Diante do altar destruído, o padre Charbel ergue os braços, com as palmas voltadas para o céu, e começa a rezar diante de uma congregação devota de combatentes iraquianos, que recuperaram o mosteiro de Mar Behnam das mãos do grupo Estado Islâmico (EI).
"Pai nosso que estáis no céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o vosso reino", proclamam. Na parede oposta, um grafite proclama em letras pretas: "Allahu Akbar (Deus é grande)".
Há alguns dias, as tropas pró-governo recuperaram o mosteiro siríaco católico, controlado pelo EI por dois anos.
Teto de gesso quebrado, estátua da Virgem Maria decapitada… Após a chegada dos radicais islâmicos perseguiram os monges e saquearam o edifício cristão, construído no século IV d.C a 30 km de Mossul (norte), onde as tropas iraquianas lançaram em meados de outubro uma grande ofensiva contra o EI.
"Estou feliz e triste", suspira Charbel Issou, o ex-responsável do mosteiro ao reencontrar pela primeira vez o local que precisou abandonar. "Estou feliz de voltar a este lugar santo, onde passei um ano e meio. Ao mesmo tempo, estou triste por vê-lo neste estado, demolido. Dói meu coração", diz ele.
Em frente ao mosteiro, um dos mais antigos lugares de culto e mais reverenciado do cristianismo no Iraque, uma pilha de escombros jaz no antigo local das sepulturas de Mar Behnam – um santo sírio que deu seu nome ao mosteiro – e sua irmã Sarah.
Brigada da Babilônia
Em 2015, os extremistas postaram um vídeo em que aparecem dinamitar as sepulturas, das quais não resta quase nada.
Um ato de vandalismo entre outros cometidos por homens do EI na região. Do sítio histórico assírio de Nimrod, passando pelos mais belos templos da cidade greco-romana de Palmyra, na vizinha Síria, os extremistas sunitas destruíram inúmeros objetos culturais em seu caminho.
Quando os extremistas invadiram a planície de Nínive, no norte do Iraque em 2014, deram três opções aos cristãos: se converter, pagar um imposto ou morrer. Cerca de 120 mil deles fugiram. E não vai ser fácil reconstruir sua comunidade, adverte o padre Issou.
"Vocês deveriam ver as casas", suspira, "metade delas foram reduzidas a cinzas".
As perseguições do EI são uma das mais recentes de uma série contra a minoria cristã no Iraque, atacada regularmente desde 2003 após a queda de Saddam Hussein.
Antes da invasão americana, mais de um milhão de cristãos viviam no país. Eles são agora apenas 350 mil, metade dos quais na província de Nínive, da qual Mossul é a capital.
Hoje o padre Issou é escoltado por milicianos fortemente armados, cruz carregada no pescoço ou tatuada no braço: são membros das "Brigadas da Babilônia", formadas por cristãos iraquianos para enfrentar o EI.
Eles lutam sob a bandeira da Hachd al-Chaabi, as unidades de Mobilização Popular, uma coalizão dominada por grupos paramilitares xiitas ao quais o governo iraquiano apelou após a derrota de suas forças contra os extremistas.
"Nós demonstramos que é possível reconquistar o lugar, apesar do nosso pequeno número: o que precisamos é a fé", lançou o coronel Dhafer Luis, chamando seus companheiros cristãos a retornar às suas terras.
G1