O Grupo Capoeira Brasil (GCB) realizou dos dias 21 a 27 de julho deste ano o Festival Internacional 30 anos Grupo Capoeira Brasil. O Festival, que também é campeonato, teve troca de graduações, com a presença de atletas de vários estados, além de Europa Ásia e Estados Unidos. A entidade está presente em todo o Brasil e nos cinco continentes do mundo, e este ano comemora 30 anos de sua fundação.
O Grupo Capoeira Brasil é uma das várias agremiações de capoeira no mundo, e uma das maiores também. Antônio Guedes da Silva Júnior, Mestre Ligeirinho, é tetra campeão norte-nordeste e é o representante do Grupo aqui na Paraíba. Ele conta que este encontro internacional teve a intenção de reunir representantes de estados brasileiros e outros países em um campeonato para avaliar o nível cultural da capoeira nos diversos lugares em que atua.
O campeonato foi dividido em duas categorias A e B, sendo a categoria A de mestres e contra-mestres, e a categoria B, de professores e instrutores. Por falta de apoio e patrocínio, a Paraíba conseguiu levar apenas três dos 15 atletas que estavam preparados para a competição. Os três atletas que embarcaram tiveram de se preparar em nível de performance, mas também financeiramente para cobrir os gastos de uma semana inteira de evento.
“A questão do patrocínio eu acho que ainda tem a ver com a nossa cultura mesmo que é desvalorizada. A gente sente na pele mesmo, principalmente quando a gente vai realizar eventos aqui, como eu, que já tentei realizar até o campeonato paraibano, mas não conseguimos por questão de patrocínio, porque não tem condições de fazer mesmo”, conta Ligeirinho.
Ele acrescenta que a inclusão da Capoeira como esporte olímpico não é uma ideia muito bem aceita: “Não seria bom para capoeira porque ela, além de esporte, é uma cultura, e ela entrando para o esporte olímpico, perde a sua cultura. A capoeira, não se sabe se é uma dança se é uma arte marcial porque ela já nasce de uma forma muito bruta, com ânsia de liberdade, e tudo nela foi disfarçado. Ela sempre foi uma luta disfarçada em dança”, explica o mestre.
A premiação do primeiro e segundo lugar contou com troféus e um programa de viagens para conhecer alguns grupos na Europa e participar de eventos, para o primeiro lugar, e o segundo lugar algumas viagens no Brasil.
O Nordeste é Paraíba, sim senhor!
Ligeirinho relata que na hora da premiação, com as medalhas na mão, ele gritou em cima do pódio: “O Nordeste é a Paraíba”, em alusão à declaração preconceituosa do presidente Bolsonaro sobre o Nordeste, chamando-o pejorativamente de “paraíba”. “Esse novo presidente aí não tem uma visão do que é a cultura, que a capoeira pode transformar as pessoas. Eu trabalho com a capoeira em várias áreas, sou profissional, trabalho com moradores de rua no programa Consultório na Rua, que está ameaçado de acabar. Ele pensa que morador de rua é tudo vagabundo, marginal; a capoeira promove saúde e tentamos fazer um vínculo desse morador levando-o a abrigo, a tirar documento, e ter uma qualidade de vida maior”. Mestre Ligeirinho acrescenta que também trabalha com crianças com autismo e a capoeira consegue trazer uma qualidade de vida maior para elas. “A capoeira ajuda também contra a depressão: eu tenho vários exemplos de alunos depressivos que até tentaram suicídio e a capoeira transformou suas vidas. Tem alguns deles que são campeões graduados, que superaram e vivem da capoeira, são profissionais da capoeira”, relata ele.
31 anos de roda!
“Eu jogo capoeira há 31 anos. Ano passado fizemos um mega evento de comemoração aos meus 30 anos de capoeira”, conta Ligeirinho que aproveita para fazer um panorama sobre a cultura da Capoeira na Paraíba: “Aqui em João Pessoa são 25 grupos de capoeira misto, com crianças, mulheres, homens, idosos. Só no Grupo Capoeira Brasil a gente tem quase quase 500 adeptos aqui em João Pessoa, e também temos em Campina Grande, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita, Sousa, Patos”, conta ele.
Segundo o mestre, a capoeira é um esporte misto, e a participação feminina acontece naturalmente. “Não podemos calcular só mulher, ou só adulto; a capoeira sempre foi muito mista desde a sua origem. A mulher quando está na capoeira ela é uma capoeirista. Nesse campeonato brasileiro, na categoria B, que é para instrutores, uma argentina ficou em segundo lugar. O campeonato é misto, então ela jogou capoeira com homem e mulher e se consagrou vice-campeã”, relata Ligeirinho acrescentando que há um evento anual, no mês de março, onde as mestras realizam palestras e cursos de capoeira, organizados pelas mulheres da capoeira de João Pessoa.
Redação com Brasil de Fato
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