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Aluna da UEPB revela problemas na preservação de registros em cemitérios de JP

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 Última morada daqueles que chegaram ao fim do ciclo da vida, os cemitérios guardam muito mais do que restos mortais. Em cada sepultura há a história de alguém que cumpriu sua jornada e deixou um legado para as futuras gerações. Mas nos cemitérios públicos de João Pessoa, os registros históricos dos corpos sepultados nestes locais sofrem problemas de preservação.

Foi o que identificou uma pesquisa realizada pela estudante de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba (UPEB), Rachel Araújo.
O estudo buscou investigar como vem sendo arquivada a documentação dos cemitérios existentes em João Pessoa.
A pesquisa foi pensada depois que Rachel enfrentou dificuldades para localizar o túmulo onde o seu pai estava sepultado, no cemitério da Boa Sentença.
Intitulado “Entre o arquivo morto e os arquivos mortos: estudo das documentações dos cemitérios da cidade de João Pessoa”, a pesquisa foi iniciada no ano passado e reúne elementos que atestam falhas no que se refere à conservação do registro histórico dos mortos.

Foram avaliados no trabalho de campo os cemitérios Boa Sentença, Cristo, Santa Catarina, São José, Penha e Valentina de Figueiredo, este último interditado. Coordenada pela professora Francinete de Sousa, especialista em linguagem documentária, a pesquisa de iniciação científica (UEPB/CNPq) consiste na análise documentária, dentro do paradigma da gestão de documentos, além de averiguar a ocultação dessas marcas na diversidade dos documentos produzidos nos espaços investigados.
Conforme explicou a pesquisadora Rachel Araújo, o arquivamento e a preservação desses documentos revelam a importância dos cemitérios para estudos de conhecimentos diversos.

O principal desafio da pesquisadora ao iniciar o estudo foi levantar as informações relevantes sobre as pessoas sepultadas nos cemitérios da Capital, porque em alguns locais os registros dos mortos ficaram no esquecimento.
Por isso, segundo Rachel, as pessoas hoje têm muita dificuldade para ter acesso a documentos contendo informações sobre a história das pessoas enterradas em João Pessoa. Ela ressalta que alguns túmulos dos cemitérios mais antigos são tombados, mas faltam os registros históricos das pessoas neles sepultadas.

A pesquisadora conta que as pessoas que precisam localizar um túmulo nos cemitérios de João Pessoa enfrentam uma verdadeira peregrinação, devido a falta de informações.

Em muitos casos, documentos importantes como certidão de óbito e livro de mortos foram danificados e deteriorados pela ação do tempo, devido a falta de um arquiviologista para cuidar do material.
Rachel lembra que através da documentação – livros e fotos – é possível reconstruir a história e guardar a memória de uma cidade. Por isso, é preciso conservar esses registros. A pesquisa foi enriquecida com novos dados este ano, quando a Prefeitura Municipal de João Pessoa resolveu realizar um censo sobre os cemitérios pessoenses.

Como resultado da pesquisa, a estudante já identificou a ausência de ações de preservação e restauração dos documentos mais antigos, bem como a falta de uma política cultural que contemple essas instituições. Somente no cemitério Boa Sentença, o maior e mais antigo de João Pessoa, existem mais de 8 mil túmulos.

“Então, como encontrar um túmulo se não existir um arquivista responsável pela organização e classificação dos documentos. Sem esse profissional, fica difícil para o usuário encontrar a sepultura dos seus entes queridos”, ressalta Rachel.
Em seu relatório, a pesquisadora observou que em muitas cidades do mundo os cemitérios fazem parte dos passeios turísticos. Muitas primam pelo resgate da memória e criam uma arquitetura própria nos cemitérios como forma de reverenciar os mortos. O Egito é um dos maiores exemplos dessa reverência, onde milhares de pessoas visitam para ver as múmias.

“Porque não desvendar nossa cultura através da instituição cemitério?”, indaga a Rachel.
Para ela, os cemitérios não são lugar de tristeza e morte, mas um espaço rico culturalmente e que conta toda uma história de vida. “É possível recontar a história a partir dos mortos, o que exige a preservação dos registros dos falecidos”, frisa a estudante.

Rachel destaca ainda que existe um estigma negativo relacionado aos estudos científicos com relação a assuntos que se referem as chamadas “bordas sociais”. Na Paraíba, a estudante desconhece pesquisas sobre os arquivos e suas imagens relacionadas a memória coletiva. Segundo a pesquisadora, “a UEPB está dando uma grande resposta a sociedade ao fazer esse resgate social”.

Sepultamento digno
Com diversos trabalhos sobre a morte publicados, o psiquiatra e professor da UEPB, Edmundo Gaudêncio, considera importante a pesquisa de Rachel Araújo.

Ele enfatiza que o último gesto humanitário que se pode fazer por uma pessoa é o sepultamento digno. A pessoa enterrada, segundo ele, tem toda uma história que precisa ser preservada. Sem esse registro histórico, a pessoa acaba caindo no esquecimento.
Edmundo Gaudêncio lembra que o registro histórico dos mortos é necessário para a família identificar a chamada “última morada”, além de guardar a memória do morto para as futuras gerações.

“O registro histórico é necessário para preservar a memória da pessoa e servir para contar a sua biografia”, observa. Para ele, a perda desses documentos consiste em um desrespeito e grande equívoco em relação ao morto.

Redação com assessoria

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