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Sozinho, adolescente refugiado tenta nova vida sem a família

 A estação de trem de Munique se tornou destino para dezenas de milhares de pessoas que pegam a rota de migração desde a região dos Bálcãs, causando grandes dores de cabeça para a Alemanha, que retomou as checagens na fronteira numa tentativa de conter esse fluxo.

Muitos dos que chegam são crianças que viajaram longas distâncias sem suas famílias.

Um deles era Ali, um garoto desacompanhado de 15 anos de Cabul, que desembarcou do trem em Munique, escala final de uma dura jornada por terra e mar.

Ele viajou com um grupo de jovens amigos do Afeganistão, todos aparentemente sem as famílias.

Os garotos viajaram por terra até a Turquia, e de lá por barco até a Grécia, atravessando o oeste dos Bálcãs rumo à Áustria, e finalmente até a Alemanha.

Medo e cansaço
Exausto e faminto, o menino foi ao banheiro, mas perdeu seus amigos de vista ao sair no meio do caos e da multidão na estação.

De repente ele se viu completamente sozinho e incapaz de se comunicar em alemão ou em qualquer outra língua que as autoridades pudessem entender.

Aos poucos, tomou coragem para se aproximar de uma base policial provisória montada por um órgão alemão de defesa civil.

A polícia começou a procurar por alguém que falasse farsi (falado no Irã, Afeganistão e algumas regiões de outros países) e foi ajudada pela autora desta reportagem nessa mediação.

Ali passou por um check-up médico simples e recebeu água e comida.

Ele ainda tremia. Integrantes das equipes de apoio e voluntários enrolaram um cobertor em seus ombros e tentaram acalmá-lo.

Tenho medo da polícia, tenho medo de me mandarem de volta para o Afeganistão,ele disse, aos prantos.

O medo e o cansaço estavam nítidos em seus olhos.

Aulas de alemão
Pouco depois, um assistente social levou Ali de carro até o Haus 7, um centro de recepção de refugiados destinado a menores de idade desacompanhados.

Mais de 10 mil crianças refugiadas sem acompanhamento vivem na Alemanha, muitas delas do Afeganistão e da Síria.

No caminho ao Haus 7, Ali foi se acalmando, e ouviu com fascínio o diálogo em alemão entre o assistente social e o taxista iraniano.

Essa língua parece tão estranha e diferente, disse ele.

Eu iria adorar poder falar essa língua um dia.

Quando o assistente social contou que ele iria receber aulas de alemão, Ali sorriu pela primeira vez desde sua chegada a Munique.

O centro de refugiados fica numa antiga vila militar. Há ruas arborizadas no entorno, e garotos jogavam basquete numa quadra próxima quando o carro chegou.

Ao entrar no Haus 7, Ali foi recepcionado por um enfermeiro curdo de 20 e poucos anos, que disse que havia vários outros meninos afegãos por lá e que ele logo faria amigos.

O passo seguinte de Ali foi passar por registro e mais exames médicos básicos, para verificar possíveis ferimentos à bala ou doenças contagiosas.

A idade do garoto também será determinada em algum momento. Autoridades alemãs dizem que muitos jovens refugiados mentem sobre a idade, já que menores têm o status de refugiado garantido.

Ali passará algumas noites no Haus 7, até ser realocado numa moradia provisória, onde passará três meses num programa para determinar suas necessidades: o tipo de educação ou treinamento vocacional mais adequado, e se precisará de acompanhamento psicológico.

Muitas crianças enfrentam tanta dor e sofrimento nesse processo que acabam recorrendo à autoagressão.

Sua rotina será estruturada e ele receberá aulas básicas de alemão. Depois de três meses, deverá ir para uma moradia permanente.

A Alemanha foi o principal destino para afegãos em busca de refúgio no ano passado, e quase 70% desses candidatos receberam permissão para permanecer no país, segundo uma agência da União Europeia para políticas de asilo.

Msn
 

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