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Processo eleitoral na Argentina lembra o do Brasil dos anos 1950

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"Cortá la boleta." A frase repetida à exaustão pela propaganda da oposição na Argentina tem pouco sentido para os brasileiros. “Corte a cédula”, como pode ser traduzida, revela uma das muitas diferenças entre os sistemas eleitorais dos dois países: o uso de cédulas de votação dos próprios partidos, que no Brasil foi abolido nos anos 1950.

Neste domingo (23), quando quase 29 milhões de argentinos vão às urnas para escolher o próximo presidente, renovar parte do Congresso e os governadores de nove estados, eles poderão optar por levar a sua própria cédula de casa ou usar as que estarão disponíveis na “sala escura”, como é chamado o local de votação.

Se decidir votar em candidatos de diferentes partidos e alianças para os cargos em disputa, o eleitor deverá cortar as cédulas, que já vêm confeccionadas com uma linha tracejada. O voto é então depositado num envelope e depositado na urna.

Num pleito em que a reeleição da presidente Cristina Kirchner é dada como certa, a oposição busca dividir os votos e eleger mais candidatos no Congresso, limitando os poderes da mandatária para aprovar leis ou mudar a Constituição para se perpetuar no poder- como fez seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner, morto há um ano, quando governou o estado de Santa Cruz.

Listas e partidos
Esta não é a única diferença que chama a atenção na eleição argentina em relação ao Brasil. As cédulas apresentam listas fechadas, escolhidas pelos partidos. Um mesmo partido pode apresentar diferentes listas, que são numeradas. É comum ver candidatos pedindo votos para a lista 156 ou 320, por exemplo.

Diferentemente do Brasil, onde PT e PSDB costumam polarizar as disputas presidenciais e em quase todos os estados, na Argentina há ainda o peronismo, principal força política do país, que abriga diferentes tendências.

Sob o mesmo peronismo, mas por alianças e correntes diferentes, concorrem a presidente Cristina Kirchner, o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) e o governador da província de San Luis, Alberto Rodríguez Saá.

“O PT também tem diferentes grupos de esquerda que convivem, mas nos momentos cruciais, a direção do partido dá a diretriz e acabou. No peronismo, não existe isso”, compara o professor de Relações Internacionais da Uerj e da Universidade de Rosario, Williams Gonçalves.

Para ele, a política “intraperonista” é mais importante do que aquela travada com os demais partidos na Argentina.

Propaganda eleitoral
Na Argentina também não há Justiça Eleitoral, e a campanha é realizada pela Direção Nacional Eleitoral, um órgão que pertence ao Ministério do Interior. Anúncios governamentais e solenidades públicas são vedados 15 dias antes das eleições, mas a presidente continou a participar de atos privados do governo em plena campanha.

Ao contrário do Brasil, os ocupantes de cargo público também não precisam se desvincular para concorrer. Assim como Cristina, o candidato a vice Amado Boudou, ministro da Economia, e o oposicionista Hermes Binner, apontado como o segundo lugar nas pesquisas e prefeito da província de Santa Fé, continuam despachando em seus gabinetes durante a campanha.

A propaganda partidária também é vista facilmente em repartições públicas e prédios oficiais, inclusive a Casa Rosada, sede do governo argentino.

Apuração
Para ganhar a eleição, os candidatos à Presidência deverão obter 45% dos votos válidos, ou 40% com 10% de diferença em relação ao segundo mais votado.

A votação começa às 8h e deverá terminar às 18h em todo o país. A Direção Nacional Eleitoral prevê que os primeiros resultados oficiais comecem a ser divulgados por volta das 21h (22h de Brasília). O novo presidente deve tomar posse em 10 de dezembro.

 

G1

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