O ano era 1987. O Brasil, ainda sob os tempos sombrios da ditadura, começava a respirar novos ares, com a instalação da Assembleia Constituinte. O período era de mudanças. Na economia, o país atravessava uma recessão sem precedentes com a hiperinflação que chegou à marca 366% ao ano. A implantação dos planos Bresser seguido do Cruzado, tentavam reduzir e estabilizar a inflação para um patamar sustentável para a economia brasileira.
A crise econômica inevitavelmente se refletia na educação. Na Paraíba, a recém-criada Universidade Regional do Nordeste (URNe), agonizava apesar dos seus 21 anos de criação. Os dias eram de incerteza, nebulosos. Neste contexto, um forte movimento envolvendo professores, estudantes e técnico-administrativos surgiu com o intuito de salvar a instituição através da estadualização. Não havia outra saída.
Graças a tenacidade dos protagonistas daquele movimento épico, o sonho foi realizado e a estadualização da URNe conquistada no dia 11 de outubro de 1987 mudou os rumos da instituição. Nesta quarta-feira (11), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) celebra seus 35 anos de Estadualização, um marco e segundo momento mais importante da Instituição, desde a sua criação como Universidade Regional do Nordeste, em 1966, há 56 anos.
Muita coisa mudou desde esse ato histórico, assinado pelo então governador Tarcísio de Miranda Burity. A então deficitária URNe ganhou fôlego e oxigênio para garantir um ensino público gratuito de qualidade, e avançar na tríplice missão do Ensino, Pesquisa e Extensão. Nesse período o mundo passou por profundas transformações políticas e econômicas, nas artes e na produção científica, com destaque para os avanços na tecnologia e o aprimoramento da técnica que ajudaram a minimizar os efeitos da pandemia que ceifou milhares de vidas.
E a UEPB acompanhou essa evolução e escreveu o seu nome na história, principalmente nos momentos mais dolorosos. Basta ver os projetos desenvolvidos pelo Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes), usando a tecnologia e a inteligência, que ajudaram a rede pública de saúde no enfrentamento da pandemia. Ao todo, Nutes desenvolveu nove projetos ligados diretamente ao combate à covid-19, a exemplo do protetor facial, dispositivos de videolaringoscopia para evitar óbitos, ventilador pulmonar mecânico para controlar a insuficiência respiratória, entre outros.
Nessa travessia de sonhos, conquistas e perdas, a UEPB resistiu os ventos contrários as tempestades dos sistemas políticos e econômicos celebrando seu 35º aniversário de Estadualização como uma Universidade pujante, de vanguarda, com muita altivez, genuinamente paraibana, feita para os filhos dos trabalhadores do estado.
A Estadualização, conquistada por meio da Lei nº 4.977, abriu caminho para outros marcos nessa história, a exemplo do reconhecimento pelo Conselho Nacional de Educação do MEC, em 1996, tornando a UEPB uma Instituição de Ensino Superior consolidada e definitiva, e a conquista da autonomia financeira, por meio da Lei Estadual nº 7.643 em 2004, que inaugurou uma nova fase na história da Instituição. Patrimônio da Paraíba, presente em nove cidades do Estado, com 12 Centros, a UEPB está entranhada com a história do povo paraibano.
Praticamente, em todos os 223 municípios da Paraíba há a marca da Instituição, formando profissionais nas diversas áreas do conhecimento, realizando sonhos e impulsionando desenvolvimento. Mais de 70% dos estudantes da Instituição são egressos de escola pública, sendo a grande maioria da Paraíba, conforme destacou o pró-reitor de Graduação, o professor Eli Brandão. “As IES públicas têm um modelo de ingresso plenamente democrático e inclusivo. Na UEPB, cerca de 70% são egressos de Escola Pública, sendo a grande maioria da Paraíba”, destacou o professor Eli.
A Instituição nasceu no solo fértil da Rainha da Borborema e rapidamente se expandiu, estando presente atualmente com Câmpus instalados nos municípios de Campina Grande, Lagoa Seca, Guarabira, Catolé do Rocha, João Pessoa, Monteiro, Patos e Araruna. Nessas cidades, a UEPB tem cumprido a missão de formar cidadãos críticos e socialmente responsáveis, através da produção e transmissão do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento educacional e sociocultural da Região Nordeste e, particularmente, da Paraíba.
Inclusão, igualdade racial, dignidade, defesa dos direitos humanos, promoção da equidade étnico-racial e justiça social. Com esse olhar humanitário, a Universidade que integra a rede de IES, incorporou um modelo inclusivo, ao implantar a partir deste ano, a política de reservas de vagas, garantindo o acesso aos cursos de Graduação e Pós-Graduação da Instituição as pessoas indígenas, ciganas, negras, quilombolas, portadoras de deficiências, com vulnerabilidade socioeconômica, transgênero, travestis e transexuais.
Ensino de excelência
Ensino de qualidade, nível de excelência. Em 35 anos de estadualização a UEPB tem se notabilizado pela qualidade dos cursos de graduação ofertados nas diversas áreas do conhecimento. Os profissionais formados na Instituição têm se destacado no mercado de trabalho, não apenas na Paraíba, mas em diversos estados do País e até no exterior.
Além de atuar como mola propulsora do desenvolvimento, a UEPB oferece ensino de qualidade para mais de 16 mil alunos, em 55 cursos de graduação nas áreas da Saúde, Ciências Exatas, Tecnologia, Ciências Humanas e Sociais, e recebe cerca de três mil novos alunos a cada ano.
Pós-graduação consolidada
Os números são expressivos e traduzem a consolidação dos programas. A pós-graduação de hoje é bem diferente da de três décadas atrás. O significativo salto nos programas é perceptível com uma pós-graduação em expansão e cada vez mais consolidada. A Instituição oferece, ao todo, oito doutorados e 26 mestrados aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (Capes), 14 cursos de especialização, totalizando 48 cursos na pós-graduação. Além de quatro cursos técnicos ofertados em duas escolas, e diversos cursos de graduação e pós-graduação disponibilizados no formato de EaD.
O pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, Francisco Jaime destacou a evolução da pós e lembrou que a Instituição chega aos 35 anos de estadualização, fortalecida. Ele ressaltou que “apesar dos seus 56 anos, o sistema de pós-graduação da UEPB é muito mais recente, e seu primeiro curso, o Mestrado em Literatura e Interculturalidade, só teve o credenciamento pela CAPES há 17 anos, em 2005, dentro de um contexto nacional de reforma universitária iniciada pelo MEC e num contexto institucional favorável após a aprovação da Lei de Autonomia”, explicou.
Francisco Jaime acrescentou que neste contexto a UEPB iniciou um processo de reestruturação, e reorientação, que visou a identificação de suas vocações e suas potencialidades instaladas, consolidando grupos de pesquisa, investido na formação e contratação de professores doutores, que gradativamente resultou em sucessivos credenciamentos de outros cursos de pós-graduação stricto sensu pela Capes.
“Essa reestruturação permitiu a UEPB hoje ter um sistema de pós-graduação recente, porém robusto, composto por mais de 300 docentes e 1.500 estudantes, distribuídos em 26 cursos de mestrado e oito doutorados, dos quais 4 apresentam nota 5, e 1 com nota 6, numa escala que vai até nota máxima 7, segundo a última avaliação divulgada pela Capes, numa escala que vai até nota máxima 7”, destacou.
A Extensão aproxima a Universidade da sociedade
Uma universidade sem muros e sem fronteiras e acessível a todos. Se na área da Pesquisa se consolidou nesta travessia de 56 anos de criação, 35 de estadualização, 25 de reconhecimento pelo MEC e 18 de autonomia, a Extensão deu largos passos, aproximou ainda mais a UEPB da sociedade, através dos serviços ofertados gratuitamente à população por meio dos projetos e programas de extensão. Os conhecimentos produzidos em sala de aula se transformaram em ações concretas na área da saúde, meio ambiente e educação.
Ao todo, a extensão na UEPB tem atualmente em funcionamento 33 Programas e 456 Projetos, sendo 438 com bolsas e 18 sem bolsas. As áreas que mais possuem projetos são na Saúde, Educação e Meio Ambiente, abordando temas como sustentabilidade e uso adequado e preservação dos recursos naturais. Em média, 993 professores e 1.812 alunos estão envolvidos nas atividades extensionistas da Instituição, além de mais de 600 projetos de Iniciação Científica em plena execução.
A pró-reitora de Extensão, professora Socorro Barbosa, ressaltou que um dos objetivos e dever da Universidade é a capacidade de atender o que a sociedade anseia de maneira a satisfazer suas necessidades, problemas, atribuir melhorias, entre diversos benefícios. A extensão universitária, segundo ela, possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes, como prática acadêmica que interliga a Universidade nas suas atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da maioria da população.
“A extensão universitária é imprescindível para a democratização do acesso a esses conhecimentos, assim como para o redimensionamento da função social da própria Instituição. Uma das principais funções sociais da Universidade é a de contribuir na busca de soluções para os graves problemas sociais da população, formulando políticas públicas participativas e emancipadoras”, enfatizou.
No ano em que a UEPB completa 35 anos de estadualização, a Universidade comemora o fato como uma Instituição de excelência no campo da Extensão Universitária na região Nordeste. A pró-reitora explicou que essa afirmação se verifica pelos números e pela abrangência geográfica, e mais recentemente, pelas referências que outras instituições tem feito à UEPB no que se refere ao processo de discussão e amadurecimento do quadro normativo em torno do processo de curricularização da extensão.
Socorro Barbosa lembrou que a UEPB tem serviços ofertados de forma gratuita relacionados com as atividades desenvolvidas em torno de projetos coordenados por docentes efetivos ou técnico-administrativos efetivos, através de programas; eventos, prestação de serviços como consultoria contábil, assessoria jurídica, atendimentos fisioterapêuticos, odontológicos, psicológicos, laboratoriais; publicações e produtos acadêmicos como material didático, cartilhas, folders, manuais, artísticos, culturais e audiovisuais, com poesia, música, teatro e cinema.
Em praticamente todas as linhas de extensão, são 53 ao todo, existem projetos e programas da UEPB sendo executados em conexão com a educação básica. Destacam-se as linhas de alfabetização, leitura e escrita, educação profissional, formação de professores, espaços de ciência, metodologias e estratégias de ensino/aprendizagem, línguas estrangeiras, tecnologia da informação, artes cênicas, artes integradas, artes plásticas, artes visuais, mídias, música, patrimônio cultural, histórico e natural, comunicação estratégica, jornalismo, desenvolvimento regional, desenvolvimento urbano, inovação tecnológica, questões ambientais, direitos individuais e coletivos, grupos sociais vulneráveis, pessoas com deficiências, incapacidades e necessidades especiais, uso de drogas e dependência química, dentre outros.
A reitora Célia Regina Diniz, lembrou que a história da Universidade é marcada por momentos de lutas e conquistas, desde a sua criação como Universidade Regional do Nordeste, e este aniversário de 35 anos de estadualização representa para todas as pessoas que estiveram envolvidas na luta por esta conquista, uma vitória do ensino público, gratuito e de qualidade. Segundo ela, tudo só foi possível graças aos esforços e dedicação dos professores e professoras, técnicas e técnico-administrativos e dos estudantes, que mesmo em momentos de dificuldades continuaram firmes na defesa e no propósito maior de sustentabilidade da nossa Universidade.
“A UEPB é uma Universidade com relevância regional, formando estudantes em diversas cidades, cuja inserção se estendeu para além dos limites de Campina Grande. Neste 11 de outubro celebramos a estadualização da UEPB e temos o desafio de prosseguir nessa caminhada, inspirada nessa trajetória de resistência e superação, rumo a uma Universidade ainda mais forte e mais socialmente referenciada, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento do nosso estado, do Nordeste e do Brasil”, destacou a reitora.
Quando foi estadualizada, em 1987, a UEPB tinha apenas 21 anos de criação, e Campina Grande, celebrava 117 anos. O tempo passou, e hoje a Universidade Estadual da Paraíba tem 56 anos de existência, enquanto a Rainha da Borborema celebra neste 11 de outubro seus 158 anos de Emancipação Política.
Experiência em pesquisa científica
Produção do conhecimento, difusão do saber e experiências laboratoriais. Um dos últimos equipamentos que entrou em funcionamento na UEPB, foi o Biotério. Destinado à criação e à manutenção de animais de laboratório em condições sanitárias, dentro de padrões estabelecidos para serem utilizados em pesquisas científicas e na preparação de produtos biológicos, o Biotério já realizou as primeiras pesquisas, sob avaliação da Comissão de Ética em Uso de Animais (CEUA).
Uma das preocupações da Comissão é em garantir o bem-estar dos animais, Os primeiros Ratos Wistar e Camundongos Swiss SPFs, vieram do laboratório americano Charles River. Desde que o biotério entrou em funcionamento, já foram realizados vários cursos com a participação de mais de 200 pesquisadores de vários estados do Brasil.
Agenda ambiental
A UEPB chega aos 35 anos de estadualização, com uma agenda ambiental definida e com várias ações em favor da sustentabilidade, da preservação dos recursos naturais e de um ar mais saudável. Segundo a professora Weruska Brasileiro Ferreira, do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, responsável pelas implantações ações de sustentabilidade da UEPB, juntamente a Comissão Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), a Instituição tem atuado para garantir uma gestão socioambiental sustentável.
As ações estão em todos os câmpus da Universidade e vão desde a gestão de resíduos sólidos, líquidos, eficiência energética e economia de recursos hídricos, com um objetivo de contribuir para um meio ambiente sustentável que favorece também a redução de custos, coleta dos resíduos recicláveis, entre outros.
No Ensino, Pesquisa, e Extensão, nas artes e cultura, a UEPB segue forte aos 35 anos de Estadualização, disseminando conhecimento, formando novos profissionais, avançando na produção científica e desbravando novos horizontes.
Redação com assessoria