Após 11 dias sem poder trabalhar no seu setor de trabalho, os funcionários do Gabinete da Reitoria retornaram às suas atividades administrativas normalmente nesta semana após desocupação do local por parte do comando de greve, na última sexta-feira (6). Com o restabelecimento da normalidade no setor, todo o andamento do trabalho da Secretaria dos Conselhos Superiores, da Secretaria do Gabinete, da Chefia de Gabinete e da Reitoria foi retomado com o encaminhamento de processos, despachos e demais atividades.
Conforme destacou o vice-reitor Etham Barbosa, com a ocupação a agenda de atividades do Gabinete ficou contingenciada, porque as atividades tiveram que ser remanejadas, mas, agora, o trabalho volta a ser otimizado, o que beneficia a todos. “A agenda que estava pré-organizada em receber pessoas, entidades, despachar processos que se dão a priori nos espaços específicos, como a própria Secretaria, que é os braços e as mãos da Reitoria, logicamente ficou prejudicada diretamente, assim como a função do reitor e do vice-reitor, que ficou itinerante. Agora, tudo volta a ser normalizado”, disse.
O reitor da Instituição concedeu uma entrevista e falou sobre os prejuízos causados pela greve dos professores. Ele também destacou a necessidade de bom senso da categoria para decidir sobre a volta ao trabalho para ser possível debater com toda a comunidade acadêmica e sociedade paraibana os rumos da Instituição. Confira a entrevista na íntegra:
Imprensa– O comando de greve contesta a sua afirmação de que 99% da pauta de reivindicações apresentada foi atendida. Efetivamente, o que foi reivindicado pelos professores e qual a resposta da Reitoria para as demandas apresentadas?
Rangel Junior – Concurso público: fiz um acordo com o Sindicato e a proposta foi completamente ajustada para realização de concursos para docentes nos próximos anos. Temos 38 vagas de concurso com edital aberto, pessoas inscritas, e não podemos realizar as provas porque o comando de greve boicota e exige que não faça. Ou seja, um contrassenso. Infraestrutura: apresentamos um plano completo para resolver problemas relacionados aos câmpus, espaço físico, laboratórios e assim por diante.
Não estamos podendo executar estas ações por causa da própria greve que ao longo de praticamente todo ano de 2015 tomou conta da parte administrativa da Universidade, inclusive na execução do orçamento. Contrato dos professores substitutos: fizemos um acordo e todas as propostas apresentadas estão sendo encaminhadas para quando terminarem os contratos dos substitutos.
Revisão da legislação sobre cargos docentes: vamos apresentar proposta discutida com o Sindicato. Mesa técnica interna: tudo está aberto, todos os dados, todos os números da Universidade estão abertos para o Sindicato e sempre estiveram. Então nem adianta negociar isso agora porque já é uma realidade. Assistência estudantil: negociamos tudo com os estudantes. Resolvemos ampliar em 10% a quantidade das bolsas estudantis e em 15% o valor dessas bolsas para o ano que vem.
Está tudo acertado e os estudantes estão satisfeitos. Não vejo o que mais fazer. Inclusive propusemos um reajuste, mesmo sem eles terem colocado na reivindicação, no auxilio alimentação, para o ano que vem, de acordo com a inflação do ano de 2015. A pauta salarial não adianta ficar insistindo na mesma tese, porque ela não é prerrogativa do reitor da UEPB. Eles sabem disso. São professores, todos graduados, boa parte com doutorado.
Portanto, sabem ler. Não preciso ficar repetindo obviedades o tempo inteiro, porque eles têm documento dizendo que não é responsabilidade do reitor discutir salário. Portanto, a única coisa de fato que mantém a greve é a questão salarial que, na verdade, foi o que motivou a greve desde o seu início. Ou seja, a pauta salarial motivou a greve, continua motivando e é realmente a única questão que trava para que o pessoal termine a greve. Já travava desde o início. Portanto, o bom senso indica que a melhor atitude a tomar é encerrar a greve para que a gente possa retornar às atividades e dialogar com a comunidade como um todo.
Imprensa – Na sua avaliação, o que falta para os professores decidirem pela volta ao trabalho?
RJ – Há uma maioria dos professores que está completamente alijada do processo de debate e do processo decisório. Considero, na condição de sócio, uma medida desproporcional, e até descabia, em um momento de greve, aposentado poder votar por uma greve que ele não vai fazer. Tem pessoas aposentadas, inclusive, no comando de greve. Mas o professor da ativa da UEPB, que não seja sócio do Sindicato, não pode votar. Quer dizer: existem aproximadamente 900 professores da Universidade que têm que acatar uma greve da qual eles não tem o poder de decidir, porque não são filiados ao Sindicato.
Então, acho que tem algo de fato de estranho, de errado, porque a greve é da Universidade como um todo, é da categoria como um todo. Sendo da categoria, por que somente os sócios do Sindicato podem decidir? Uma coisa é votar na eleição do Sindicato, outra coisa é uma decisão que implica em uma determinação para que todos cumpram. Ou seja, a maioria então não pode decidir? Então acho que é uma coisa que precisa ser reavaliada para que esta maioria que tem estado silenciosa possa se manifestar.
Imprensa– Uma vez as atividades voltando ao normal, como a Administração Central da UEPB irá agir para recuperar os prejuízos causados pela greve e reorganizar a vida acadêmica e administrativa da Instituição?
RJ – Temos muitas medidas a serem tomadas e medidas duras daqui por diante, que vão naturalmente repercutir os prejuízos da greve. Vamos ter que fazer mais cortes em alguns pontos, porque o mundo está em crise, o Estado está em dificuldade financeira, o Brasil está em crise, e a UEPB logicamente recebe essa carga. Só um raciocínio muito ingênuo é que tenta não perceber que existe uma situação real estabelecida. Pagamos também o preço das dificuldades da crise. Temos prejuízos que são irrecuperáveis. Atendimentos deixaram de ser feitos. Mais de 10 mil pessoas que tinham atendimento nas clínicas de saúde, mas não receberam esse atendimento e isso não se recupera mais. As aulas que foram perdidas vão ser recuperadas, mas no semestre letivo em termos de qualidade há um prejuízo também incalculável.
Temos que reavaliar a questão da entrada de estudantes na Universidade. Se vamos manter duas entradas para o ano de 2016, porque três semestres em um ano é impossível. Vamos ter que reavaliar se vamos absorver de novo 5.700 estudantes com as duas entradas. Isso será reavaliado. Vamos abrir um debate com a sociedade, porque a Universidade é de todos. Vamos debater o tamanho da UEPB que o Estado da Paraíba quer e a qualidade da Universidade que o Estado da Paraíba quer.
O povo da Paraíba precisa discutir se a UEPB deve continuar com oito câmpus, porque o orçamento que temos cada dia mais comprime a UEPB, a não ser que nós cheguemos a uma conclusão de que temos que desmontar os cursos de pós-graduação, de que temos que desmontar câmpus universitário, que temos que reduzir o número de vagas. Ou então fica como está e deixamos a qualidade cair ao limite do chão. É um debate que precisamos de fato travar com a comunidade.
Com relação ao semestre letivo, assim que a greve termine vamos levar para o Consepe avaliar todo o conjunto e ver a possibilidade de terminar um semestre e reabrir outro período letivo, porque tem o recesso obrigatório, tem as férias, que mesmo depois desse tempo todo parado provavelmente as pessoas vão reivindicar imediatamente tirar as férias. Então vamos dialogar sobre isso também e ver como repor parte do prejuízo que foi causado a sociedade e a comunidade universitária.
Imprensa– Após 11 dias de ocupação do Gabinete da Reitoria, o comando de greve resolver desocupar o setor. Como o senhor avalia o que ocorreu e a decisão de desocupar o Gabinete?
RJ – Considero que foi importante a saída do pessoal. Revela que eles fizeram uma autocrítica acerca da atitude que haviam tomado. Parabenizo a todos por isso, porque revelou que o bom senso atingiu também ao pessoal que estava ocupando o Gabinete. E acho que é importante, porque vínhamos até então dialogando de forma democrática e muito tranquila, chegando a um entendimento acerca de tudo aquilo que vinha sendo discutido com a Reitoria.
Por isso me causou surpresa, estranhamento, e me senti de fato constrangido, porque foi um constrangimento para mim. Portanto, a devolução da Reitoria para quem de direito é um ato importante e permite que a gente volte a continuar dialogando como vínhamos fazendo antes, ao longo de três anos. Acho que este é o fator principal, para que a rotina volte, e espero que esse bom senso possa repercutir em outras decisões daqui para a frente, principalmente no sentido de pôr fim à greve.
Os docentes programaram uma nova assembleia para esta terça-feira e podem decretar o fim do movimento grevista.
Redação com assessoria