Já imaginou fotografar com uma lata de sardinhas? Acredite! Isso é possível. O projeto “Lá Tinha” criado pelos jovens Bob Ferraz e Diego Cunha nasceu de uma conversa entre amigos e consiste em criar máquinas fotográficas com latas de sardinha usadas. O objetivo é mostrar a crianças de comunidades mais esquecidas o valor que a sua localidade tem. Pensamos na fotografia com o intuito de levar as crianças a ter vontade de mostrar o seu lugar, o seu mundo, através da imagem, explicou Diego Cunha.
Bob ressalta que, além da criatividade, o projeto visa estimular a autoconfiança, as habilidades manuais e a capacidade destes jovens ao produzir algo construtivo com um produto que diariamente é consumido e deitado no lixo por milhares de portugueses.
O funcionamento é simples e com base na técnica de pinhole: apoia-se a câmera em algo fixo, um tripé ou até mesmo um muro. Abre-se o obturador durante cerca de três segundos (dependendo da quantidade de luz e do ISO do filme), fecha-se e roda-se o filme para a próxima fotografia. Quando o rolo acabar basta recarregar a latinha com um novo.
A idéia de iniciar este projeto no bairro da Cova da Moura, em Portugal, surgiu com o propósito de desmistificar a ideia que as pessoas têm acerca dos bairros sociais. Diego refere que as pessoas não conhecem e por isso têm uma impressão um pouco diferente do que estes são na realidade, têm um pouco de receio até.
Assim que chegaram lá, Diego e Bob perceberam que aquele era um terreno muito fértil para este tipo de coisas. Diego recorda que as crianças estavam muito à vontade, dançavam enquanto criavam os seus próprios batuques. Quando a ideia foi apresentada não acreditavam que se poderia fazer uma câmara fotográfica com coisas tão simples. Foi um desacreditar que se esvaneceu a partir do momento em que as crianças perceberam que as latinhas tiravam, mesmo, fotografias.
Para Diego, as crianças hoje em dia são cada vez mais cedo inseridas em ambientes competitivos e o projeto Lá Tinha pretende desenvolver nas crianças uma inteligência emocional, isto é desenvolver as suas habilidades. As pessoas não se preocupam com o que a criança gosta e sabe fazer, querem apenas que conheçam a Geografia, a Matemática e a História, quando elas podem ser o que sonham ser e ter muito sucesso nisso.
O projeto Lá Tinha pretende mostrar que existem outros caminhos , ampliar a visão destas crianças, fazer com que elas vejam que têm direito de escolha sobre o seu futuro e que não têm que estar sujeitos ao que a sociedade e o mundo lhes impõe. Diego confessa que desta forma pode, eventualmente, evitar-se que muitas destas crianças sigam por caminhos errados no futuro.
A ideia começou em Portugal, mas já chega ao Brasil despertando curiosos. Queremos ir para além dos bairros sociais, a lugares que não sejam considerados de alto risco ou de comunidades com menos recursos. Há muita gente interessada, muitas pessoas já nos procuram, que querem levar este conceito para as suas comunidades. Então o objetivo agora é conseguir fazer acontecer o que as pessoas tanto gostaram, acrescenta.
Os objetivos futuros do Lá Tinha passam por montar um photobook com todo o acervo do projeto, contando um pouco mais da história dos miúdos, tendo as imagens para análises sociais, conclui Diego Cunha.
VEJA NO VÍDEO COMO FUNCIONA
Redação
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