A última vez que os liberais comandaram o governo britânico foi em 1922. Desde então o velho partido perdeu espaço e viu conservadores e trabalhistas se revezaram no poder. Sob o rótulo Liberal-democrata desde 1988, o grupo mantém uma bancada considerável no Parlamento. Mas no último dia 15, a atuação do jovem político Nick Clegg surpreendeu os britânicos, empolgou o partido e remexeu o tabuleiro político com o crescimento inesperado da candidatura liberal-democrata.
Jovem, bonito e bom de discurso, Clegg avançou sobre o candidato conservador David Cameron e o trabalhista Gordon Brown. Os dois estavam preocupados em atirar um contra o outro, mas não tinham munição contra Clegg, que acabou ganhando espaço.
O jovem político de 43 anos defendeu, por exemplo, que os US$ 30 bilhões (R$ 52 bilhões) que os britânicos pretendem investir na renovação de seus submarinos nucelares sejam investido em políticas sociais. O partido de Clegg também foi contra a invasão do Iraque por forças britânicas e americanas em 2003. A mentira em torno das armas de destruição e massa lhe deu um argumento e tanto nestas eleições.
Na pesquisa do instituto YouGov, publicada nesta sexta-feira (23), Cameron ainda lidera, com 34%, com Gordon e Clegg empatados com 29%.
Clegg foi ator e é poliglota
Formado em Arqueologia e Antropologia pela prestigiada Universidade de Cambridge, Clegg foi ator nos tempos de estudante e depois trabalhou como jornalista. Sua estreia na política se deu em 1999, como deputado britânico no Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França.
Foi nesse tempo que Clegg conheceu, na Bélgica, sua mulher Miriam González, uma advogada espanhola. Poliglota, filho de uma holandesa e de um pai meio russo, Clegg tem três filhos. Conhecido pela franqueza, o líder liberal-democrata provocou polêmica ao dizer numa entrevista à revista GQ que havia dormido "não mais do que com 30 mulheres".
Desde o debate do último dia 15, o primeiro da história britânica, Clegg se tornou uma sensação no Reino Unido. Ainda que a grande maioria dos analistas políticos não acredite na vitória dos liberais-democratas, há um grande risco do partido de Clegg mudar o plano de conservadores e trabalhistas.
Se nenhum dos dois grandes partidos conquistar a maioria das cadeiras do Parlamento, eles terão de negociar com Clegg e formar um governo de coalizão. Em 2007, quando assumiu a liderança dos liberais-democratas, Clegg disse que seu partido nunca seria o mesmo:
– Eu quero que os liberais-democratas sejam o futuro da política, para quebrar essa dobradinha sufocante de dois partidos para sempre.
A dobradinha conservadores-trabalhistas já sente os efeitos.
R7