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Cientistas criam veias artificiais antirrejeição com sucesso

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As cirurgias de ponte de safena podem estar com os dias contados. Um estudo publicado hoje na revista especializada Science Translational Medicine mostrou que é possível criar veias artificiais, a partir de células humanas, que, implantadas no organismo, não sofrem rejeição nem provocam inflamações ou coágulos. O método de bioengenharia vai beneficiar não somente os pacientes com sério risco de obstrução das artérias, condição que pode levar ao enfarto, mas também aqueles que sofrem de doenças renais e, por isso, precisam fazer hemodiálises constantes.

Embora testada primeiramente em modelos animais — cachorros e babuínos — , a técnica poderá ser aplicada em humanos ainda neste ano. “Os resultados do nosso estudo são muito encorajadores e, baseados neles, estamos focados agora em aplicar o método em pesquisas clínicas”, disse ao Correio a principal autora do artigo, Shannon L. M. Dahl, diretora científica e cofundadora da Humac Inc., empresa que desenvolveu o projeto.

Geralmente, pessoas cujas artérias estão obstruídas precisam passar pela cirurgia de revascularização miocárdica, popularmente conhecida como ponte de safena. Trata-se da retirada de um pedaço da veia, geralmente da perna, que posteriormente será costurada da aorta até a parte da artéria que se encontra bloqueada. Quem tem problemas renais passa por um procedimento semelhante, pois o uso regular de agulhas especiais requer um vaso sanguíneo resistente e acessível. Nesse caso, o cirurgião faz a ligação entre uma artéria do braço e uma veia.

Além dos riscos inerentes a qualquer cirurgia, os dois procedimentos têm a desvantagem de não beneficiar todos os pacientes. Dependendo da espessura das veias, é impossível utilizá-las pelos métodos tradicionais. No caso da hemodiálise, já existem artérias artificiais para substituir a fístula arteriovenosa, que faz a ligação entre a veia e a artéria superficial do braço.

O procedimento, porém, vem acompanhado de efeitos colaterais, como altas taxas de infeção, oclusão e propensão a trombose. “Devido às complicações, cada veia artificial precisa passar, em média, por 2,8 intervenções ao longo da vida do paciente para continuar funcionando. Daí a urgência de se encontrar um método superior, que cause menos complicações”, alega Jeffery H. Lawson, professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da Duke University e um dos autores da pesquisa.

Estoque

A nova metodologia permite a criação de veias de 3mm e 6mm, que podem ser utilizadas tanto para intervenções cardíacas quanto para hemodiálise. Uma das vantagens é que, depois de construídas, elas podem ser armazenadas, algo até então inédito. Com isso, uma pessoa em situação de emergência está apta a receber o implante assim que der entrada no hospital. Atualmente, é possível desenvolver artérias artificias a partir das células do próprio paciente, o que evitaria rejeição, mas o processo leva nove meses ou mais — tempo em excesso para quem se encontra em estado grave.

Durante cinco anos, a equipe de pesquisadores, chefiada por Shannon L. M. Dahl, se dedicou ao desenvolvimento de uma técnica que permitisse a criação de artérias artificiais a partir da estrutura celular de qualquer doador. Com isso, seria possível fazer um estoque vascular, pronto para ser utilizado a qualquer momento. O desafio era produzir enxertos que não fossem rejeitados pelo organismo do receptor nem provocassem os já conhecidos efeitos colaterais.

Para criar as veias artificiais ideais para a substituição da fístula, os pesquisadores cultivaram células humanas e fizeram o implante em babuínos. Como o tecido precisava ganhar o formato de uma veia, as células musculares foram cultivadas em um tubo de polímero biodegradável. O material já é amplamente aplicado na medicina porque, como o próprio nome diz, se degrada com o tempo, sem afetar a estrutura que está dentro dele.

Depois, os cientistas usaram detergentes especiais para descelularizar o tecido que se formou. Com isso, foram retiradas as substâncias que poderiam provocar rejeição no doador. O material foi, então, implantado em babuínos, que passaram a ser observados por seis meses. A não ser por um animal, que foi excluído do estudo porque a incisão infeccionou, os oito restantes toleraram bem o enxerto. Nas 24 semanas seguintes à cirurgia, também não houve mudança no diâmetro da artéria nem enfraquecimento das paredes vasculares. O sangue fluiu em uma taxa normal.

A experiência repetiu-se, mas, desta vez, para testar a eficácia das artérias coronárias artificiais. Células caninas cultivadas no material biodegradável passaram pelo processo de limpeza e, depois, foram implantadas em receptores da mesma espécie. Os animais tiveram acompanhamento por um ano. Os exames mostraram que, passado esse tempo, o enxerto foi bem aceito pelo organismo. “Os enxertos demonstraram excelente permeabilidade e dilatação resistente. Esse tipo de enxerto vascular pode fornecer uma opção para pacientes que não são candidatos aos implantes artificiais”, concluíram os autores, no estudo.

 

Correio Braziliense

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