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Dez anos depois, EUA ainda pagam preço do 11 de Setembro

Dez anos depois, EUA ainda pagam preço do 11 de Setembro

Foi um dia em que o inimaginável se tornou real. Em 11 de setembro de 2001, em uma manhã de céu azul, aviões comerciais destruíram as Torres Gêmeas do World Trade Center e uma das paredes do Pentágono.

No total, 2.977 pessoas morreram no maior ataque da história dos Estados Unidos, que incluiu ainda um avião que caiu em um campo na Pensilvânia.

Os americanos descobriram atônitos a força sem precedentes de um inimigo sem rosto. Os ecos deste dia trágico irradiaram para diversos setores do governo e da sociedade e transformaram o conceito de ameaça e segurança no mundo do século 21.

Washington reagiu e lançou o país em uma caçada aos responsáveis que foi das remotas vilas montanhosas do Afeganistão aos desertos do Iraque.

Na chamada "guerra ao terror" inaugurada pelo republicano George W. Bush, o custo foi alto e a conta é paga até os dias de hoje.

"O 11 de Setembro nos fez reagir exageradamente porque estávamos dominados pelo medo e pela fúria. Os americanos queriam vingança e nós decidimos ir muito mais fundo do que precisávamos", diz David Rapoport, especialista em terrorismo e professor da Universidade da Califórnia.

Rapoport e outros analistas ouvidos pela Folha.com criticam a decisão do governo de Bush de se lançar em uma guerra no Iraque, em março de 2003, antes mesmo de encerrar sua missão no Afeganistão.

Assim, o Exército americano se viu pela primeira vez em duas guerras simultâneas, que se arrastariam por anos e que incharam a verba do Pentágono.

O preço das duas guerras já chega a algo entre US$ 3,2 trilhões e US$ 4 trilhões, segundo o Instituto de Pesquisas do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Brown. Este valor representa entre 40% e 49% do aumento da dívida pública no período, que passou de US$ 6,8 trilhões a mais de US$ 14 trilhões.

Um estudo do economista Ryan Edwards, publicado em junho passado, estima que que, sem guerras, a relação da dívida pública com o PIB (Produto Interno Bruto) estaria entre 9 ou 10 pontos percentuais menor. Hoje, ela se aproxima dos 100% do PIB de US$ 14,6 trilhões.

Já os economistas Linda Bilmes e Joseph Stiglitz vão mais longe. Em artigo publicado em 2010, eles afirmam que as guerras e suas consequências, como a compra de novos armamentos e, principalmente, o aumento dos preços do petróleo, drenaram para fora dos EUA somas colossais, que poderiam ter sido gastas para apoiar um desenvolvimento mais harmonioso do país, principalmente através da educação.

AUTO INFRINGIDO

Os danos financeiros à maior potência do mundo faziam parte dos planos da Al Qaeda. Em um vídeo divulgado em março de 2004, o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden, disse que usava contra os americanos os mesmos métodos usados pelos mudjahedines contra a ocupação soviética no Afeganistão.

"Daremos prosseguimento a esta estratégia sangrando a América até o ponto de quebra", declarou ele.

David Gibbs, autor de textos sobre a guerra ao terror e a ocupação do Afeganistão, defende contudo que os danos financeiros causados aos EUA na última década foram, em sua maioria, auto infringidos.

"Ao reagir exageradamente e agressivamente aos ataques, com invasões em ampla escala a dois países, ataques em todo o mundo em menor escala e grande aumento na presença em outros países, a cura foi pior que a doença. O dano financeiro e de segurança que os EUA se infringiu é muito mais grave do que a Al Qaeda fez ou poderia fazer", defende.

Gibbs lembra que as guerras foram acompanhadas ainda de reduções de impostos, um coquetel que intoxicou a dívida pública americana.

CORTE

Herdeiro das duas guerras, o presidente Barack Obama falava em encerrar os conflitos desde sua campanha. No poder, cumpre o prazo de retirada do Iraque (apesar de negociações para estender a presença americana), mas viu que a situação no Afeganistão não era tão simples.

Obama delimitou um ambicioso projeto de retirada que começou este ano e vai até 2014, 13 anos após a invasão.

Estimativas apontam uma economia de cerca de US$ 1 trilhão aos cofres públicos com o fim das duas guerras.
"O plano inicial de Obama era escalar no Afeganistão para encontrar Bin Laden e voltar o mais rápido possível para casa. O problema é que o mais rápido possível não é muito rápido", diz o professor de Ciência Política da Universidade da Pensilvânia Rogers Smith, que vê um legado profundo das guerras nos cofres públicos do país.

Para Ian Lustick, autor do livro "Trapped in the War on Terror" (preso na guerra ao terror, em tradução livre), os dez anos do 11 de Setembro marcam um momento de grande pressão pública pelo fim da guerra do Afeganistão.

"Não apenas pela morte de Osama bin Laden, mas porque a guerra não tem um propósito claro e se arrastou por tanto tempo sem nenhum futuro positivo em vista", disse à Folha.com.

ECONOMIA

Criticado pelo mau desempenho da economia dos EUA e a apenas um ano de nova eleição, Obama liderou um esforço para conter os danos e enxugar o orçamento base de Defesa –estimados em US$ 553 bilhões para o ano fiscal de 2012.

O plano de austeridade aprovado em agosto pelo Congresso inclui um corte inicial de US$ 350 bilhões na área, que representa o primeiro golpe aos cofres do Pentágono desde os anos 90.

O acordo afirma ainda que uma comissão do Congresso precisará propor US$ 1,5 trilhão em cortes adicionais até novembro –caso isso não aconteça, haverá cortes automáticos da ordem de US$ 1,2 trilhão a partir de 2013, metade deles nos gastos militares.

O rombo nas contas levou o militar de mais alta patente do Exército americano, o almirante Michael Mullen, a qualificar a dívida pública de "mais importante ameaça à segurança nacional".

 

Com agências de notícias

 

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