Três mulheres descobriram, aos 28 anos, que foram trocadas em uma maternidade localizada em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba. A história veio à tona após uma delas, que mora nos Estados Unidos, ter feito um teste genético para tentar encontrar antepassados e montar árvore genealógica.
No dia 24 de janeiro de 2023, quando estava passando férias na casa da família em Cajazeiras, Raylane Amaral, paraibana que mora nos Estados Unidos, recebeu o resultado do teste genético da empresa ‘Ancestry’ que havia feito no mês de dezembro de 2022. A realização do exame genético teve como objetivo encontrar antepassados, pois ela estava fazendo a árvore genealógica da família.
Em seguida, Raylane fez o upload do resultado no site ‘My Heritage’, que busca familiares a partir de documentos e informações genéticas disponibilizadas pelos usuários, além de permitir a criação de árvores genealógicas. A plataforma tem um recurso que notifica o usuário quando algum parente é encontrado. Dessa forma, a paraibana recebeu uma notificação de que um possível irmão biológico havia sido encontrado.
Nascida em 5 de agosto de 1994, em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, Raylane Amaral nunca questionou as diferenças físicas entre ela e seus familiares. Há cinco anos, a paraibana foi morar nos Estados Unidos e visita a família pelo menos uma vez ao ano. Depois do dia 24 de janeiro, as férias de 2023 se transformaram em uma missão para tentar encontrar respostas.
Raylane Amaral procurou pelo nome e sobrenome do rapaz, Lennon Carvalho, no Instagram e mandou uma mensagem. No entanto, o perfil era privado e, por isso, ele não recebeu a notificação de mensagem. A mulher então fez uma busca no LinkedIn, rede social para conexões profissionais, e entrou em contato.
Lennon tem 30 anos, nasceu em Cajazeiras, mas mora na Irlanda. O jovem tem duas irmãs: a mais velha, Michele, que mora em Cajazeiras, e a mais nova, Milena, que mora em João Pessoa com a mãe, Luísa Maria. Milena preferiu não aparecer nesta reportagem.
O paraibano relatou que utilizou a plataforma My Heritage em outubro de 2022, após fazer um teste genético para descobrir quais as origens de seu DNA. “Meu desejo na época foi saber de quais países o meu DNA tinha origem. Nesse mesmo site, quando você cadastra dados acaba tendo algumas combinações, primos distantes, de terceiro ou quarto grau. Eu cheguei a encontrar alguns”.
Por meio do LinkedIn, Raylane explicou que os perfis deles haviam dado uma combinação muito alta de DNA e começou a fazer perguntas sobre as origens do jovem. Em certo ponto da conversa, ele parece ainda não ter percebido algo que Raylane já desconfiava: que uma troca de bebês poderia ter acontecido.
Quando viu a mensagem de Raylane, Lennon pensou, inicialmente, que se tratava de mais um primo distante. No entanto, ao aprofundar a conversa, ele descobriu que a mulher, até então desconhecida, tinha nascido no mesmo dia e hospital que sua irmã mais nova, Milena, em 5 de agosto de 1994. Analisando a foto do perfil da paraibana, o homem encontrou semelhanças físicas com a mãe dele, Luísa Maria.
“Então, eu não sei o que dizer. Você é a cara da minha mãe. Eu não sei o que pensar. Na verdade, sempre houve uma história de que quando minha mãe estava tendo minha irmã, havia outra mulher também dando à luz na mesma sala e na mesma hora”, escreveu Lennon.
Após a abordagem de Raylane e a possibilidade de uma troca de bebês ter ganhado força, Lennon entrou em contato com a mãe e, depois do choque inicial, as mulheres envolvidas começaram a se organizar para que um exame de DNA fosse feito.
Teste de DNA
Luísa e Milena viajaram de João Pessoa para Cajazeiras para fazer um exame de DNA no dia 2 de fevereiro. O material foi coletado em um laboratório de Cajazeiras e enviado para outro laboratório especializado, em Belo Horizonte.
Em 16 de fevereiro, a conclusão do exame de DNA já estava pronta, mas só foi disponibilizada pelo laboratório onde o material foi coletado no dia 27. Por isso, Raylane adiou a volta para os Estados Unidos. Durante mais de 20 dias, as pessoas envolvidas precisaram lidar com a ansiedade, e Raylane relatou que esperava ter sido apenas um engano da plataforma.
Os resultados apontaram que Raylane não é filha biológica da mulher que a criou, Marlucy, mas sim de Luísa Maria, mulher que criou Milena e Lennon. No entanto, os resultados dos exames mostraram que Milena não é filha biológica de nenhuma das duas mulheres, apontando assim que um terceiro recém-nascido foi trocado.
Raylane contou que ficou aliviada por uma parte, mas ainda angustiada por saber que a mãe dela, Marlucy, não tinha encontrado sua filha biológica. Ela precisou voltar para os Estados Unidos, por causa do trabalho, mas continuou uma busca ativa pelas redes sociais.
A paraibana pediu que seus amigos verificassem pelo Facebook mulheres de Cajazeiras que nasceram no dia 5 de agosto de 1994. À medida que as pessoas próximas iam enviando links de perfis de mulheres nascidas nessa data, ela ia analisando fotos e descartando aquelas que não pareciam fisicamente com os pais. Um perfil encontrado chamou a atenção de Raylane, por causa das semelhanças físicas com sua família.
O nome da mulher é Marcelma Bezerra, que atualmente vive na zona rural de Cajazeiras. Nascida no mesmo dia de Raylane e de Milena, a paraibana teve uma vida completamente diferente. Casou-se aos 15 anos e atualmente, aos 28, tem três filhos. Um exame de DNA entre Marcelma e Marlucy foi feito no dia 29 de março, e o resultado, divulgado no dia 13 de abril, foi positivo: Marlucy havia, enfim, encontrado a filha biológica.
A maternidade Dr. Deodato Cartaxo faz parte do Hospital Regional de Cajazeiras. Em resposta à uma solicitação dos advogados das vítimas, a assessoria jurídica do hospital informou que os funcionários verificaram os arquivos da maternidade, mas não encontraram os prontuários daquele mês de agosto.
O Hospital Regional de Cajazeiras também não conseguiu localizar a escala de funcionários que trabalhavam na maternidade na época.
Em nota, a unidade de saúde cita uma a lei 13.787 do ano de 2018, que trata sobre o armazenamento de prontuários. O art. 6 diz que arquivos em papel com mais de 20 anos podem ser eliminados.
G1
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