Neste ano novo quando haverá eleições para cargos de presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, acho que todos os brasileiros almejam aquilo que o termo acima – ubuntu – tomado de empréstimo da língua zulu da África de Mandela e que bem representou a luta pela união do seu povo, entendido como a necessidade de submissão da atividade pública às exigências e padrões éticos condicionantes das políticas de governo, de modo que uma pessoa seja uma pessoa plena através (por meio) de outras pessoas, enfim, co-responsabilidade social e política baseada na união de todos pelo bem de cada um como ação permanente de governo.
No processo de seleção natural das espécies e Darwin provou bem isso, só os mais fortes sobrevivem, mas não se pode transportar tal lei às sociedades atuais, mesmo por omissão, posto se organizarem sob regras e padrões que a todos devem proteger.
A busca por ascensão social é inerente ao ser humano, assim como o gozo de privilégios que decorram das condições de inteligência, trabalho e posses materiais. Entretanto, quando tais condições e/ou bens são adquiridos à sombra do Estado, da pobreza e aviltamento do povo, pode florescer idéias que muitas vezes desembocam em revoluções.
Costumamos avaliar nosso país, como rico, detentor de imensas terras férteis, lindas e ricas florestas, com um litoral de águas puras e cálidas, que ainda por cima é detentor de verdadeiro mar de petróleo na sua plataforma continental, além de o próprio povo se achar bonito, criativo, alegre e hospitaleiro. Em tal conjuntura, sobressai, igualmente, a nossa incompetência na construção de uma nação economicamente desenvolvida onde os frutos do progresso alcancem a todos os brasileiros. Isto é a nossa secular tragédia.
As distorções do nosso sistema político representativo são gritantes e a república que prometia o fim dos privilégios da monarquia, não só não os aboliu, mas incrementou-os de tal forma que grande parcela dos que exerce atividade pública – parodiando Rui – tem vergonha de ser honesto, mas não dos péssimos serviços públicos que prestam.
As grandes manifestações populares que tomaram as ruas em meados do ano passado no sudeste do país, revelou método novo de conexão com aqueles que detêm responsabilidade político-administrativa: a interlocução direta sobre as reivindicações do povo.
Tal fato – poucos perceberam isso – dispensa a interlocução da representação política existente, o que seria deveras perigoso se fossemos uma nação onde vicejassem radicalismos, face o provável surgimento de algum líder messiânico que canalizasse as frustrações populares, mormente com a nossa incipiente democracia.
Entretanto, para o bem e para mal, não somos um povo dado a grandes rupturas de poder, seja através do voto ou de revoluções. Mas, também é fato inegável, que há visível esgarçamento do tecido social da nação causado pela ineficiência, desperdício e desvio da gestão pública que o povo já não consegue suportar.
Urge que o clamor das ruas seja ouvido e as reformas necessárias à modernização do país e bem-estar da população implementadas. Já não basta pão e circo, como comprovam os escandalosos gastos com a construção e reforma de estádios de futebol, muito dos quais, depois da Copa, não terão utilidade alguma, por falta de bons times nos gramados e público para assisti-los. Ficarão marcados como enormes monumentos ao desperdício de dinheiro público.
Há dois sentimentos que precisam de urgente resposta do Estado brasileiro: insegurança e frustração. No primeiro, aloja-se a violência que grassa e ceifa vidas preciosas e sua vergonhosa conseqüência: a impunidade; no segundo, há todo um mar de problemas que pode ser resumido pelos péssimos serviços que recebe nas áreas de transporte, saúde, educação e justiça, em geral, insatisfatórios e de péssima qualidade.
O povo, dizia Voltaire, pode suportar tudo, menos o desprezo dos seus governantes.
Nós, cidadãos, povo do presente, não podemos contemporizar com a injustiça, pois como nos ensinou Abraham Lincoln, “ninguém consegue escapar da responsabilidade de amanhã, esquivando-se dela hoje”.
Às ruas, mas sem violência e pelo Brasil que todos queremos.