A empresa chinesa de biotecnologia Sinovac anunciou, no sábado (13), que a vacina em testes no laboratório para a Covid-19 induziu a produção de anticorpos em mais de 90% dos pacientes que receberam a dose.
A substância é a mesma que deve ser aplicada em voluntários brasileiros no Instituto Butantan, em São Paulo, que fechou uma parceria com a empresa na semana passada.
Ainda não foi publicado um estudo científico com os resultados dos testes. De acordo com nota divulgada pela Sinovac, 600 pessoas participaram desta etapa (fase 2) dos ensaios, mas nem todas foram vacinadas – houve o chamado grupo placebo, que serve de controle e não recebe nenhuma substância.
A empresa não informou quantas de fato receberam a vacina, chamada de “CoronaVac”, ou quantas produziram os anticorpos. Não houve efeitos colaterais severos, segundo o comunicado.
A microbiologista Natália Pasternak, do Instituto Questão de Ciência, explica que ensaios clínicos em fase 2, como este, normalmente são feitos com centenas de pessoas, e tentam descobrir como as pessoas reagem às substâncias.
“Você vai ver qual é a resposta imune das pessoas a essa vacina. Ainda não é a eficácia, mas você começa a descobrir como as pessoas reagem à vacina: medir anticorpos, resposta celular, ver parâmetros de sangue de como as pessoas estão reagindo”, diz Pasternak.
Os anticorpos neutralizantes da Covid-19 apareceram depois de 14 dias, segundo a empresa. Pasternak avalia que é “bastante provável” que a vacina dê alguma imunidade contra a doença.
“Anticorpos neutralizantes são protetores; mas não sabemos quanto tempo essa imunidade dura – isso só saberemos com o tempo, mesmo. Por isso testa contra um placebo, para ver se a vacina realmente está protegendo. Mas é justamente isso o que a fase 3 vai dizer. Parece ser uma boa vacina”, explica Pasternak.
A Sinovac informou que pretende continuar a fase 3 dos ensaios fora da China, inclusive no Butantan.
Além dos testes de fase 2, a empresa também conduziu experimentos em fase 1 – quando é testada a segurança da vacina – com 143 voluntários. Ambas as etapas foram feitas de forma randomizada (quando as pessoas são colocadas nos grupos de teste de forma aleatória) e com duplo-cego (quando nem os cientistas, nem os participantes sabem quem está recebendo a vacina e quem não está).
Pasternak avalia que o único “problema” da potencial vacina chinesa é que, por ser “antiquada” em termos de tecnologia, trabalha com o vírus “inteiro” – isso significa cultivar o vírus e, depois, inativá-lo.
“Ou seja, cultivar um vírus respiratório em grandes quantidades. Isso precisa de laboratório especializado, e o custo é alto”, afirma. “Mas, fora isso, são vacinas seguras e que o Butantan sabe fazer”.
Se o novo coronavírus (Sars-CoV-2) sofrer uma mutação, por exemplo, essa vacina não teria eficácia contra ele, segundo a microbiologista.
“Esse vírus não tem uma taxa de mutação alta, então isso é pouco provável, mas, se acontecer, essa vacina não vai mais servir, e não vai servir para outros vírus”, diz.
“A vantagem das vacinas mais modernas é que podem ser construídas de forma versátil, e adaptadas para novos vírus”, pondera Pasternak.
G1
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