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Fred desabafa e diz que ficaria no Flu na Série B, mas só com uma reestruturação

Após cerca de três meses de silêncio, o atacante Fred finalmente decidiu falar. Em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular, o jogador abriu o coração e comentou todo tipo de assunto. A baixa média de gols, as seguidas lesões, Copa de 2006, permanência no Fluminense em 2010, a relação com a imprensa e o polêmico episódio do surfe. E revela o apelido recebido pelos colegas de clube: Fred Slater.

Esporte Espetacular: Você fez 12 gols em 22 jogos. Média aproximadamente de meio gol por partida. Por que tão pouco?

 

Fred: É pouco, mas diante da situação eu considero uma média até boa. Eu não tive uma preparação física tão adequada, porque eu e o clube antecipamos a minha estreia. Isso acabou dificultando chegar à minha melhor forma física. Depois vieram duas contusões no músculo adutor esquerdo. Mas eu consegui ainda fazer alguns gols. Não é o que eu posso fazer, mas estou sempre trabalhando para fazer gols e ajudar o Fluminense.

EE: Você tem apenas 26 anos e se machucou três vezes. Qual a razão disso?

 

Fred: Na verdade, antes de chegar ao Fluminense eu fiquei quatro meses sem jogar uma partida oficial pelo Lyon. Aí, me apresentei ao Fluminense, fiquei três dias só treinando e estreei. Não era adequado, mas como tive uma recepção muito calorosa e com a minha ansiedade e do clube inteiro para a minha estreia, eu acabei estreando. Senti muito cansaço e dores musculares.

EE: Ou seja, você não chegou 100%…

 

Fred: Clinicamente eu cheguei 100%, mas fisicamente eu não estava tão preparado. Mas foi uma decisão minha com a comissão técnica. Nós decidimos estrear naquele jogo. Eu optei por estrear. Só que eu jogava e tinha que ter dois a três dias de folga para recuperar. Isso acabou atrapalhando um pouco. Nós fizemos uma organização para entre os jogos haver uma preparação física. Infelizmente ocorreram as lesões e acabaram atrapalhando a situação.

EE: Como lidar com inveja, ciúme?

 

Fred: É difícil. É uma situação que acontece, principalmente no nosso meio, de pessoas públicas. Mas eu tento tirar de letra. Eu tento tirar essas invejas nas minhas orações, pedindo a Deus, sendo o mais simples possível por onde eu passo. A gente fala de olho grande e inveja. Sempre existe quando você chega a um ambiente diferente. Não vejo tanta inveja no Fluminense, mas sempre acontece em todos os lugares.

EE: Muitos críticos falam que você é da turma do chinelinho. O que dizer sobre isso?

 

Fred: Na verdade isso me chateia um pouco. Não tem ninguém que fique tão mal quanto o jogador quando ele não pode exercer sua função. Eu adoro jogar futebol, adoro fazer gols, adoro treinar. Ver essas críticas me deixa chateado, mas eu tenho que ficar vacinado quanto a isso. Não tem ninguém que queira jogar mais do que eu, que queira chegar à seleção, que queira fazer gols pelo Fluminense. Eu sou bem resolvido, não preciso de ninguém. Então, quando eu vejo que não tem respeito, eu procuro evitar sempre.

EE: Pelo seu planejamento, o que você acha que precisa fazer para ser convocado?

 

Fred: Tenho que fazer bons jogos pelo Fluminense e voltar a fazer gols. Aí eu vou pensar na minha oportunidade. Eu sei quando eu estou muito bem, quando eu mereço uma convocação. E é isso que eu busco sempre. Fazer gols, ter boas atuações, que aí vem a moral e todo mundo vai pedir também. E o Dunga, por já me conhecer e pelo fato de já ter disputado uma copa do mundo, influencia também.

EE: Aproveite e mande um recado para o Dunga.

 

Fred: Eu só tenho que parabenizá-lo pelo excelente trabalho que está fazendo. Ele é uma ótima pessoa, um grande treinador. Muito simples, certa com as coisas que faz. E não tem mais o que falar, só deixar claro para ele que eu vou continuar trabalhando para, quando tiver uma oportunidade, fazer o melhor pela seleção.

EE: Ficou alguma mágoa da Copa de 2006?

 

Fred: Eu acho que eu poderia jogar um pouco mais. Eu joguei quatro minutos contra a Austrália e fiz um gol quando toquei na bola. Isso criou a expectativa para o jogo contra o Japão, quando alguns jogadores seriam poupados. Eu esperava jogar um pouco mais naquela partida, e acabou que eu nem entrei. Ai, deu aquela tristeza. Deveria ter jogado um pouco mais.

EE: Chegar ao Fluminense e ver que não havia o grande time prometido e brigas internas tirou o seu ânimo?

 

Fred: Não. Tirar o ânimo não. Lógico que eu vim para o Fluminense pela tradição, pelas condições que o Fluminense me propôs. Principalmente pela campanha que o time fez na Libertadores. Eu falei: "pô, vai manter a base. Vai tirar algumas peças, mas vai ter uma grande equipe." Montou uma boa equipe, mas perdeu alguns jogadores. Eu lembro que na época do Parreira, houve tentativa de contratações. Eu até participei um pouco, ligando para alguns jogadores como o Souza e o Lincon. E acabou que não deu para virem. Isso dificultou um pouco.

 

EE: Quando você se deu conta de que não seria um grande time?

 

Fred: Eu sempre achei o Fluminense uma equipe competitiva. Tá no nível do futebol brasileiro. Pelo menos para não cair, para estar ali no meio da tabela, ou até em cima. Infelizmente não aconteceu. Muita coisa que estava programada deu errado.

EE: Se o Fluminense cair, você disputaria a Série B?

 

Fred: Na verdade, eu nem penso no Fluminense não ficar na Série A. Mas é claro que, se o Fluminense cair, não vejo demérito nenhum em permanecer, desde que haja uma reestruturação, que se monte um elenco forte. Que haja uma organização para não persistir no mesmo erro. A gente tem exemplos claros: o Palmeiras é líder hoje e caiu também. Deram uma organizada. O Corinthians caiu e, no ano seguinte, foi campeão da Copa do Brasil. Não vejo problema nenhum, e não acho desvalorização nenhuma para qualquer atleta. Lembro do Marcos, do Palmeiras. Todo mundo disse que ele ia sair porque caiu para Série B e iria se desvalorizar. Pelo contrário: ele ficou e se identificou mais ainda com o torcedor e com o clube.

EE: O que tem que mudar no Fluminense?

 

Fred: Eu acho que não só no Fluminense, mas em todos os clubes do Rio. É preciso ter uma estrutura, como um centro de treinamento, um centro de reabilitação. Não tem como ser hipócrita dizendo que tem estrutura maravilhosa, porque não tem. Não é só o Fluminense, são todos os times. E não pode persistir no erro. O Palmeiras caiu, o Atlético-MG caiu, o Grêmio caiu, mas eles tiveram organização para se levantarem. Eu acho que isso tem que acontecer no Fluminense também.

EE: Essa falta de estrutura foi o que fez você se recuperar da lesão em Minas Gerais?

 

Fred: Também. Houve também o lado psicológico, por estar mais perto da família. Um dos motivos para minha volta ao Brasil foi por causa da minha filha, que mora em Belo Horizonte, para ficar perto dela. Eu reuni a diretoria, conversei com o Renato, que era treinador na época. Eu falei: "Quero me tratar em BH, vou procurar a melhor estrutura possível, os melhores profissionais. Eu fiz com Rodrigo Lasmar, médico da seleção brasileira, com Elliot Paes, que era fisioterapeuta do Schalke 04. Eu me cerquei de pessoas que poderiam antecipar a minha volta. Foi com aval do clube. Depois vieram as porradas da imprensa. Disseram que o Fred está mimado, que queria se recuperar e não estava nem aí para o clube. Pelo contrário, eu queria me recuperar na melhor estrutura possível. Como o médico falou que o psicológico era importante, fiquei com minha família e profissionais gabaritados para antecipar minha volta. Estando bem, eu vou ajudar o Fluminense. E eu queria estar bem o mais rápido possível. Aí vinha porrada da imprensa. Para você ter noção, eu trabalhei todos os dias, de manhã, à tarde e à noite.

EE: Os médicos do Fluminense ficaram magoados?

 

Fred: Não, de forma alguma. Como eles ficariam magoados se eu tive a liberação do chefe do departamento médico, o Simoni? Eu me reuni com ele e com o diretor, e depois falei sozinho com o Renato Gaúcho. Eu disse que queria me recuperar em BH. Ele disse: "Por mim, você tratar aqui ou em BH, não tem problema nenhum. Já que o clube autorizou, para mim não vai alterar em nada. Só quero que você seja disciplinado". Ainda falei para ele: "Se você quiser, pode mandar um fisioterapeuta do clube, eu dou hotel para ele, alimentação, tudo por minha conta. E ele fica em BH me acompanhando. Na época, o diretor Alexandre Faria foi à clínica que estava me recuperando, viu a estrutura e passou para o clube. Houve tudo isso, não teve nada demais. O que aconteceu depois foi que o Branco, quando chegou, não me conhecia e não sabia o que tinha acontecido. Aí, pediu a minha volta. Só que eu já tinha começado um trabalho, como eu ia largar no meio? Fomos conversando e começaram as notícias: "Branco insatisfeito com Fred", "Fred não está nem aí para o Flu". Tudo notícia mentirosa, que vai dar Ibope, que vai vender. Infelizmente tem gente mau caráter para publicar essas coisas.

EE: Você estava há quatro meses sem jogar, chegou ao Rio de Janeiro para o Fluminense e, três dias depois, foi jogar. Sofreu três lesões. Por que essa pressa de jogar logo?

 

Fred: Na verdade foi um erro nosso, né? Meu e do Fluminense, de planejamento. Você vai querer ir para o sacrifício, jogar logo. E tinha um campeonato em risco, que era o Carioca. Todo mundo querendo ganhar. Houve um planejamento para estrear no Maracanã, tanto que foram mais de 30 mil torcedores ao estádio. Foi mais isso mesmo, estrear no Maracanã. Eu acho que eu poderia ter pedido para segurar um pouco mais, e eles poderiam segurar também. Eu amadureci, aprendi, e hoje, se alguém falar para mim que tenho que ir e eu não me sentir bem, eu não vou. Cansei de jogar no sacrifício. Se eu estiver colocando minha saúde em risco, eu não vou.

EE: Então agora, que você fez o planejamento correto para voltar, significa que você pode salvar o Fluminense e sair como herói?

 

Fred: Sair como herói, não. Da mesma forma que não fui eu que deixei o Fluminense nessa situação sozinho, não vou ser eu que vou tirar o Fluminense dessa situação sozinho. Mais do que nunca tem que prevalecer o trabalho em equipe, mas eu quero ser uma peça-chave nesse grupo com meus gols, para tirar o Fluminense dessa situação.

EE: Com o Fluminense com risco de rebaixamento, você pensa em voltar à Europa?

 

Fred: Na verdade, meu objetivo não é voltar para a Europa. Antes de sair do Lyon tive propostas de grandes clubes europeus e não aceitei, optei pelo Fluminense. E continuo com o mesmo pensamento de permanecer no aqui. Todo mundo falava que eu estava de saída do Fluminense. Poderia ganhar quatro vezes mais no Sevilla. Tive proposta do Tottenham, do Roma, e não quis sair. Todo mundo dava como certa minha saída. É claro que às vezes, até por se sentir desvalorizado, você pensa que não está tendo o respeito que merece. Passa na cabeça um lampejo rápido de voltar para a Europa, porque não estão me respeitando. Mas como eu falei, recusei grandes propostas e optei por ficar no Brasil. Até hoje esse é meu pensamento, e quero ficar no Fluminense.

EE: É verdade que você não jogou o Fla x Flu e foi surfar?

 

Fred: Mentira, eu não surfei no dia do Fla x Flu. Para piorar a situação, falaram também que eu surfei antes do jogo contra o Corinthians. É o tipo de informação que só me deixa chateado, que eu fico triste. Na verdade, eu surfei umas duas vezes. Uma vez eu fui num projeto social no Arpoador. Como eu já estava lá, tentei surfar. Tomei mais caldo do que fiquei em pé. Quando saíram essas matérias, eu me senti até um surfista. Mas fiquei em pé duas ou três vezes, só. Foi uma falta de respeito que me impressionou. Mas cá entre nós, eu tenho uma quedinha pelo surfe.

EE: Quem é o seu ídolo no surfe?

 

Fred: Nem conheço muito, mas meu apelido no Fluminense agora é Fred Slater. Depois que saíram as matérias, começaram a me provocar e me deram esse apelido. Todo mundo está me chamando de Fred Slater.

 

 

G1
 

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