenário de crise como ocorreu em 2008, com os problemas hipotecários nos EUA e a quebra do Lehman Brothers.

 

De acordo com o professor de finanças da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Samy Dana, a opção escolhida pelos países europeus para enfrentar a crise não irá funcionar. "No curto prazo esse pacote acalma os nervos, mas no longo prazo a situação da UE é crítica, já houve problemas em Portugal, Itália e Irlanda. Esse pacote não resolve", afirmou.

 

Do mesmo modo, o professor da PUC-Campinas e delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon), Paulo César Adani, acredita que as recentes medidas, embora tenham reflexo apenas no curto prazo, são fundamentais para dar alívio ao mercado e sobretudo aos credores que financiaram a dívida grega, além de dar mais tempo para soluções posteriores.

 

"É uma coisa boa porque preserva a maioria dos credores que bancaram a situação. Se a Grécia entra em default (não pagamento temporário da dívida), ela vai puxar outros países, gerando uma crise sistêmica. Voltaria ao ambiente de crise de 2008", disse. Para a situação se resolver no longo prazo, no entanto, além das medidas, será necessária uma reestruturação do bloco e nos governos europeus que se acostumaram a gastar além do que suas receitas permitiam. "Vai ter que mudar a estrutura de modelo de gestão e tentar aumentar a receita. (A Grécia) vai ter que gerar um superávit para pagar a dívida", afirmou Adani.

 

Moratória
Para o professor da FGV, com ou sem medidas a Grécia terá de decretar a moratória, ou seja, não pagar os juros da dívida (que atingiu 340,2 bilhões de euros no ano passado), ou pressionar os credores para diminuírem o valor ou conceder uma anistia. "A moratória é inevitável, existe um limite de paliativos, uma tolerância dos investidores e até do país. É evidente que eles (a Grécia) não têm condições de cumprir essas ajudas."

 

Com o calote, Dana acredita que se poderia evitar o sofrimento maior da população e os recentes conflitos entre manifestantes e a polícia grega. "A população poderia sofrer de uma vez só. Dessa forma (coma as medidas), ela sofre por um tempo maior. O melhor é quebrar a estrutura e começar de novo, a fazer uma reforma em um prédio que está mal construído", acrescentou.

 

No entanto, a moratória esbarra em questões políticas da zona do euro. "A Grécia não pode pedir moratória porque tem um acordo no bloco europeu. Como ela não tem o mando da política monetária, não pode resolver seu problema sozinha. A não ser que saísse do bloco, o que não é uma sugestão da UE", afirmou Adani.

 

Lições
Para Dana, a União Europeia deve aproveitar a crise grega para encontrar mecanismos de controle e fiscalização dos países-membros a fim de evitar novos problemas. Já para Adani, mais que uma maior fiscalização é preciso que as regras que regem a UE sejam cumpridas. "O acompanhamento dos indicadores acordados no bloco europeu terão de ser seguidos à risca. Há outros países em crise que passarão por medidas semelhantes às da Grécia", disse.

 

Cenário internacional
As medidas aprovadas pelo Parlamento grego foram bem vistas pelas outras nações, inclusive o Brasil. "Exceto para a Grécia que terá que passar pelas medidas de austeridade, em termos econômicos e financeiros, o mundo está vendo com ‘bons olhos’ o acordo", afirmou Adani.

 

Ele disse ainda que se caso uma houvesse uma moratória, os bancos credores da dívida grega também deixariam de pagar seus poupadores que, por suas vezes, tirariam seus investimentos do mercado financeiro. "Se entra em default, pode ser gerado um ambiente parecido com o de 2008, em que houve o rompimento do sistema internacional de crédito", acrescentou.

 

Entenda a crise
A dívida pública da Grécia alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O país se encontrou, então, com níveis de divida acima dos necessários para permanecer como membro da zona do euro. O governo tinha duas escolhas: sair do grupo e voltar a adotar moeda local ou apertar os cintos e pleitear um empréstimo internacional. Optou pela segunda.

 

No segundo semestre de 2010, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) concordaram em ceder um pacote de ajuda de 110 bilhões de euros, que seria liberado em parcelas, conforme o progresso do enxugamento das contas do país. O primeiro conjunto de cortes foi feito na entrega da primeira parcela. Sem os empréstimos, Atenas entraria em default. O primeiro-ministro grego, George Papandreou, havia afirmado que, sem a ajuda, os cofres do país ficariam vazios "em questão de dias".

 

Pressionado, o governo grego aprovou um novo pacote de austeridade em 29 de junho para poder receber mais uma parcela – de 12 bilhões de euros (R$ 27 bilhões). O pacote inclui corte de gastos, de empregos, de salários, aumentos de impostos e vendas de ativos estatais. As medidas de austeridade são altamente impopulares entre os gregos. Sindicatos afirmam que a taxa de desemprego já ultrapassou os 16%. A polícia entrou em confronto com manifestantes em algumas ocasiões nas ruas próximas ao parlamento grego.

 

 

TERRA

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