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Redes conectadas com o mundo, que geram descanso e impulsionam o desenvolvimento regional

Inovar, empreender e ousar está no sangue do Nordestino. Disposição e coragem é o que não faltam para os sertanejos, acostumados a acordar cedo, dormir tarde e conviver com as intempéries climáticas. Em São Bento, bem no coração do Sertão da Paraíba, não é diferente. O lugar onde o semblante do rosto revela esforço, é uma das cidades em que a vocação para fazer redes de dormir, aliada a revolução tecnológica, e boas parcerias, transformaram a vida dos pequenos e microempresários. E impulsionam negócios.

Terra que trabalha para gerar descanso, São Bento é uma das poucas cidades do Brasil, se não for a única, em que praticamente não tem ninguém desempregado. E a receita parece ser simples: coragem e ousadia. As mãos das mulheres rendeiras, o cultivo do algodão colorido por produtores da região, e a adesão aos recursos tecnológicos, trouxeram um novo boom econômico para o município.

Na cidade, onde a seca é escaldante e o inverno demora a chegar, o mundo encontra refúgio e descansa sob as mãos “mágicas” das rendeiras, e ao som que ecoa das máquinas de tecelagem, que dão forma ao produto que no Brasil, ou em outro lado do planeta, nos lugares mais longínquos possíveis, alguém vai repousar e refazer as forças para tocar a vida adiante. Uma terra de gente empreendedora que mantém as raízes fincadas no passado, mas que ao mesmo tempo está conectada com o futuro.

As redes de dormir made in São Bento estão em todo canto do mundo. A cidade que ostenta o título de “Capital mundial das Redes” não para de se reinventar e de se render a ideais novas, revolucionárias e transformadoras que impulsionaram os negócios e o desenvolvimento da região.

Os fios de algodão que fazem movimentar a economia local se conectam com novas tecnologias e transformam a pequenina cidade, com mais de 35 mil habitantes, localizada há pouco mais de 370 quilômetros da Capital, João Pessoa, em um gigante pólo têxtil gerador de empregos, negócios e oportunidades.

A necessidade de mudar as estratégias de negócios, especialmente, de vendas, surgiu com a pandemia. O empresário Armando Dantas, um dos pioneiros deste ofício, contou que há muito tempo, quando a cidade ainda era um povoado, a produção de redes era vendida nas feiras livres e de porta em porta, a domicílio, e nas praias nordestinas. Em média, eles levavam até uma semana para fabricar uma rede de dormir.

O sistema de mascate ficou para trás quando os empreendedores perceberam que precisavam inovar para escoar a produção de forma mais eficiente.

A saída foi aderir a era digital. Partir para a automação e investir em tecnologias. Criatividade, ousadia e parceria compuseram a fórmula do sucesso. E evitaram a falência de muitos negócios. A automação permitiu a produção em larga escala e o investimento na qualidade dos produtos para atrair e conquistar mercados exigentes e concorridos como o europeu.

Um dos parceiros fortes que apresentou as condições para impulsionar o desenvolvimento da região, e manter a vocação dos empreendedores da cidade, foi o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PB). Com atuação na cidade há mais de 20 anos, o Sebrae notou que os pequenos fabricantes de rede poderiam ser engolidos pela modernidade. A crise foi agravada durante a pandemia, quando muitas lojas foram fechadas, e os produtos ficaram retidos. A falência parecia inevitável.

Foi neste contexto de desânimo que o Sebrae entrou, incentivando os empreendedores a migrar para a era digital, sem com isso, abandonar os negócios em lojas físicas. A adesão foi total. A ideia deu certo. O setor estava salvo.

O gerente regional da agência Sebrae em Pombal, Lúcio Magno Almeida Wolmer, contou em entrevista por telefone ao portal PB Agora, que os microempresários acolheram a ideia de mudar a forma de produção, distribuição e venda de seus produtos e passaram a explorar mercados antes inimagináveis.

“Foi uma mudança significativa de mentalidade. O Sebrae incentivou juntamente com outros parceiros. Eles compreenderam que precisavam mudar de rota para alcançar novos mercados”, revelou.

Entre as ações realizadas com êxito e que alavancaram o setor, destaca-se a feira denominada de Expotêxtil, que trouxe os fornecedores de outros estados para conhecerem o potencial e a vocação de São Bento.

Durante este evento, eles fizeram visitas técnicas nas empresas e comprovaram o potencial que elas dispõem. Cerca de 50 estandes foram montados para expor a produção, inovação e designer dos microempreendedores.

Com a crise advinda da pandemia, o Sebrae e parceiros realizaram a primeira feira totalmente digital, que foi a Expotêxtil Digital. Essa feira foi importante, conforme afirmou o gerente do Sebrae, visto que permitiu uma troca de experiência e a implantação do comércio eletrônico. O evento reuniu mais de 120 expositores e recebeu mais de 20 mil visitantes virtuais.

“Nessa feira nós observamos que alguns países, cerca de 15, adentraram nos portais de cada empresa de São Bento e realizaram as suas compras. Esse é, sem dúvida, um gigante polo industrial. Por isso dificilmente encontramos alguma pessoa sem ter o que fazer. Todos eles trabalham muito forte para manter essa vocação. É um dos municípios mais empreendedores no Sertão da Paraíba” destacou.
Antes da pandemia existia toda uma estrutura física. No pós pandemia, a partir da Expotêxtil Digital, as empresas passaram a ser híbridas, com lojas físicas e, ao mesmo tempo, o comércio online via redes sociais.

“Hoje nós temos empresas que se tornaram campeãs de vendas dentro do Instagram. É um mundo totalmente novo, que surgiu com o advento da era digital. E sinto que podemos estar sempre à frente, na vanguarda, ajudando a todos os empresários” afirmou o gerente.

Os números refletem esse novo boom econômico que foi registrado na cidade. Um “milagre” que nasceu pós pandemia, gerando lucros, investimentos e oportunidades.

O som que surge das fábricas  de tecelagem e que culmina com o produto final de redes de dormir com alta qualidade, cobiçada por exigentes mercados, revela o desenvolvimento da região, e a vocação do município, repassada de país para filhos.

Antes, a cidade produzia e comercializava por ano mais de 12 milhões de redes de dormir, vendidas para todo o Brasil. Após a intervenção do Sebrae, com as consultorias, feiras e capacitações que mudaram a mentalidade dos empresários, esse número cresceu significativamente. Hoje a cidade produz mais de 20 milhões de redes de dormir por ano, o que garante o título de uma das maiores produtoras de redes do Brasil, e um dos maiores polos têxteis do País.

Junto à produção de redes de dormir, mantas, cobertores e diversos artigos têxteis, a indústria é responsável por 80% da mão de obra disponível da cidade, contribuindo para que o índice de desemprego local seja próximo de 0%.

“Esse trabalho rendeu frutos para algumas empresas que fazem exportação para a Itália, França e China, Estados Unidos e outros mercados”, revelou Lúcio Magno garantiu que o Sebrae procura sempre observar as necessidades dos empresários para apresentar saídas em tempos de crises.
Os artesãos e pequenos empresários reconhecem a força do Sebrae como motor que fez toda uma engrenagem funcionar. E ressurgir com força.

“Primeiro Deus. A nossa perseverança e os nossos esforços. E com quem nós somamos? Com o Sebrae, que foi quem nos deu a maior oportunidade no momento que nós precisávamos” reconheceu Armando Adonias Dantas Filho, diretor executivo da Santa Luzia Redes e Decoração, um dos grandes exemplos dessa cooperação dentro do contexto têxtil da região produtiva de São Bento.

O empresário, hoje uma referência na venda de redes de dormir, disse que durante algum tempo resistiu à modernidade, mas, após a insistência do Sebrae, resolveu mudar de direção e ampliar os negócios.

“Nós queremos ser reconhecidos como os melhores produtos de artesanato do Brasil de decoração, feito com compromisso a partir da natureza. Hoje nós exportamos para vários países como Estados Unidos, Europa e Finlândia. Queremos ser reconhecidos pela qualidade de nossos produtos e o compromisso com todo o mercado que nós participamos” disse.

O gerente do Sebrae Lucio Magno Almeida destacou o potencial têxtil de decoração e designer de São Bento, que possui atualmente mais de 2 mil negócios formalizados. A participação dos pequenos negócios, conforme relatou Lucio Magno, é de 94,5%, sendo que das Empresas de Pequeno Porte, 7,1% é EPP, 3,7 Micro e Pequenas Empresas (MPE) e 55,8% Microempreendedor Individual (MEI).

A maior parte dessas empresas estão voltadas para o segmento têxtil. Em 20 anos de atuação na cidade, o Sebrae já fez diversos trabalhos junto aos empreendedores, como forma de alavancar os negócios, entre eles, consultorias para designer e inovação. Recentemente, o Sebrae Paraíba e a prefeitura de São Bento assinaram um termo de cooperação para a realização de parcerias institucionais, como a instalação de um Ponto de Atendimento do Sebrae (PAS) que já está funcionando no Shopping das Redes.

Coordenador de Incentivo da Indústria e Turismo no município, Márcio Ferreira da Silva, destacou a expansão dos negócios após a intervenção do Sebrae. Para ele, as capacitações, consultorias e outras ações do Sebrae foram essenciais para preparar os microempresários para esse novo momento de transição de forma estratégica e planejada.

Ele lembrou que o uso das mídias digitais impulsionou as vendas no segmento têxtil. E chamou a atenção de muitos clientes. As vendas online, segundo Márcio, chegam a suprir os dias de pouco movimento na feira realizada toda segunda-feira no Shopping das Redes.

“O Sebrae está sempre realizando capacitações. E tem surtido efeito. O que a gente vê é que tem momento que a feira é fraca, mas compensa, porque o pessoal tem um lucro garantido com a demanda dos pedidos online”, observou.

Márcio acrescentou que muitos clientes vão à feira apenas para pegar o cartão para fazer compras de forma virtual usando as redes sociais da loja, sejam o Whatsapp ou Instagram.

De acordo com o Centro Internacional de Negócios da Paraíba, há algum tempo, o estado vem apresentando a cidade de São Bento como a principal exportadora de redes e demais produtos da categoria, com um crescimento significativo de faturamento em suas exportações, somando um total de 82,6 mil dólares apenas em 2020, frente aos 77,9 mil dólares no ano anterior e 21,6 mil dólares em 2018. Esse número despencou durante a pandemia, mas voltou a crescer nos últimos dois anos.

 

A primeira loja virtual do Brasil

Inovação, ousadia e transformação social. O som que ecoa das fábricas de tecelagem de São Bento produziu desenvolvimento. A automação proporcionou a produção em larga escala, sem abdicar do processo artesanal, mas foi a era digital e a revolução tecnológica que mudaram a vida e os negócios dos pequenos empresários de São Bento. Mais uma vez, o Sebrae foi decisivo para essa mudança de mentalidade.

O surgimento das vendas on-line permitiu a entrada de muitos fabricantes no mercado, representando um crescimento exponencial dos negócios de rede na cidade. Em vez de vender de porta em porta, os comerciantes ganharam, instantaneamente, alcance mundial de seus produtos.

Que o diga o empresário Francisco Nadjan Vieira, dono do grupo Redes de Dormir. Em entrevista ao PB Agora, ele contou que desde os 10 anos de idade atua no segmento têxtil. Cresceu em meio a produção de redes, sob o barulho das fábricas de tecelagem e se tornou o dono de uma das maiores empresas de redes de São Bento.

“Eu sou filho de redeiro. Meu pai, Seu Geraldo, foi redeiro durante muitos anos, viajou o Brasil inteiro, até o Paraguai, vendendo redes de forma ambulante, colocava uma rede no ombro e vendia de casa em casa, vendia nas praias”, conta Francisco Nadjan Vieira.

Ele revelou que desde adolescente queria se tornar vendedor de redes, seguindo os passos do seu pai, Geraldo Emílio do Nascimento. Só que a sua mãe, Maria Vieira de Sousa, não queria que o filho virasse vendedor ambulante, pelos perigos da profissão. O e-commerce foi a solução. Após uma capacitação no Rio de Janeiro, ele teve a ideia de abrir a primeira loja virtual de redes do Brasil.

“Abri um site, era a oportunidade que eu tinha de ser igual a meu pai, só que em casa, de frente para o computador. As redes de dormir.com foi a primeira empresa do ramo a ter sua própria loja virtual que começou totalmente online. Hoje vendemos praticamente em todas as plataformas de vendas online do Brasil” contou.

Enfático, Francisco garantiu que foi o primeiro a ter um site próprio de loja virtual, que foi a rede de dormir.com. Antes existiam blogs e algumas páginas institucionais, mas não vendiam muito.
“Eu criei a primeira loja virtual de redes do Brasil. Tanto que o domínio rede.com me pertence. Ninguém na época pensava nisso. Comprei o domínio e registrei e hoje detenho essa marca”, disse.

O empresário revelou ainda que desde que enveredou pelo comércio eletrônico não parou de inovar e recorrer às novas tecnologias, para que o produto chegasse ao maior número de pessoas possível.
Uma explosão de vendas. Quando começou com a loja virtual, Francisco Nadjan Vieira recebia em média 1 pedido por semana. Hoje a loja tem um portfólio de 100 pedidos por dia só nas vendas online. Essa performance chamou a atenção da Amazon, de quem a loja se tornou oficial. E de outas empresas virtuais de venda em todo o Brasil, a exemplo do “Mercado livre”

“A Amazon compra a nossa rede e revende. As vendas deram um salto significativo com o comércio eletrônico” revelou.

Um dos desafios enfrentados por Francisco para escoar a produção foi o de transporte. Isso porque a cidade de São Bento não tem terminal rodoviário, muito menos aeroporto. A produção de redes era escoada quase exclusivamente pelos Correios. Segundo a empresa estatal, a agência de São Bento se tornou a terceira mais movimentada da Paraíba.

Diante da explosão de vendas online, Francisco Vieira mudou de estratégia e montou uma nova logística. A solução foi criar uma loja âncora em São Paulo em agosto de 2020 e deixar a estrutura montada em São Bento apenas para a linha de produção. A ideia deu certo. Essa loja, que funciona como centro de distribuição, abastece todo o País, distribuindo os produtos principalmente para o sul e sudeste, onde estão os maiores clientes.

“Hoje o nosso maior mercado consumidor é Sul e Sudeste. De cada mil pedidos, 10 ou 20 no máximo é Norte e Nordeste.

Além de gerar desenvolvimento na região, o sucesso dos negócios de Francisco garante emprego e renda. Diretamente ele emprega 20 pessoas que trabalham na fábrica no acabamento das redes, e mais de 100 indiretos.

Renato da Silva é um dos empregados da fábrica e garante que trabalhar no acabamento das redes é gratificante, visto que desde criança convive nesse ambiente.
“Aqui eu tiro o sustento de minha família. Aliás, a maioria dos filhos de São Bento, dependem do comércio de redes de dormir. Essa vocação está em nosso sangue” disse.

Essa visão futurista, de olho no exigente e competitivo mercado europeu, foi fundamental para o sucesso da Santa Luzia Redes e Decoração. O diretor da empresa, Armando Dantas, garantiu que o uso das novas tecnologias impulsionou de vez os negócios.

“Para isso, nós participamos de feiras, com o apoio do Sebrae, os maiores eventos do País de decoração, eventos no exterior. Foi de muita importância essa nossa parceria” afirmou.

Atento a essas transformações, o Sebrae garantiu que o comércio eletrônico surgiu em um momento de crise em algumas empresas que corriam risco de falências. A transformação digital impulsionou os negócios e contribuiu para o novo boom econômico de São Bento.

O gerente de relacionamento digital do Sebrae Paraíba, João Jardelino, afirmou que a entrada no comércio eletrônico foi uma saída inteligente para não apenas sobreviver à redução do volume de vendas, como também conquistar novos clientes.

Para isso, ele destacou que é importante, principalmente para aqueles que já estão atuando no comércio eletrônico, aprofundar o conhecimento do mercado digital, entendendo o perfil desse consumidor e como ele se comporta.
“Para aumentar as vendas através deste canal também é essencial organizar melhor a loja on-line, com layout e fotos de qualidade, além de aperfeiçoar as estratégias de marketing digital para impulsionar a visibilidade do negócio e dos produtos”, observou.

Migrar para o mercado virtual requer estratégias, planejamento e boas consultorias, conforme destacou João Jardelino. Ele lembrou que o Sebrae já vem há algum tempo incentivando os empresários, principalmente, os pequenos negócios a terem atenção às estratégias para atrair outros mercados e ampliar os negócios.
João Jardelino observou que a pandemia acelerou o processo de digitalização e transformação digital dos pequenos negócios. Em São Bento não foi diferente.

“O Sebrae tem produtos e mecanismos que podem apoiar o pequeno negócio no período de transição para o digital”, observou em entrevista por telefone.

O gerente foi enfático ao ressaltar que mesmo incentivando os pequenos empresários a aderir aos canais digitais, o Sebrae não exclui os negócios presenciais. A ideia é oferecer mais opções ao cliente, principalmente ao público rigoroso que exige eficiência, qualidade e rapidez na entrega dos produtos. Isso porque o mercado digital possibilita ao microempresário ampliar o raio de alcance dos seus clientes.

“Quando a gente parte para o digital, ganha uma capilaridade enorme. Com isso o micro empresário não estará apenas vendendo para São Bento e região do Sertão. Ele vende para o mundo. O cliente hoje quer comodidade. Quer de sua casa poder comprar. E o pequeno negócio tem que dar essa condição para o empresário “, disse.

 

O gerente observou ainda que para garantir o êxito nos negócios, os empreendedores precisam utilizar as estratégias corretas, como fez muitos microempresários de São Bento. Essas estratégias, passam por pesquisa de mercado, perfil dos clientes, o marketing a ser utilizado, e definição dos canais em que os produtos serão anunciados, seja via instagram, facebook ou whatsApp.

“Eles precisam ter uma série de estratégias também para o digital, que precisa ser observada para ampliar as vendas, como fez muito bem o pessoal de São Bento, alavancando as vendas em mais de 400%”, destacou.

João Jardelino lembrou que o Sebrae tem uma série de ações que podem ampliar os pequenos negócios, como incentivo através de capacitações mais simples e oferecidas gratuitamente; consultorias mais estratégicas com a realização de curso de marketing digital, consultoria voltada para o setor, e incentivo a feiras digitais, entre outras ações.

Ferramentas estão disponíveis, mas o empresário precisa ter o interesse em migrar para negócio digital e desbravar novos horizontes. Conquistar novos mercados.

 

Exemplo de cooperação

No Sertão da Paraíba, Santa Luzia Redes e Decoração é um dos grandes exemplos de como parcerias e cooperação podem render frutos e tornar pequenos negócios em gigantes no mercado. E, mais uma vez, o Sebrae foi decisivo para a expansão desses negócios.

O PB Agora conversou com o dono da empresa, Armando Dantas. Homem simples, com grande sabedoria e visão de mercado, o empresário apontou alguns dos fatores que ele acredita ter sido fundamental para o sucesso da empresa. O grupo é a única rede do mundo a conquistar o Prêmio de Reconhecimento pela Excelência Artesanal validado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Não teve fórmula mágica. Armando Dantas atribui o sucesso ao empenho da equipe, dos colaboradores diretos, das artesãs, que com os seus dons, agregam arte e sentimento aos produtos que encantam os clientes, os produtores rurais da agricultura familiar, que cuidam dos campos de produção do algodão colorido e orgânico.
Um dos fatores apontado por Armando para o sucesso da empresa foi o Sebrae. Segundo ele, o Sebrae foi decisivo quando todos pensavam que a falência seria inevitável devido a pandemia.

“A maioria de nós empreendedores pensávamos que o mundo acabaria com a pandemia. Mas pelo contrário, nós nos reinventamos e investimos em parceria com o Sebrae e chegamos a aumentar as vendas em até 400%”, revelou.

Enfático, ele também reconhece que o Sebrae foi fundamental para o setor superar o momento de crise, oferecendo consultorias financeiras, para inovação de designer e consultorias de mídias digitais.

“Eu asseguro que o Sebrae é um grande parceiro. Muito necessário. E se não fosse essa nossa parceria com o Sebrae, eu diria que o caminho teria sido mais longo. Talvez nós não estivéssemos na estação que nós estamos nesse momento. O que eu me orgulho, é que na nossa cidade tem um posto do Sebrae” destacou.

A história da Santa Luzia Redes e Decoração começou em 1985, quando Arnaldo Dantas foi estagiar em uma fábrica de São Bento para conhecer o processo de produção. Depois, usando um carro comprado pelo sogro, foi vender redes em algumas praias do Nordeste como Itamaracá-PE e até Manaus. A empresa iniciou as operações com uma pequena estrutura de produção, focada, inicialmente, em lojistas e vendedores ambulantes.

Hoje, possui uma capacidade de produção de aproximadamente 160 mil metros de tecidos mensais, que são utilizados como base para a fabricação dos mais diversos produtos, desde redes, mantas, almofadas, cortinas a tapetes.

A estrutura comercial da empresa é composta por quatro lojas próprias nas cidades de Natal (RN), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), e duas franqueadas em Brasília (DF), e Valparaíso em Goiás, na Chapada dos Veadeiros que colaboram para que os produtos estejam presentes nas principais redes varejistas do país, levando as redes de São Bento a conhecimento nacional.

Segundo o Diretor Executivo, Armando Dantas, as atividades da empresa criam oportunidades de trabalho na região, já que os produtos têm início de produção na empresa, mas são finalizados artesanalmente fora da fábrica, o que colabora para a inserção de pessoas de áreas rurais, onde não há outras fontes de renda, no mercado de trabalho. São as mulheres rendeiras que tecem a lã e colaboram na produção das redes de dormir e mantas.

“Temos a preocupação de promover a inserção da cultura por meio do artesanato. Estes profissionais, principalmente mulheres que trabalham em suas próprias casas, inserem as varandas e o mamucabo, entre outros adornos e acessórios” disse.

A produção das redes, movimenta toda uma cadeia. Nas fábricas estes produtos são embalados e etiquetados e distribuídos por transporte rodoviário, aéreo ou, no caso de exportação, principalmente por via marítima, em contêineres.

Toda essa engrenagem gera emprego e renda. São 120 colaboradores direito, mais de 600 indiretos que são os artesãos e os produtores da agricultura familiar, com previsão de aumento neste ano devido à expansão do plantio do algodão.

Hoje, a Santa Luzia Redes e Decoração exporta para cerca de 23 países de todos os continentes. De acordo com Armando Dantas, o Sebrae na Paraíba esteve presente na ajuda dessa evolução e até hoje proporciona esse relacionamento internacional com a participação em eventos pelo mundo todo.

Ele garante que a qualidade do produto vendido para o exterior para agradar a um público exigente, é a mesma comercializada no mercado interno.

“Em relação a qualidade dos nossos produtos vendidos em outros países, é a mesma do que nós apresentamos ao nosso consumidor local. Até porque, nós buscamos excelência. Não tem diferença. Do que jeito que produzimos um produto especial para o mercado interno, o mesmo vai para o mercado externo. Às vezes a diferença é só de designer”.

Fios de vida

Fios que tecem história, que mantêm a tradução, geram negócios e garantem a sobrevivência de muitas famílias. Artesãs, que com os seus dons agregam arte e sentimento aos produtos que encantam os clientes, fazendo varandas, mamucabo, entre outros adornos.

Com largo sorriso, a artesã Neta Vieira, garante que parte da rede é feita de forma manual e requer paciência e capricho. “Aqui a gente faz tudo artesanal e com muito amor”, disse a artesão, que acompanhou parte da evolução da cidade.

O mesmo sentimento move Danielle Gomes, uma das artesãs da Rede Santa Luiza. Ela aprendeu o ofício de sua mãe, Rosemaria Dias, que segue tecendo os fios que impulsionaram o desenvolvimento na região.

“O artesanato faz parte de nossa vida. Hoje eu tenho oportunidade de trabalhar em casa e ter uma boa renda. Tudo aprendi com a minha mãe”, relatou.

Sustentabilidade ambiental, inovação e uso adequado dos recursos naturais. Incentivados pelo Sebrae e outros parceiros, muitos empreendedores de São Bento, a exemplo da Santa Luzia Redes e Decoração, alia a sustentabilidade ambiental com inovação, por meio de suas produções baseadas na reciclagem de fios e na cultura do algodão colorido sem uso de aditivos ou corantes. Tudo ecologicamente correto.

Como o cultivo não é irrigado e o tecido não é tingido, gera economia de 87,5% de água na cadeia produtiva do campo ao produto acabado.

Mãos que plantam, que colhem e tecem a lã. A produção de redes de dormir com mão de obra artesanal conta com uma característica quase única de cada peça e assim agrega muito mais valor. Antes de chegar no produto final, existe todo um processo com a matéria prima. A automação não eliminou o fator humano na produção das redes.

O processo de produção envolve a cultura do algodão colorido em sistema de agricultura familiar. Nestes locais há o descaroçamento. As plumas são enviadas para uma fiação que transforma estas fibras em fios. Na fábrica é feito o urdimento, a tecelagem e o desenvolvimento dos produtos.

O algodão colorido orgânico é uma das principais matérias-primas usadas pela fábrica que produz artigos têxteis de decoração: redes de descanso, mantas, entre outros, para abastecer o mercado nacional e internacional.

A produção de algodão orgânico do grupo Santa Luzia se concentra nos municípios de Brejo do Cruz, Belém do Brejo do Cruz, São Bento e São José do Brejo do Cruz, cultivados em sua maioria por comunidades quilombolas, em sistema de agricultura familiar, com uma produtividade média de 1.200 quilos de algodão por hectare. Segundo o empresário, cerca de 180 pessoas estão envolvidas na produção. Boa parte do algodão natural e orgânico  também é produzido em parceria com os agricultores do assentamento Maria Margarida Alves, em Juarez Távora.

Compromisso com o social

O caminhão que chega carregado de sementes de algodão, e com agricultores, marca a realização de um sonho. E a reconstrução de vidas e histórias. O compromisso com o social é uma das marcas da Rede Santa Luzia. Recentemente o grupo resolveu ampliar os negócios, com o plantio do algodão em Itatuba, beneficiando produtores atingidos com a construção da barragem de Camará.

O Projeto Agrovila Águas de Acauã conta com efetiva participação das mulheres agricultoras, e consiste no plantio de culturas consorciadas de algodão, milho e feijão do roçado coletivo. A proposta, conforme destacou Armando, visa fazer uma reparação histórica a famílias que foram impactadas pela Barragem de Acauã e que, havia 20 anos, aguardavam solução. Tudo é cultivado de forma orgânica, em mais de 16 hectares, o que garante segurança alimentar e renda com a comercialização de parte da produção.

A Rede Santa Luzia fornece a semente e garante a compra do algodão. No contato com o PB Agora, Armando se emocionou ao lembrar da concretização do projeto.

“Realmente para mim esse foi um momento ímpar e ficará marcada em nossas lembranças pela oportunidade de estarmos juntos neste momento na comunidade do Projeto Agrovila Águas de Acauã, com a parceria da Empaer, Governo Estadual, Prefeitura Municipal de Itatuba, Sebrae, Embrapa, Senai, e outros parceiros. E se Deus permitir, com a fé, a força de vontade das Famílias que estarão retornando em breve após a reconstrução de suas moradias e reestruturação de toda Agrovila” afirmou.

Ele disse que estava feliz em fazer parte do resgate da cultura do Projeto do algodão da Paraíba agroecológico, especialmente, contribuindo para a reconstrução de vidas de muitas famílias, atingidas com a construção da barragem.

“Estamos juntos buscando inclusão social, dignidade, oportunidade e uma nova proposta de vida, para as famílias que almejam terem a independência através do trabalho e suor deles próprios, para mim esse momento é de muitas bênçãos e grande realização como ser humano, vendo as ações da nossa missão que antes era um sonho, agora se concretizando e muito fortalecida” relatou.

O início

São Bento é destaque na produção de Redes de dormir, e surge como exemplo para ampliar a inclusão e mão de obra local e a valorização dos produtos fabricados por sua população.
A cidade iniciou esse ciclo comercial em meados do século passado e até os dias de hoje a atividade de tecelagem artesanal desses produtos e sua comercialização é passada de pai para filho, fazendo com que se torne não somente comercial, mas também intrínseco na cultura local.

 

A relação de São Bento com as redes começou antes mesmo da emancipação da cidade, em 1959. As famílias estabelecidas na região já trabalhavam com fabricação de redes em teares manuais, e vendiam a produção como ambulantes. A profissão foi passada de geração em geração, e, com o surgimento da Internet e das vendas on-line, o comércio cresceu.


As primeiras redes de forma artesanal foram fabricadas na década de 30. Os fabricantes vendiam os produtos em cidades como Paulista, Pombal, Sousa, Serra Negra montado no lombo dos jumentos. As pessoas passavam até três meses para fabricar uma rede.

O primeiro vendedor de sede saiu da cidade em uma camionete em 1964 e se deu bem. Depois dele, muitos outros vendedores romperam fronteiras, expandiram o negócio e conquistaram novos mercados.
Hoje São Bento é exemplo de uma cidade com um povo obstinado, que planejou e mostrou ser possível mudar a realidade através do desenvolvimento regional.

Severino Lopes
PB Agora

 

 

 

 

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