A civilização humana está à beira de um colapso. Malfeitores da máfia Yakuza, exército, alienígenas, todos mancomunados com o Diabo, querem destruir a Terra. Cabe a Jesus Cristo pegar uma metralhadora e usar poderes divinos para salvar a humanidade. Este seria o enredo de "Moral Decay", game de tiro 2D com gráficos que remetem à era 16-bit dos consoles para iPhone, iPod touch e iPad caso a Apple não tivesse censurado o título.
"Tive que mudar e reenviar o jogo para aprovação da Apple por cinco vezes", conta Tim Omernick, presidente da produtora de "Moral Decay", a Infinite Lives, e criador do game. "Eu queria chocar as pessoas. Criar um game com uma ideia que ninguém havia usado antes, testando os limites de o que é apropriado ou não". No clipe acima, é possível ver como seria o jogo original.
Na primeira tentativa, Omernick, que já trabalhou como engenheiro de software para a Apple entre 2005 e 2008, foi barrado pela política da empresa de Steve Jobs. Para evitar problemas de processos com os milhões de usuários de suas plataformas, a companhia barra aplicativos com conteúdos eróticos e que possam ofender grupos religiosos.
Desse modo, Jesus Cristo, o personagem principal de "Moral Decay" – título que em uma tradução livre para o português significa "Decadência Moral" – teve que mudar de nome e de aparência. Sai o nome da figura central do cristianismo e entra Chris T, uma paródia de "Christ", ou Cristo em inglês. O manto branco dá lugar a calças e botas de militar e um torso musculoso, estilo Rambo.
Omernick poderia apenas reclamar da Apple de censura, mas ele pensa de outra maneira: "Eu fui muito burro de ter tentado lançar ‘Moral Decay’ em uma plataforma tão controlada", afirma. "Obviamente, é do melhor interesse deles manter Jesus fora de um game de tiro. Há muitos aplicativos e jogos controversos para [o sistema operacional] iOS e, por isso, me barrarem era algo esperado".
Três meses de trabalho
O game, vendido por US$ 2 na iTunes Store, foi imaginado há cerca de 10 anos, conta Omernick. "Naquela época eu não tinha a experiência necessária para criar um jogo", afirma. "Meu desejo era fazer um game sobre Jesus no estilo de "Contra [clássico de tiro em 2D para os consoles NES e Super Nintendo]. Se você é cristão, é legal porque você controla o Salvador. Se é de outra religião, é engraçado porque é uma paródia".
Para desenvolver "Moral Decay", Omernick trabalhou quatro horas por dia durante três meses quando estava morando na cidade de Busan, na Coreia do Sul."Eu ficava em uma cafeteria à beira da praia usando internet de graça e bebendo café gelado, o que foi ótimo pois pude me concentrar sem distrações".
O título, que apresenta um nível alto de dificuldade até para jogadores experientes, exige que o jogador controle Chris T, pulando em plataformas e atirando nos inimigos, que explodem ao receber tiros. Ele come pizza para e, como em qualquer jogo, renasce quando morre. A diferença é que o termo bíblico "ressuscitar" é exibido quando o jogador reinicia a partida.
Além de enfrentar inimigos na Terra, o herói usa seus poderes para ir até a Lua e enfrentar o Diabo em uma batalha antológica. "Os jogos de hoje estão muito fáceis. Na época em que eu jogava NES e Super Nintendo, os games exigiam habilidade e você se sentia muito poderoso ao conseguir terminar os títulos. Por este motivo, meus favoritos eram ‘Mega Man’, ‘Contra’ e ‘Ninja Gaiden’".
Embora após todas as mudanças o jogo esteja à venda na loja virtual iTunes Store, Tim Omernick não ficou satisfeito com a aparência final do jogo. Outras plataformas "mais liberais" como Android, do Google, PlayStation Network, dos consoles da Sony, e Xbox Live Arcade, da Microsoft, podem receber "Moral Decay" em 2011. "A possibilidade é grande. Pensarei nisso durante este ano", afirma.
G1