O ambiente de altas taxas de juros, vendas em queda e uma oferta elevada de empreendimentos imobiliários no Brasil colocou empresas do setor em dificuldades e a venda de ativos tem se tornado uma estratégia de alívio financeiro aproveitada por investidores internacionais, disseram especialistas consultados pela Reuters.
No setor de escritórios, um prédio de alto padrão em São Paulo que custava US$ 12 mil o metro quadrado 18 meses atrás hoje vale 30% menos, disse o diretor da área de transações da consultoria imobiliária JLL, Roberto Patiño.
"A perspectiva de curto prazo ainda é incerta, mas o investidor estrangeiro entende que, do ponto de vista fundamental, (o preço dos imóveis no Brasil) está muito barato", disse o executivo.
A perspectiva de ganhos neste cenário – com os preços em baixa e o dólar em alta – e a atuação no Brasil de importantes grupos globais do setor, como Blackstone, GazitGlobe e Brookfield, influenciam a entrada de novos estrangeiros, acrescentou o diretor da JLL.
"Existem vários projetos de escritórios que estão entrando em operação nos próximos 18 meses. Para quem está capitalizado e quer olhar projetos, este é um excelente momento para comprar (ativos) em desenvolvimento ou prontos", afirmou Patiño.
Os executivos do setor ouvidos pela Reuters acreditam que os preços dos imóveis como um todo podem cair mais nos próximos 6 a 12 meses, em meio às incertezas sobre os rumos da economia brasileira.
Diante desta perspectiva, a Exxpon Desenvolvimento Imobiliário, consultoria de investimentos no setor, está realizando negociações para a compra de novos ativos no Brasil para investidores estrangeiros nos próximos meses.
A consultoria, que já realizou operações de cerca de R$ 120 milhões nos últimos 12 meses em setores como residencial e pontos de varejo de rua, tem como sócio-investidor o bilionário norte-americano Neil Bluhm.
"Temos um fluxo de negócios bastante alto. A gente continua em negociação com outros (participantes do mercado)", disse o co-fundador da Exxpon, Evaldo Lima. A lista de ativos que a Exxpon negocia inclui galpões, terrenos e lajes corporativas.
"Temos três operações (de compra de ativos) que a gente vem negociando e, se concretizadas, somadas passam mais de R$ 1 bilhão", acrescentou, dizendo que estes acordos seriam realizados com outros três fundos.
Com a economia derrapando, estes investidores buscam ativos de alta qualidade para driblar a vacância, caso da gestora de recursos DXA Investiments. Esta gestora está analisando e negociando compra de ativos para family offices estrangeiros, visando prédios corporativos e galpões logísticos, com uma primeira rodada de aquisições avaliada em US$ 100 milhões.
A ideia é comprar ativos entre 30 e 50 milhões de reais no Rio de Janeiro e São Paulo que já estejam locados. "Não quero correr o risco de vacância porque o mercado está muito difícil", disse o sócio da DXA, Flávio Ramos, que espera fechar os negócios em até 90 dias.
Eles também pretendem se aproveitar do fato de que locatários estão buscando aluguéis mais baratos ou melhores oportunidades de negociação para migrarem para escritórios de mais alta qualidade.
Do lado dos brasileiros, também há grupos interessados, caso da gestora de private equity Hemisfério Sul Investimentos (HSI). "Estamos estudando bastante as oportunidades de compra, mas sem pressa. A ideia é ir às compras no ano que vem, quando a situação da economia pode estar mais definida", disse o sócio fundador da HSI, Máximo Pinheiro Lima.
Além das áreas residencial e galpões, a HSI também pretende consolidar sua participação na área de shopping centers. "(A ideia) é comprar pelo menos uma meia dúzia (de ativos) nos próximos dois anos", disse o presidente. Lima afirmou ainda que a empresa está com posição de caixa "bastante grande, "na casa do bilhão".
No ano passado, a HSI comprou o Fashion Mall, no Rio de Janeiro, da BR Malls, por R$ 175 milhões.
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