A crise política no Egito fez com que os Estados Unidos e a cúpula das Forças Armadas do país abandonassem o presidente Hosni Mubarak, alvo principal dos protestos que já duram 13 dias e levaram milhares de pessoas às ruas para pedir reformas democráticas no país. A aposta agora é em uma transição comandada pelo vice-presidente Omar Suleiman, que surge como figura central para a solução da crise.
Neste domingo, Suleiman esteve reunido com membros de diversos grupos de oposição, dentre eles a Irmandade Muçulmana, do partido Wafd (direita) e Tabammou (esquerda). Também participaram representantes de Mohamed ElBaradei, ex-diplomata da ONU e importante figura da oposição. O presidente não participou dos encontros.
Mubarak, de 82 anos, é um antigo aliado americano na região. Foi colocado e mantido no poder para, entre outras coisas, sufocar o radicalismo islâmico e manter a estabilidade em um país estratégico para os interesses americanos.
Ele esteve com todos os presidentes americanos desde 1981, quando assumiu o cargo. O próprio Barack Obama escolheu o Egito para fazer, em 2009, seu importante discurso de conciliação com os muçulmanos do mundo.
Sob o comando de Mubarak há três décadas, o Egito é um dos poucos países no Oriente Médio a reconhecer Israel, não por acaso um dos países mais temerosos pela sua saída. Mas, depois do clamor popular por democracia e do caos que tomou conta do país por causa dos protestos, Mubarak se tornou um problema.
Um claro sinal do enfraquecimento do presidente foi a renúncia neste sábado (5) de toda a cúpula do partido governista. As saídas incluíram Gamal, filho do presidente e há muito tempo tido como seu mais provável sucessor.
O Exército também dá sinais de que não está alinhado a Mubarak. O fato de não ter atuado para reprimir os manifestantes já foi um indício. Desde a independência do Egito, em 1953, nenhum presidente governou sem o apoio dos militares.
Ex-chefe do serviço de inteligência do regime, o vice nomeado por Mubarak – o cargo não existia antes da crise – é agora a maior esperança dos americanos para uma transição tranquila no país.
Hillary dá declaração de apoio explícito a Suleiman
Ontem, os EUA deram a primeira declaração explícita de que apoiam a transição liderada pelo vice-presidente egípcio. A manifestação veio da secretária de Estado, Hillary Clinton, que participava de uma conferência em Munique, na Alemanha.
– Há forças em qualquer sociedade, particularmente em uma que enfrenta esse tipo de desafio, que tentarão tumultuar o processo ou tentar impor a sua própria agenda. É por isso que eu acho importante seguir o processo de transição anunciado pelo governo egípcio, atualmente liderado pelo vice-presidente Omar Suleiman.
Neste domingo, a Irmandade Muçulmana, um dos principais grupos da oposição no Egito, afirmou em um comunicado que "iniciou um diálogo" com as autoridades egípcias para ver "até que ponto elas estão dispostas a aceitar as exigências da população".
Grupo islâmico se reúne com o vice-presidente
Um responsável do movimento afirmou sem se identificar que "foi realizada uma reunião no sábado de manhã entre os responsáveis da Irmandade Muçulmana e o vice-presidente Omar Suleiman.
– Desejando preservar os interesses da nação e de suas instituições e ansiosos para preservar a independência do país e sua rejeição de qualquer interferência internacional ou regional em nossos assuntos internos, iniciamos um diálogo para ver se eles estão dispostos a aceitar as exigências da população.
Ironicamente, a Iramandade Muçulmana havia sido colocada na ilegalidade por Mubarak por pressão dos EUA, que temem a influência islâmica nos regimes da região. Mas é o principal e mais organizado grupo de oposição ao presidente.
O outro grande grupo opositor, formado pela classe média e setores pró-Ocidente, passou a ser liderado pelo Prêmio Nobel da Paz, Mohammed ElBaradei. O diplomata, ex-diretor da AIEA (agência nuclear da ONU), voltou ao país e está liderando o movimento de oposição.
A Irmandade Muçulmana já indicou que aceita um governo de coalizão nacional liderado por ElBaradei, que já negocia com os EUA as bases de uma transição no país.
R7