Analistas se dividem entre voto de confiança e críticas ao exame do Enem
Professores, educadores e representantes de universidades ouvidos pelo R7 se dividem entre dar um "voto de confiança" ou criticar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), após a aplicação da prova, no último sábado (6) e no domingo (7).
A razão são os problemas ocorridos durante o exame, como a distribuição de cadernos de avaliação com questões repetidas e a inversão ocorrida no cabeçalho da folha de respostas dos estudantes – onde deveria estar escrito "ciências da natureza", uma das quatro grandes áreas exigidas pelo Enem, lia-se ‘ciências humanas" e vice-versa.
O Inep (instituto do Ministério da Educação responsável pelo Enem) vai permitir que todos os vestibulandos que se sentiram prejudicados com o problema no cabeçalho possam pedir a partir desta quarta-feira (10) a correção invertida do gabarito. Os pedidos poderão ser feitos pelo site do Enem
Vice-presidente da Abruem (Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais), João Carlos Gomes avalia que o erro de impressão no cabeçalho não é suficiente para querer que o exame seja anulado.
O problema de impressão "não deve ter trazido prejuízo, desde que os fiscais tenham alertado" dentro das salas de aula para que a informação incorreta fosse ignorada, afirma o vice-dirigente da entidade.
A ordem das 90 questões cobradas no sábado não estava invertida no cartão de respostas, lembra Gomes, que também é reitor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) – se o estudante continuasse a fazer a prova, ele responderia corretamente.
– A correção invertida, opção oferecida pelo Inep, também minimiza o efeito […]. Se houve orientação dos fiscais para que fosse sanado o problema, o equívoco de impressão não altera em nada o resultado da prova.
A opinião é compartilhada por Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Cursinho Objetivo. Ela espera que todos os casos de estudantes que se sentiram prejudicados "sejam resolvidos", e diz que o Enem "merece um voto de confiança" apesar dos problemas enfrentados.
Para ela, é um avanço que muitos vestibulares tenham sido unificados em torno de apenas uma prova, por mais que a maioria das instituições públicas que participam do novo formato de processo seletivo seja formada por federais. Vera, entretanto, assinala que todos os erros "devem ser investigados" e os problemas resolvidos.
– É muito sério o que aconteceu, principalmente com o cabeçalho. Por causa de um erro bobo, o estudante pode se confundir na hora de passar a limpo a resposta de suas questões no gabarito. Imagina a situação para um vestibulando, que sofre pressão para ser aprovado, que quer uma vaga em universidade. De repente, ele descobre que todo o seu cartão de provas está errado. Como fica?
Questões repetidas
O problema com o caderno de prova amarelo, que trouxe exemplares com questões repetidas, folhas duplicadas ou em branco não passou despercebido pelos cursinhos. Sobraram cobranças e críticas ao MEC. Célio Tasinafo, diretor pedagógico do Oficina do Estudante, com sede em Campinas (interior de São Paulo), afirma em nota oficial que o Inep não pode "colocar a responsabilidade da correção na mão dos estudantes".
Na opinião de Tasinafo, o governo deve criar um mecanismo para verificar erros como os ocorridos na prova, ou então que ocorra uma nova avaliação, para garantir que os estudantes terão as mesmas chances de serem aprovados – a chamada isonomia.
Fontes próximas às reitorias das universidades federais, ouvidas pelo R7, concordam com a avaliação de Tasinafo. Elas afirmam que o fato de uma pergunta ser impressa repetidas vezes no caderno do Enem confunde o estudante, que perde tempo.
– O aluno tem três minutos por questão. Ele a vê repetida, lê uma vez, lê duas para ver se tem algum erro e gasta tempo. Faz muita diferença para quem está tentando uma vaga em medicina, por exemplo, em que cada questão perdida é fatal.
O momento é de refletir "com calma e cuidado" sobre os problemas do Enem e chegar a soluções definitivas, na opinião de um funcionário com cargo alto em reitoria de universidade federal e que falou ao R7 sob condição de anonimato.
– Não sabemos o tamanho do problema. Em um ano, não conseguiram [preparar uma prova sem erros]. Se o aluno conseguir provar que a isonomia de sua prova foi quebrada devido aos problemas, pode entrar com uma ação na Justiça.
O MEC (Ministério da Educação) cogita reaplicar a prova para estudantes que foram prejudicados por problemas no caderno amarelo. Joaquim Soares Neto, presidente do órgão responsável pelo Enem, afirma que será feita uma análise para saber o tamanho do problema e, a partir daí, decidir se será necessária ou não a realização de um novo exame. Segundo ele, "nenhum estudante vai ser prejudicado pelas falhas ocorridas".
A nova prova poderia ser realizada junto com o exame que será aplicado aos presidiários, nos dias 6 e 7 de dezembro, ou em um final de semana próximo a essa data, segundo apurou o R7.
R7