Geneticista e consultora em bem-estar e comportamento canino explica como melhorar a situação para animais que sofrem com fobia
No dia 20 de novembro, começou, no Catar, a Copa do Mundo 2022. Junto às comemorações, vêm, também, os fogos de artifício – e quem sofre, muitas vezes, são os cães.
Segundo Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, assim como os humanos, os cachorros também podem sofrer de fobias por vários motivos, como som de fogos.
“No cão, o quadro fóbico equivale a uma crise de síndrome do pânico em humanos. Ou seja, ele se vê em uma situação de risco de morte eminente e sua segurança ameaçada. Com isso, ocorre um disparo muito intenso de adrenalina em seu corpo, pela sensação de estar em perigo”, explica.
Neste quadro, começam os comportamentos compensatórios – e até perigosos. “É comum ficar embaixo da cama ou outro lugar para se sentir seguro. Também pode se automutilar, machucar alguma parte do corpo, e destruir a casa, para amenizar a intensa ansiedade. A adrenalina também o faz querer fugir, e aí vem um perigo ainda maior: arranhar portas, a ponto de perder as unhas com isso; ou quebrar vidros e pular janelas, causando fugas e acidentes – até fatais”, exemplifica Chamone.
Habituação
Se o seu cãozinho ainda é filhote, ou mesmo adulto, e não tem medo de fogos de artifício, é importante, mesmo assim, prepará-lo para lidar com esses barulhos. Assim, a chance de se tornar fóbico diminui, pois o medo de fogos é aprendido e pode surgir a qualquer momento na vida do cachorro.
Por isso, uma ideia é habituar o animal a estes barulhos com antecedência. “É possível colocar som de fogos, por exemplo, encontrados na Internet, e fazer companhia a ele. Se permanecer tranquilo, aumente o som e vá fazendo suas atividades normalmente. Se ele ficar desconfortável, abaixe o som e depois aumente gradativamente, fazendo o treino por vários dias. Isso ajuda a naturalizar o barulho”, enfatiza Chamone.
E, quando o som dos fogos começar para valer, em dia de jogo, a geneticista recomenda pegá-lo no colo (se possível e se ele gostar), além de fazer carinho, brincar ou dar comida. “A ideia é redirecionar a atenção dele para algo bom, para que não ocorra uma associação negativa com o barulho. Assim, aquela experiência é transformada em algo positivo”, sugere a geneticista.
Amenizando a fobia
Porém, se o seu cachorro já é fóbico ao barulho de fogos, tenha em mente que ele já está em um alto grau de sofrimento. “Os comportamentos inadequados, diante de um quadro de fobia, não acontecem porque ele é mau ou por birra; por isso, brigar, dar broncas ou deixá-lo sozinho só vai piorar o pânico, exacerbando ainda mais a crise. Em situações como essa, é sempre importante acolher, em vez de brigar”.
Para isso, Chamone traz recomendações para ajudá-lo a passar por esse momento de forma menos traumática:
1- Nunca deixe o cão sozinho diante dessa situação. “Ter a companhia do dono reduz o sofrimento, pois estará com alguém de confiança por perto. Fique com ele até os fogos passarem e ele demonstrar estar mais tranquilo”, afirma.
2- Gaste a energia do peludo antes de os fogos começarem. “Nos dias de jogo do Brasil, busque fazer um super passeio com até ele cansar, preferencialmente em lugares mais vazios, com bastante natureza e que ele explore bastante o olfato; esse estímulo produz relaxamento do sistema nervoso central. Assim, diminui naturalmente a ansiedade, pois o cão drenou sua energia”.
3- Quando chegar o momento, abafe o som o máximo possível, fechando portas e janelas. “Além disso, é essencial conhecer o seu cachorro. Alguns preferem ficar em ambientes mais fechados, dentro do quarto. Outros escolhem a liberdade para se movimentar e encontrar um cantinho seguro. Perceba o seu cão, como ele se sente melhor, e o respeite”, enfatiza Chamone.
4- Ligue uma música para despistar o som externo. “Uma melodia mais calma é uma boa opção”.
5- Cuidado ao seguir dicas rápidas de Internet, como enrolar ou enfaixar o animal. “Não há comprovação científica robusta de que isso irá acalmá-lo. O principal é ele não estar sozinho e você conhecê-lo para entender o que melhor irá acolhê-lo naquele momento difícil”.
6- Em casos graves de fobia, buque orientação com o médico veterinário, que poderá prescrever um medicamento para ajudá-lo a acalmar. Também é ideal ter acompanhamento de um comportamentalista, para amenizar o problema. “Com o tratamento, conseguimos aumentar a tolerância do cão aos barulhos. A fobia não tem cura, mas é possível ensinar o cachorro a lidar com os fogos sem tanto sofrimento e, claro, tornar esse período de Copa mais tranquilo – para ele e, consequentemente, para toda a família”, finaliza a geneticista.
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