Relatório da entidade sobre escândalo de corrupção diz que Teixeira e Havelange pegaram milhões em pagamentos da CBF
O cartola que transformou o futebol e a Fifa não tem mais vínculos com a entidade – acusado de corrupção, João Havelange renunciou ao cargo de presidente de honra da federação. O anúncio foi feito pela Fifa na manhã desta terça-feira, através da divulgação das conclusões de um relatório de autoria de Hans-Joachim Eckert, chefe do comitê de ética da Fifa. A renúncia já havia ocorrido – Havelange, diz o documento, entregou uma carta anunciando sua saída há duas semanas, em 18 de abril. O brasileiro, no entanto, não tinha divulgado publicamente a decisão. Conforme o relatório, tanto Havelange como Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e ex-protegido do cartola, receberam propinas milionárias num esquema de corrupção nos contratos de marketing da Fifa com a extinta empresa ISL. Ambos, no entanto, deverão permanecer impunes – o texto lembra que tanto Havelange como Teixeira já entregaram todos os seus cargos e suspenderam todas as suas atividades no futebol.
Até recentemente, Teixeira recebia salário da CBF para ser "consultor" da entidade e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014. A renúncia de Havelange à presidência de honra da Fifa faz com que a entidade encerre o caso sem punir a má conduta do cartola. A ISL, que quebrou em 2001, subornou vários integrantes da Fifa para conseguir vantagem na disputa pelas transmissões de TV nos Mundiais. As propinas pagas a Havelange e Teixeira, por exemplo, teriam garantido a vitória da empresa na briga para pelos direitos televisivos das Copas de 2002 e 2006. O documento, encomendado por Joseph Blatter, diz que o atual presidente da Fifa, que era secretário-geral da entidade, não cometeu nenhum desvio de conduta. Teixeira era membro do comitê executivo da Fifa na época em que as negociações ocorreram. A denúncia que desencadeou todo o processo é de autoria da rede britânica BBC, que revelou que os brasileiros receberam o equivalente a nada menos que 45 milhões de reais em pagamentos por baixo do pano. Ambos negam envolvimento no caso de corrupção.
Outro dirigente citado no relatório de Eckert é o paraguaio Nicolás Leoz. Ele também é acusado de receber propina para beneficiar a ISL – e, assim como Havelange, renunciou ao seu cargo na Fifa antes que o documento fosse divulgado, de forma a escapar de punições. Leoz, que teria obtido cerca de 700.000 dólares da ISL, entregou sua vaga no comitê executivo da Fifa também neste mês, assim como Havelange. Curiosamente, Blatter havia prometido o relatório para no máximo 15 de abril. Como as renúncias de Havelange e Leoz ocorreram dias depois desse prazo, já há especulações de que os veteranos cartolas teriam sido avisados previamente das conclusões da investigação, abrindo caminho para que deixassem seus cargos e evitassem qualquer punição na Fifa. Ou seja: com o relatório pronto, a Fifa teria sugerido que ambos se retirassem por conta própria, evitando a necessidade de continuar com o processo (e, por consequência, seguir tratando do assunto bem em meio aos preparativos para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo).
PB Agora com VEJA