Com a pergunta: “você se considera quilombola?”, pela primeira vez um Censo Demográfico poderá oferecer para a sociedade estatísticas sobre quantos são, onde estão e como vivem os povos quilombolas. Na Paraíba, cerca de 60 localidades devem ser recenseadas ao longo da operação realizada pelo IBGE.
Em respeito à Convenção 169 e, de forma coerente às boas práticas de produção estatística, o IBGE considera quilombola toda pessoa que se autoidentifica como tal, assim como sobre as pessoas ausentes no domicílio no momento do recenseamento. O recenseador perguntará “Você se considera quilombola?”. Em caso afirmativo é feita uma segunda pergunta: “Qual o nome da sua comunidade?”.
O quesito será aberto automaticamente pelo sistema. No entanto, isso não ocorrerá em todos os questionários, mas apenas em locais previamente mapeados e identificados pelo IBGE como áreas quilombolas. Para facilitar o processamento dos dados, essas localidades foram divididas em três categorias:
As comunidades, domicílios ou localidades que eventualmente não tenham sido identificadas durante o mapeamento, serão incluídas nas bases de dados pelos recenseadores, para estimativas de subnotificação.
Além disso, para melhorar a coleta das informações e garantir o sucesso, nas comunidades quilombolas, os recenseadores do IBGE têm procurado as lideranças locais para realizar uma reunião de abordagem. Na ocasião, eles se apresentam, explicam o que é o Censo Demográfico e pedem apoio para, então, iniciarem a coleta.
‘Isso somos nós’
Na comunidade do Gurugi I, localizada no município do Conde, a equipe do IBGE foi recepcionada por Raisa Rodrigues, presidente da associação quilombola local. Nascida e criada na região, ela explicou que já há uma grande expectativa em torno dos resultados da operação, que poderão auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas.
“Esses pequenos avanços relacionados a esse Censo têm grande importância. A gente vem fazendo um trabalho de aceitação, para o Censo mesmo. Em todas as reuniões, sempre falávamos da importância de se declarar quilombola, porque não só é minha história, mas uma de mais de 100, 200 anos de luta, para chegar até aqui. Então, eu tenho que reproduzir e gostar disso. Isso somos nós”, declarou.
Também nascida e criada na comunidade de Gurugi I, Aline Monteiro está exercendo o papel de agente censitária supervisora no Censo Demográfico 2022. Ela pontuou que existem desafios, mas que a experiência como um todo tem sido positiva, especialmente por dar visibilidade ao povo quilombola.
“É uma emoção fazer o levantamento de pessoas que, até então, eram esquecidas. Agora, a gente pode ser reconhecido e ter representatividade nessa pesquisa. Acho que é importante quando você se autodeclara, quando você diz para o mundo: ‘eu sou’. Você ter o orgulho de dizer que é algo que as pessoas normalmente não diriam, há um tempo atrás, que é da comunidade, que representa, que tem aquela vivência. As próximas gerações já não vão ter dificuldade de se autodeclarar”, destacou.
Além de Aline, três integrantes da comunidade, que se consideram quilombolas, estão trabalhando na operação, mas como recenseadores. Henrique dos Santos é um desses recenseadores e relatou que ser da região tem contribuído para que as pessoas se sintam mais à vontade para recebê-lo e para responder o questionário. Para ele, o trabalho tem sido gratificante, por permitir que retratar a realidade da comunidade onde vive.
“Eu falo até nas entrevistas: esse Censo é muito importante, por ser o primeiro que está registrando as pessoas como quilombolas. Nós vamos ter dados e números, para facilitar benefícios e políticas públicas. Então, estou vendo que vai ser muito gratificante e só tenho a agradecer por estar fazendo parte dessa história”, afirmou.
Para atuar nessas localidades, os recenseadores receberam um dia a mais de treinamento. Para que as pessoas se sintam confortáveis em responder ao Censo, é importante que percebam que sua identidade e forma de organização social serão respeitadas. Para isso, foi necessário preparar os recenseadores para saberem lidar com a diversidade e alteridade, na chegada a um território ou comunidade quilombola. Eles também obedecem a protocolos de saúde em relação à Covid-19, como estar com a ausência de sintomas e o uso de máscaras e álcool em gel.
Da Redação com Assessoria
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