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Touradas viram foco de debate na Espanha

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A Espanha passa nos últimos meses por um debate acalorado que pode decidir o futuro de uma de suas mais conhecidas e características tradições: as touradas. O Parlamento da Catalunha tem realizado uma série de debates que podem levar à proibição de qualquer evento relacionado às festas com touros na região. A expectativa das entidades a favor do banimento, compostas em sua maioria por ativistas ambientais, e o temor dos que a defendem, liderados por profissionais da área e setores mais conservadores da sociedade espanhola, é de que a iniciativa seja imitada em outras regiões do país.

Neste domingo, em Madri, está programada uma grande manifestação pedindo o fim das touradas e em protestos com a declarada defesa do governo local ao evento. 50 mil manifestantes são esperados para marcharem da Plaza de La Villa até a Plaza del Sol.

Nunca a legitimidade das touradas, ou corridas de touro, ou “fiestas” para os mais aficionados, foi tão discutida no país. Afinal, trata-se de um evento que existe nos moldes atuais há cerca de 200 anos, chegando ao ponto de tornar-se um estereótipo da Espanha. Os dois lados tem recebido apoio público de personalidades políticas e artísticas de todo o país e até mesmo do exterior, como o Rei Juan Carlos, confesso defensor da tradição, e o Dalai Lama, que a classificou como uma “prática cruel”.

G1 entrevistou ativistas que defendem as duas tendências. Luis Corrales é diretor da Plataforma para a Promoção e Difusão da Fiesta, entidade criada depois que as primeiras restrições legais na Catalunha começaram a tomar corpo em 2004.

 

Manel Maciá Gallemi, do grupo "Prou!" ("Basta!", em catalão) é ativista e defensor dos direitos dos animais, e um dos principais articuladores da proposta de proibição das touradas na região catalã.

 

O único ponto que parecem ter em comum é que suas causas vão além da defesa das touradas: ambos esperam que a decisão final do parlamento catalão sobre o tema, ainda sem data de votação definida, poderá marcar um novo rumo para a sociedade espanhola.

 

As razões pró

Os defensores da Tauromaquia – termo dado ao conjunto de tradições que envolvam embates entre homens e touros, no qual se inclui as touradas – são chamados de taurinos. O filósofo Francis Wolff, autor do livro “50 razões para defender as Corridas de Touro”, afirma que elas representam um gosto por uma expressão artística que tem mais a ver com a modernidade e não com a apologia da violência ou da brutalidade.

 

Na verdade, seria o contrário: segundo Wolff, trata-se de uma violência natural sendo ritualizada e sublimada. As touradas não teriam sentido se o touro não morresse ao final nem se o toureiro não corresse o mesmo risco.

Os taurinos adotam esse nome por alegar que são os maiores admiradores e defensores dos touros. Justificam seu negócio alegando que, além de gerar milhares de empregos, os animais são mais bem tratados do que os bovinos destinados à produção de alimentos, pois são criados e campo aberto e “sofrem apenas no último dia de vida”.

 

As razões contra

O argumento central e que, para seus defensores, justifica toda a mobilização dos antitaurinos, gira em torno do sacrifício desnecessário e aos maus tratos infligidos aos animais. Para os favoráveis à proibição, não há cultura, tradição, negócio ou direito individual que justifique um animal entrar em uma arena, ser alvejado por lanças (bandeirilhas), humilhado e por fim, executado com uma espada atravessando sua cabeça. São consideradas por eles práticas de “barbárie” e “tortura”.

Gallemi , por sinal, refuta as alegações de que todos os touros bravos são bem tratados e criados em campo aberto, além de criticar que eles vão para a arena muito jovens. “Se um grupo de animais existe somente para ser torturado e morto, então é melhor que seja extinto”.

Popularidade

Com mais de cem anos de história, as corridas de touro organizadas no formato evento cultural e econômico enfrentam uma de suas piores crises. Além das cada vez mais constantes e barulhentas críticas de seus opositores, as “corridas de touro” sofrem com a diminuição e o envelhecimento do público nas arenas, além de terem sido afetadas pela crise econômica do país.

De acordo com o diário El Pais, em 2009, só se realizaram 900 grandes espetáculos tauromáticos na Espanha, 350 a menos do que em 2008. Em queda na Catalunha, as touradas seguem relativamente populares nas comunidades de Madri, Andaluzia, Extremadura e Valencia.

A última grande pesquisa de opinião sobre o tema foi realizada em agosto de 2008, pelo instituto Investiga-Gallup. O resultado não poderia ser mais desanimador para as “corridas de touro”: 67% dos espanhóis, ou seja, quase dois terços dos entrevistados, não tem qualquer interesse pelo tema. Entre os mais jovens, esse número sobe para 85%. A falta de interesse é majoritária até mesmo entre os homens com mais de 65 anos: apenas 41% são um pouco ou muito interessados. Entretanto, não há uma pesquisa clara a respeito que cogite a proibição do evento.

 

Bem cultural

Uma das principais razões para a manifestação de Madri programada para a tarde deste domingo foi a recente decisão da presidente da Comunidade de Madri, Esperanza Aguirre, do conservador e pró-taurino Partido Popular (PP), em transformar as touradas em um Bem de Interesse Cultural (BIC). Na prática, essa mudança inviabilizaria qualquer tentativa legal de proibi-la. Não houve qualquer tentativa por parte de sua equipe em negar que o ato foi uma retaliação ao debate na Catalunha, região rival e de natureza nacionalista. Entretanto, Aguirre não admite sua intenção abertamente.

Seu argumento era de que a “Fiesta” “é uma manifestação artística que merece ser protegida. Desde tempos imemoriais pertence à cultura espanhola e mediterrânea. Pablo Picasso, Francisco de Goya, Federico García Lorca e estrangeiros como Ernest Hemingway e Orson Welles trataram das touradas como arte”, argumentou Aguirre em seu discurso de defesa.

“Obviamente somos contra essa manobra. Sofrimento, tortura e morte não podem ser de interesse cultural. A arte de verdade pode representar o sofrimento, mas não recriá-lo”, argumenta Gallemi.

As comunidades de Valencia e Murcia, também governadas pelo PP, já iniciaram a tramitação para copiar o processo. Em Extremadura, se estuda medida parecida. Por outro lado, associações ambientais, com o apoio de partidários verdes, estudam copiar a iniciativa catalã na comunidade das Astúrias.

A única comunidade espanhola onde as corridas de touro são as Ilhas Canárias, arquipélago distante da Península Ibérica localizado no continente africano. “As Canárias não servem de exemplo. A proibição chegou dez anos depois das touradas terem desaparecido por morte natural. O objetivo inicial da medida era proibir as lutas de galo, que continuam sendo legais“, informou Luis Corrales, da Plataforma. De qualquer forma, as touradas já foram proibidas nos últimos anos em 80 cidades espanholas, sendo que 71 delas estão localizadas na Catalunha.

G1

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