Após se tornar o segundo homem mais rápido do mundo nos 100m T11 (cego total), Felipe Gomes voltou às pistas para disputar o título dos 400m no Mundial Paralímpico de Atletismo em Doha, no Catar. O carioca de 29 anos marcou 50s89 em uma prova limpa e perfeita, conquistou o ouro, mas, instantes depois, perdeu a medalha por conta de um erro de seu guia. Jorge Pereira Borges teria pisado na linha em uma curva. O juiz levantou a bandeira para sinalizar a punição: a desclassificação na prova. Os dois estavam descoordenados no fim, e Felipe desgarrou do guia, correndo sozinho os últimos metros. Esgotado, ele se jogou no chão e passou cinco minutos recuperando o fôlego antes de dar as primeiras entrevistas.
O Brasil faria uma dobradinha no pódio desta segunda-feira, com o primeiro e o segundo lugares, no entanto, o outro representante do país também foi desclassificado. Daniel Silva (50s95), que havia assumido o posto de Felipe, foi punido após um protesto da França e da Espanha, mas a decisão ainda foi oficializada pelo júri de apelação. O espanhol Gerard Puigdevall (51s28), terceiro mais rápido da prova, sagrou-se campeão, seguido pelo francês Timothee Adolphe.
– O meu guia me soltou na reta final e eu fiquei à deriva, sem saber a hora de parar também. Não sei também porque parei. Não via nada, as pernas já não estavam aguentando. O meu guia me largou, e eu fiquei mais cansado ainda. Eu perguntava a todos: "O que aconteceu?". Até então, eu nem sabia que tinha ganhado. Aí que o coordenador (Ciro Winckler) que contou que havia vencido. Foi uma prova de superação – disse Felipe, antes de ser desclassificado.
O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) entrou com um protesto formal com as autoridades do Mundial, em que contestou a punição e ainda se defendeu das acusações dos adversários. Os espanhóis e os franceses abriram outro processo, alegando que tanto Felipe como Daniel deveriam ser punidos por terem corrido sem os guias no fim da prova. Pelas regras, o atleta pode completar a disputa sozinho, caso o guia sofra dores ou uma lesão na corrida. O competidor também não pode invadir a raia de seus rivais.
– A prova dos 400m T11 é uma prova que tem o guia e o cego. Uma prova raiada, onde não se pode nas provas de curva, pisar na linha interna, que leva a desclassificação. A alegação da arbitragem é a de que houve a pisada. Mas, na nossa visão, a partir do que vimos pelo vídeo oficial, não houve essa pisada. Por isso, estamos entrando com um protesto. Não obstante a isso, Espanha e França também entraram com um processo pelo fato de os guias terem soltado os atletas, o que as regras permitem. Estamos esperando ansiosamente a decisão do júri de apelação – revelou Ciro Winckler, coordenador técnico do CPB.
As comissões técnicas têm 30 minutos para apresentarem o protesto à arbitragem, com uma prova, que, no caso, foi o vídeo da disputa. O diretor técnico e chefe de missão do Brasil, Edilson Alves da Rocha, explicou o por que da punição.
– São duas raias. A raia lateral, onde está o adversário do atleta, não pode ser invadida. Se fosse na outra, tudo bem. Se ele toca na linha lateral, pode levar vantagem na curva por cortar caminho. É uma violação à regra, punida com a desclassificação. Não temos ainda acesso aos protestos. Só sabemos que eles (espanhóis e franceses) protestaram, mas foi por outro motivo. Eles alegam que os brasileiros correram sem os guias. Depois que o júri de apelação tomar a decisão final, não há mais chances de mudar. O resultado pode sair até amanhã.
Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
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