A produção industrial brasileira caiu 12,4% em dezembro de 2008 na comparação com novembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 3. É o pior resultado desde 1991, quando começou a série histórica da pesquisa. Na comparação com dezembro de 2007, a produção recuou 14,5%. No acumulado de 2008, por sua vez, o índice teve expansão de 3,1%.
Segundo o IBGE, a crise mundial teve impacto imediato na queda de atividade do setor porque a restrição ao crédito afetou os setores da indústria mais sensíveis à queda na oferta de empréstimos, especialmente o automotivo. "Há um quadro generalizado de queda", disse a economista da coordenação de indústria do IBGE Isabella Nunes.
Com a queda, a produção retornou ao nível de março de 2004. O maior impacto negativo no índice global foi o setor de veículos, que caiu 39,7% em dezembro, seguido por máquinas e equipamentos, material eletrônico e comunicações e metalurgia básica. Segundo a economista do instituto, todos esses segmentos registraram paralisações e férias coletivas no mês de dezembro. Todos os 27 ramos da indústria pesquisados tiveram queda, com exceção de celulose e papel, que subiu 0,4% no mês.
A detonação da crise mundial, com a quebra do banco americano Lehman Brothers,a partir de setembro, teve efeito imediato sobre a atividade industrial. Segundo o IBGE, esse quadro de queda generalizada foi agravado pelo mau desempenho de setores mais sensíveis à restrição de crédito e à queda das exportações de commodities.
A análise sobre o comportamento da indústria em 2008 mostra duas fases distintas, ainda de acordo com o instituto. Na primeira, que vai até setembro de 2008, há uma elevação generalizada do nível de produção, com o total do setor crescendo 13,6% e todas as categorias mostrando ganhos. De outubro em diante , observa-se uma significativa queda na produção global, que recua 9,4% entre setembro e dezembro, em todos os setores.
O IBGE também revisou o índice de novembro, que já havia sido negativo. De -5,2%, o índice ficou em -7,2% na comparação com o mês anterior. Em outubro a produção industrial tinha caído 2,8% em relação a setembro.
Reflexos
Os números da produção industrial assustaram a economista da Mauá Investimentos Cassiana Fernandez. Com os dados, a analista já iniciou o processo de revisão das projeções para o PIB do quarto trimestre de 2008, de -1,8% para algo mais próximo de -2,0%. O indicador será conhecido no dia 10 de março, véspera da próxima decisão do Copom sobre a Selic. "Está ocorrendo um choque de demanda e isso é realmente algo sem precedentes, é algo que assusta", avaliou.
Cassiana destacou que a drástica queda da produção industrial em dezembro de 2008, de 12,4% na comparação com novembro e de 14,5% ante o mesmo mês de 2007, está muito ligada ao contexto vivido em todo o mundo, derivado da crise financeira internacional. "A crise pegou o Brasil no pico de seu crescimento, que foi o terceiro trimestre", avaliou. Ela lembrou que essa expansão brasileira vinha sendo puxada pelos investimentos e que, dado o novo cenário, é natural que haja um esfriamento também dessa aplicação de recursos no País.
Para a economista do Unibanco Giovanna Rocca, o fato do freio na indústria não se restringir ao setor de automóveis, como era avaliado por alguns analistas até o momento, é preocupante. "Não foram só os automóveis, houve queda generalizada em todos os setores, e me impressionou um pouco o dado da produção de bens de capital", analisou.
Agência Estado