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Ao PB Agora, pesquisador da UFPB confirma estudo que mostra que 12% de cidade turística da PB pode desaparecer até 2042

Avanço do mar. As raízes de coqueiros expostas servem de alerta. A queda da árvore é inevitável. Prédios com estruturas comprometidas e risco iminente de desmoronamento. O avanço do mar está transformando praias da Paraíba. Um estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revela que até 12% do território total do município de Conde, situado no litoral sul da Paraíba, corre o risco de ser encoberto por água até 2042.

A cidade do Conde é conhecida por receber turistas em praias como Tambaba, Coqueirinho e Tabatinga. O mesmo estudo foi realizado em João Pessoa em 2021 que também apontou avanço do mar em relação a várias localidades.

Em entrevista ao PB Agora, o engenheiro civil da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Celso Santos, que deu detalhes do estudo.

Celso que é um dos responsáveis pelo estudo, explicou que os pesquisadores investigaram dados de quase quatro décadas e concluíram que o mar avançou, em média, 27 centímetros de território por ano, quase 10 metros no total. As imagens de satélite obtidas durante o período de pesquisa mostram que praias como Praia do Amor, Jacumã, Carapibus, localizada ao norte, e Coqueirinho, Arapuca, e Tambaba, localizada ao sul, foram as mais afetadas desde 1985, totalizando cerca de nove metros de perda territorial desde o início do estudo, há 38 anos.

Os reflexos disso são bem visíveis, como na Praia de Carapibus, uma das mais conhecidas do litoral paraibano. Várias construções estão parcialmente destruídas.

“Imagens de satélite foram trabalhadas com inteligência artificial para eliminar nuvens, deixá-las limpas e, assim, a gente determinar as linhas de costa. Depois disso, passamos por várias outras fases para determinar erosão em cada ponto da área de estudo”, explica o engenheiro civil Celso Santos.

O estudo foi publicado na revista científica sobre meio ambiente, Science of The Total Environment, com base em dados das últimas três décadas. Diferentes cenários estipulam o aumento do nível do mar entre 1, 2, 5 e 10 metros nos próximos 18 anos.

O estudo sobre o Conde abrange um período de análise histórica (1985–2022) e projeta futuras mudanças na linha de costa até 2042 sob diferentes cenários de elevação do nível do mar (SLR).
“Usamos 38 anos de dados (de 1985 a 2022) para calcular a erosão ou acreção no litoral do Conde. Com base nesses dados, fizemos projeções para 2032 e 2042. Essas projeções confirmam a tendência à erosão em vários pontos do litoral”, explicou.

As principais causas para esse cenário são o aumento do nível do mar e a intensificação da erosão na zona costeira da cidade. Conforme apontou o estudo, a erosão causada pelo mar acelerou nos últimos anos e a tendência é piorar ainda mais. A cidade de Conde, por exemplo, pode perder até 12% do território para o mar.

A escolha do Conde, para o estudo atual, conforme explicou o engenheiro, justifica-se por múltiplos fatores intrinsecamente relacionados ao seu rápido desenvolvimento socioeconômico, impulsionado pela urbanização, industrialização e turismo.

Este cenário, segundo ele, tem conduzido a uma ocupação costeira intensificada, com destaque para a crescente ocupação humana de áreas de falésias, motivada principalmente pela expansão da indústria turística local.

“A construção de pousadas, hotéis e condomínios tem incrementado a vulnerabilidade das áreas costeiras aos fenômenos naturais, incluindo processos erosivos de longo prazo. Além disso, o desenvolvimento levanta questões pertinentes sobre como diferentes cenários de elevação do nível do mar (SLR) afetarão as mudanças na linha de costa, seja em termos de erosão ou de acreção, e provocarão inundações em diferentes zonas costeiras”, explicou.

Celso Santos que morou 10 anos no Japão, onde fez mestrado, doutorado, pós-doutorado e se tornei professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, explicou que Conde representa um local de estudo significativo devido à sua exposição a desafios dinâmicos relacionados à gestão costeira e à necessidade de compreender as interações complexas entre atividades humanas e processos naturais.

“A análise dessas dinâmicas no contexto do Conde oferece insights valiosos para o desenvolvimento de estratégias de adaptação e mitigação, visando a sustentabilidade de longo prazo das áreas costeiras frente às mudanças climáticas e ao desenvolvimento socioeconômico acelerado”, observou.

Celso destaca que o estudo não calcula o aumento do nível do mar nos próximos anos e, sim, os impactos que possíveis aumentos trariam para a costa paraibana.

“Essa elevação pode acontecer devido ao derretimento das calotas polares e glaciares, além da expansão térmica dos oceanos por causa do aquecimento global. Estes fatores são amplamente impulsionados pelas emissões de gases de efeito estufa resultantes de atividades humanas”, explicou.

Embora o estudo anterior sobre a cidade de João Pessoa tenha fornecido uma análise valiosa das dinâmicas de mudanças na linha de costa em um contexto urbano densamente povoado, o estudo sobre o Conde, segundo o engenheiro Celso, inova ao integrar análises históricas com projeções futuras sob cenários de elevação do nível do mar, empregando metodologias avançadas e enfatizando a aplicação de suas descobertas na gestão costeira adaptativa.


A Superintendência do Meio Ambiente da Paraíba está mapeando mais de 130 km do litoral para identificar pontos vulneráveis ao avanço do mar. A ideia é usar recifes artificiais marítimos para conter o processo de erosão da orla.

Investimento do Estado
Diante do avanço do mar, cidades como Rio Tinto, Marcação, Baía da Traição e Mataraca terão investimentos do Governo do Estado. Os quatro municípios ficam na Região do Vale do Mamanguape (PB), Litoral Norte do Estado. Ao todo, o Governo da Paraíba pretende investir R$ 10 milhões para combater o avanço do mar nos nove municípios costeiros do estado.

O Programa Estratégico de Estruturas Artificiais Marinhas (Preamar-PB), irá tratar nesta nova fase do gerenciamento costeiro integrado dos nove municípios do litoral paraibano, identificando os pontos de erosão marinha e propondo, por meio do conhecimento científico, as medidas necessárias para esta contenção.

Inicialmente o programa contemplava a instalação de recifes artificiais marinhos, áreas temáticas para o mergulho contemplativo e a restauração de ecossistemas coralíneos naturais em João Pessoa, Cabedelo, Lucena e Conde. Agora o Governo da Paraíba expandirá o estudo para Pitimbu, Rio Tinto, Marcação, Baía da Traição e Mataraca.

Segundo o Estado, a ampliação do Preamar-PB é resultado de uma parceria entre o Governo do Estado da Paraíba, por meio da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba (Cinep), o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e o Polo de Inovação do IFPB, por meio da Fundação de Educação Tecnológica e Cultural da Paraíba (Funetec) e o Ministério Público Federal na Paraíba (MPF-PB).

O objetivo do Programa nessa nova fase é realizar um diagnóstico ambiental que possibilitará a compreensão dos fenômenos naturais, do uso e da ocupação do solo e do ambiente marinho, além de identificar as vulnerabilidades presentes nos municípios litorâneos da Paraíba, em longo prazo.

Severino Lopes
PB Agora

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