É preciso separar duas coisas sobre o tarifaço de Trump: 1) o argumento da justiça equitativa, e 2) as consequências econômicas.
1) Justiça equitativa: o Brasil, como outros países, é uma típica economia fechada por barreiras tarifárias e não tarifárias. Há décadas, os donos do poder – amigos de governos e de parlamentares – mantém barreiras econômicas sob o argumento de proteção da indústria nacional.
Os EUA querem retaliar na proporção que são taxados. Trata-se de uma lógica medonha: “se você me taxa, é justo que eu te taxe na mesma medida”. No mundo ideal, o Brasil reconheceria que tem uma economia fechada e derrubaria várias de suas barreiras, encontrando ponto de equilíbrio nas negociações. Para isso, os donos do poder precisariam abrir mão da proteção estatal. Obviamente, essa não é uma opção!
2) Consequências econômicas: recentemente, eu assisti ao filme “Reagan” no Prime Video. A principal característica do presidente Reagan foi uma atitude cosmopolita de forte oposição ao socialismo soviético. Sua visão era que abertura comercial e influência americana trariam prosperidade ao mundo, enfraquecendo a União Soviética até o seu colapso total. Ele estava certo!
Por sua vez, Trump está estreitando o mundo e fortalecendo o papel político da China. À marteladas, ele quer resgatar uma América pré-Reagan: trabalho industrial para o americano médio com baixa capacidade produtiva. Em uma era de robotização da indústria e de inteligência artificial, tarifas “reacionárias” encarecerão a produção e aumentarão a inflação.
O resultado é protecionismo e mais protecionismo estreitando o mundo ocidental, enquanto a China se fortalece como parceiro econômico. A política de libertação de Trump, na verdade, é uma declaração de guerra contra parceiros comerciais. Como será a nova ordem econômica com os EUA como inimigo?