Persistência, capacidade de superar desafios, transpor obstáculo e, enfim, ver o sonho realizado. Uma inspiração de quem é capaz de absorver e transmitir conhecimentos usando a linguagem dos sinais. Ingressar no ensino superior não é uma tarefa fácil para a maioria dos jovens, e o desafio se torna ainda maior para os estudantes surdos, visto que, além de dominar o conteúdo da prova, esses discentes precisam superar a compreensão da língua, baseada na Língua Brasileira de Sinais (Libras), bem diferente da língua portuguesa.
O estudante Kledson Albuquerque Alves foi além desse desafio e se tornou o primeiro discente surdo da história da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) a concluir um curso de mestrado. Ele alcançou o feito pelo Programa de Pós-graduação em Formação de Professores (PPGFP) da Instituição. A defesa da dissertação utilizando sua língua de domínio, Libras, com o auxílio dos intérpretes Herbert Costa Rego e Jeane Leal, aconteceu na manhã desta segunda-feira (7), no Auditório II da Central Acadêmica Paulo Freire, no Câmpus I.
O momento, prestigiado por professores, familiares e amigos, bem como, por membros do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), foi tido como um marco na história da UEPB, que tem se notabilizado por investir na inclusão e na busca pela dignidade humana.
A pesquisa desenvolvida por Kledson Albuquerque teve como tema “Ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos: o Signwriting como sistema de escrita na aprendizagem de uma segunda língua”, teve como orientador o professor Juscelino Francisco do Nascimento, da Universidade Federal do Piauí. (UFP). Todo o processo de orientação foi feito de forma remota, visto que Kledson ingressou no curso no período de pandemia. Pessoalmente, o professor Juscelino Francisco não conhecia o seu orientando, o que só aconteceu na manhã desta segunda, por ocasião da culminância da jornada acadêmica.
Além de se tornar o primeiro mestre da UEPB surdo concluir o curso, Kledson Albuquerque entrou para a história como o primeiro professor da Instituição, visto que ele é docente substituto de Libras. no Centro de Humanidades (CH), Câmpus II de Guarabira.
A defesa da Dissertação realizada em meio a uma visível expectativa do mestrando, e de forma híbrida, foi acompanhada além do orientador, por mais dois professores que integraram a banca. A docente Juliana Nóbrega de Almeida, da UEPB, que atuou como examinadora interna; e pelo professor Carlos Roberto Ludwig, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), que atuou como examinador externo.
Surdo há mais de 40 anos, e graduado em Letras Libras pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Kledson Albuquerque propôs em sua pesquisa a aplicação do ensino de língua de sinais por meio de um sistema chamado “signwriting”, que trabalha especificamente com os sinais. Após percorrer toda a caminhada, o ele teve um tempo de 30 minutos para fazer a sua apresentação e provar para a banca que estava apto para receber o título de mestre.
Antes da apresentação, Kledson já estava radiante pela conquista e não escondia o contentamento em concluir o curso. Ele também expressou através dos sinais a sua gratidão a todos que contribuíram para a realização do sonho. Ele enfatizou que durante o curso enfrentou muitas dificuldades, principalmente no que diz respeito à comunicação, visto que só se comunica através de uma segunda língua que é a linguagem dos sinais. O sentimento, no entanto, era de alívio e felicidade.
“Encontrei alguns desafios porque o Português é uma segunda língua para os surdos. Por isso, a minha pesquisa trabalha com o sistema ‘signwriting’, para atender às necessidades educacionais do surdo. Eu sinto nesse momento de defesa que nós somos capazes. Nós somos iguais. A questão é a acessibilidade que nós precisamos ter”, comentou com o auxílio do intérprete Herbert Costa.
Enquanto professor da UEPB, Kledson Albuquerque disse que a nova formação vai ajudar muito no trabalho em sala de aula, visto que vai possibilitar mostrar aos seus alunos como fazer a aplicação do sistema para crianças surdas, utilizando a escrita dos sinais para o Português. O professor Juscelino Francisco destacou o momento como histórico para a comunidade surda, para o PPGFP e para a UEPB. “Ele teve alguma dificuldade, o que é normal em qualquer mestrado, mas a deficiência não foi impeditiva para que ele pudesse chegar até o ponto final que foi a defesa”, observou.
O coordenador do PPGFP, professor João Batista Gonçalves Bueno, considerou a defesa da dissertação de Kledson como um marco histórico para a UEPB e para o programa. Para ele, a caminhada do primeiro estudante surdo a concluir o mestrado na UEPB é inspiradora. Ele também destacou o papel da UEPB que tem investido em inclusão, no ofereceu toda estrutura para o discente concluir o seu curso.
“Esse é um momento histórico para o Programa e para a Universidade. Porque toda política da UEPB que vem sendo desenvolvida é uma política de inclusão. A UEPB tem acolhido todas as pessoas que não tinham espaço dentro da Instituição. Conseguir formar nosso primeiro estudante surdo com título de mestre é um orgulho”, destacou.
Representante da reitora Celia Regina Diniz no ato, o professor Ricardo Soares, pró-reitor de Gestão Administrativa, também registrou a apresentação da defesa de Kledson como um momento histórico e significativo para a universidade. O PPGFP é parte de uma política da Universidade Estadual da Paraíba de capacitação e formação continuada em áreas estratégicas e críticas para o desenvolvimento da região. Aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o programa tem seleções anuais em média ofertando 20 vagas por turma.
O Programa apresenta como objetivo primordial capacitar professores da Educação Básica para o seu exercício profissional, buscando aperfeiçoar a sua prática docente, o processo de aprendizagem e de construção do conhecimento e a intervenção destes professores nas escolas básicas pertencentes aos cenários local, regional e nacional.
Redação com Codecom
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