O bancário Rodrigo Machado, que viajou para Málaga, na Espanha, para participar dos Jogos Mundiais dos Transplantados, conquistou medalhas nas cinco modalidades que competiu. Foram dois ouros, três pratas e um recorde mundial. Todas as provas aconteceram nesta quinta-feira (29).
Rodrigo, de 44 anos, competiu na categoria de 40 a 49 anos e ficou em primeiro lugar nos 200m medley – com recorde mundial ao completar a prova em 2:49:11 – e nos 100m livre. As medalhas de prata foram conquistadas nos: 200m livre, 50m costas e 100m costas.
"Muito gratificante estar aqui nos jogos. Foi maravilhoso. Eu estou com uma lesão no ombro desde o final do ano passado e mesmo assim eu treinei forte. Meu objetivo era conseguir atingir o tempo que eu pré-determinei. A minha meta eu cumpri."
Uma semana após ter embarcado para os jogos, Rodrigo pode desfrutar da cidade com a esposa e o primo. "Agora é conhecer a cidade que vai ficar eternamente guardada nas minhas lembranças."
Em 2012, o bancário foi diagnosticado com leucemia. Após ciclos de quimioterapia e transplante de medua óssea, foi descoberto, em 2016, um tumor no intestino. Foi necessário iniciar outro tratamento, desta vez "mais complexo". Em abril de 2017, Rodrigo foi liberado pela médica hematologista para praticar atividades físicas.
Ele decidiu se inscrever na olímpiada e voltar a treinar natação, esporte que se dedicou entre os 13 e 18 anos. Ex-federado, Rodrigo procurou o coordenador do Ginásio Poliesportivo Milton Feijão de São Caetano do Sul, Walter Luis Rodrigues Júnior, para voltar a treinar.
"A expectativa principal dos jogos é incentivar a doação de órgãos e mostrar que existe vida após um transplante. É servir de exemplo para muitas pessoas que estão em um hospital que há luz no fim do túnel e que tem que seguir lutando e acreditar e fazer tudo o que precisa ser feito."
Com apenas oito semanas para o início dos jogos, Walter assumiu os treinos de Rodrigo e elaborou uma rotina de preparação. Exercícios diários, alimentação equilibrada e muita dedicação é a aposta do treinador para uma boa competição.
O desafio é mútuo. Há oito anos longe das piscinas, Rodrigo teve que se dedicar em dobro para recuperar o ritmo, técnica e bons tempos que tinha quando ainda era adolescente. Já Walter, precisou estudar e entender os limites do novo atleta.
“Se na minha carreira toda eu tivesse tido dez atletas como ele, eu seria um técnico realizado. Eu tenho que estar atento, se ele chega ofegante, se ele está vermelho são atenções que eu preciso ter. Eu tenho que respeitar os limites dele, mas eu não posso deixar muito aberto, porque ele é folgado e vai querer descansar muito. A rédea é curta”, conta o treinador.
Com 17 esportes diferentes, os Jogos Mundiais dos Transplantados acontecem anualmente e é uma olímpiada em que os competidores devem ter tido algum tipo de transplante. “É uma forma de integrar todas as pessoas que passaram por doenças graves. É como a gente fala, é a celebração de uma segunda oportunidade. Nós todos transplantados estamos tendo uma segunda chance de continuar vivendo e vivendo bem”, define Rodrigo.
Diagnóstico
Dois meses após participar de uma meia maratona em São Paulo, Rodrigo começou a sentir fraqueza, cansaço excessivo e fadiga. Ao procurar um médico e fazer exames, foi diagnosticado em novembro de 2012 com leucemia.
Na semana seguinte ao diagnóstico, Rodrigo foi transferido para o Instituto Brasileiro De Controle Do Cancer e iniciou um ciclo com seis quimioterapias, transplante de medula e isolamento. Durante o tratamento, exercícios físicos com um professor particular permitiram que ele recuperasse parte da massa muscular que perdeu durante as internações. “Eu queria chegar mais forte para o transplante”, explica o bancário.
Os treinamentos continuaram e “com trabalho progressivo”, em 2015, competiu sua segunda meia maratona e voltou ao trabalho, que estava afastado de 2012. Mas, no início de 2016, ele foi obrigado a dar outra pausa. A leucemia se manifestou novamente, mas, dessa vez, em forma de um tumor no intestino.
Com queda de imunidade, foram três meses internado, uma cirurgia para fazer a biópsia, mais ciclos de quimioterapia e um tratamento “bem mais complexo”. Com a recaída na doença, Rodrigo precisou pedir outra licença médica no trabalho, nas atividades físicas, ficou recluso e teve de redobrar os cuidados com possíveis infecções.
“O esporte ajudou muito o Rodrigo ao longo do tratamento. Até nos momentos mais críticos, ele nunca ficou com a massa muscular muito debilitada e isso ajudou muito”, acredita a hematologista que acompanha o bancário desde o início, Maria Cristina Macedo.
‘Três pilares do paciente’
Para passar pela doença, Rodrigo assumiu algumas responsabilidades. Além de coragem e muita disciplina com o tratamento, estabeleceu os “três pilares do paciente”. Para ele, o tratamento é divido entre o que compete a Deus e ao enfermo.
“Acreditar e ter fé no tratamento; se alimentar bem e praticar atividades físicas é o que nós podemos fazer, nós temos que nos movimentar”, explica.
G1
Foto: Fabio Tito/G1 e Arquivo pessoal
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