No livro “Politicídio”, o neerlandês Middelaar discute como intelectuais franceses destruíram o pensamento político após a II Guerra Mundial. Como a intelectualidade francesa foi corrompida a ponto de tornar a política um campo de retórica bélica e justificação de violência?
O marco do “politicídio” francês foram as palestras, de 1933 a 1939 em Paris, do russo Alexandre Kojève sobre a “Fenomenologia do Espírito” de Hegel. Kojève interpretou a política como campo de luta histórica entre senhor e escravo.
A política, para Kojève, era o campo da luta por reconhecimento. E culminaria com a consolidação de um Estado universal e homogêneo. A liberdade individual deveria ser sacrificada a um Estado total. Ele se tornou forte defensor do totalitarismo soviético de Stálin.
A influência corrosiva de Kojève se estendeu, principalmente, sobre a geração do existencialismo marxista (1945-1960) capitaneado por Sartre e, por breve período, Merleau-Ponty, que defenderam a violência como método político.
Em seguida, a geração nietzschiana (1960-1975) foi inflamada pela libertação dos desejos (Deleuze) e pela resistência aos poderes microfísicos (Foucault), opondo-se às estruturas e instituições tradicionais.
Apenas com a disseminação do “Arquipélago Gulag” de Alexandre Soljenítsin, por volta de 1975, a intelectualidade francesa começou um processo de afastamento do radicalismo político, voltando-se para Kant e para a noção de república e democracia.
Essa história mostra que a corrupção moral de intelectuais pode desaguar na destruição da política enquanto campo de solução pacífica de divergências.
Anderson Paz