O dirigente líbio Muamar Kadhafi sofreu um duro golpe político com a deserção de seu ministro das Relações Exteriores, Mussa Kussa, apesar de, no terreno, suas tropas conseguirem que as forças rebeldes retrocedessem no leste do país.
Apesar de Mussa Kussa ser uma das principais figuras do gabinete Kadhafi, o regime reagiu à notícia da deserção do ministro afirmando que "não dependia de indivíduos", segundo o porta-voz Mussa Ibrahim.
Segundo o porta-voz, as autoridades líbias autorizaram que Mussa Kussa saísse do país para receber atenção médica na Tunísia.
"O sr. Kussa pediu para viajar para a Tunísia para tratamento médico. Recebeu permissão. Depois, entendemos que ele decidiu renunciar a seu posto. Esta decisão é pessoal. A Líbia não depende de indivíduos", declarou Ibrahim durante coletiva de imprensa.
De acordo com Ibrahim, a "Líbia não será afetada por esta decisão".
Mussa Kussa, de 59 anos, esteve vinculado nos últimos anos a todas as negociações que permitiram que a Líbia voltasse a ser frequentável para o Ocidente.
Em sua condição de chefe do serviço de inteligência, de 1994 a 2009, Kussa foi o homem forte dos comitês revolucionários, coluna vertebral do regime líbio e homem de confiança de Kadhafi.
Para a Casa Branca, a renúncia de Kussa representa um duro golpe para Muamar Kadhafi e mostra que os colaboradores do líder líbio já não confiam em seu regime.
"É uma renúncia importante e um duro golpe para o regime. Mussa Kussa era um dos adjuntos em quem Kadhafi mais confiava", assinalou Tommy Vietor em um comunicado. Segundo ele, o ex-ministro pode proporcionar informações importantes sobre o estado de ânimo de Kadhafi e sua estratégia militar.
Para o secretário britânico do Foreign Office (Relações Exteriores), William Hague, a deserção de Kussa demonstra que regime líbio "está afundando por dentro".
Kussa, que está em Londres, não recebeu uma oferta de imunidade da justiça britânica e internacional, destacou Hague.
Um alto dirigente americano classificou a deserção como uma notícia muito importante, que mostra que os colaboradores de Kadhafi já não confiam na solidez do regime.
A renúncia de Kussa é "um sinal de que os dias do regime estão contados", segundo o ex-ministro líbio da Imigração, Ali Errischi, falando à rede de televisão France-24.
"Sempre disse que os dirigentes líbios são todos reféns em Trípoli. É incrível ver de que maneira Kussa conseguiu escapar. Kadhafi já não conta com ninguém. Agora são só ele e seus filhos", acrescentou.
Por outro lado, a Otan assumiu às 06H00 GMT desta quinta-feira o comando das operações na Líbia, substituindo os Estados Unidos à frente da coalizão internacional que, desde 19 de março, dirige a intervenção contra as forças de Muamar Kadhafi, anunciou o secretário-geral da organização com sede em Bruxelas, Anders Fogh Rasmussen.
"Às 06H00 GMT (03H00 de Brasília) de quinta-feira, a Otan tomou o comando das operações aéreas internacionais na Líbia", anunciou Rasmussen.
"A Aliança dispõe de todos os meios necessários para conduzir suas missões sob a competência da operação ”Protetor Unificado”: o embargo das armas, a zona de exclusão aérea e as ações para proteger os civis e centros urbanos", acrescentou.
No terreno, as forças governamentais líbias e os rebeldes se enfrentavam nesta quinta-feira nos arredores do terminal petroleiro de Brega (leste), segundo depoimentos obtidos pela AFP a 30 km do local.
Os rebeldes instalaram um posto de controle a leste de Brega, na estrada que vai até Ajdabiya, e não era possível saber quem controlava o terminal petroleiro.
Segundo os depoimentos, os combates são violentos na cidade, que fica 800 km a leste de Trípoli. Aviões sobrevoavam a região e executavam bombardeios, mas não foi possível determinar os alvos atacados.
Segundo o capitão do Exército líbio Awad Alourfi, que passou para o lado da rebelião, Brega é cenário de batalhas nas ruas e pequenos grupos leais a Kadhafi "percorrem a cidade em veículos e disparam contra as pessoas".
Pelo menos um rebelde morreu nos confrontos.
"Esperamos os ataques aéreos e depois avançaremos", disse Alourfi.
O regime líbio denunciou o apoio militar da coalizão internacional aos rebeldes, cujo avanço foi freado no últimos dias pelas tropas leais a Kadhafi.
Segundo o jornal The New York Times, agentes da CIA foram mobilizados na Líbia para contatar os rebeldes, enquanto o canal ABC afirmou que o presidente Barack Obama autorizou ajuda, em segredo, aos rebeldes.
Para o almirante Mike Mullen, chefe do Estado Maior americano, no entanto, as forças armadas líbias ainda não estão à beira do colapso, embora os ataques da coalizão tenham deixado fora de combate um quarto das forças do ditador.
"Prejudicamos seriamente os meios militares (das forças de Kadhafi), sua defesa antiaérea, seus recursos de comando; reduzimos seu exército em 20 a 25%", declarou Mullen, em uma audiência no Congresso americano.
"Mas isto não significa que eles estejam à beira do colapso do ponto de vista militar, porque simplesmente não é o caso", destacou o general.
Cerca de mil missões de bombardeio foram executadas por aviões da coalizão desde o início da intervenção internacional na Líbia em 19 de março, e mais de 200 mísseis Tomahawk foram disparados contra posições líbias.
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