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De volta ao São João de Bananeiras

Há quatro anos – antes da pandemia, tive que dormir dentro do carro, depois do caos que tomou conta das ruas da cidade de Bananeiras, na madrugada, após os shows e festividades no dia de São João. Das quatro da manhã, às sete, ficamos presos em um engarrafamento no trecho da única estrada que sobe para a vizinha Solânea. Cansado, biritado, fui obrigado a dividir com a prole os espaços dos bancos para repousar e ali esperar as providências, sei lá de quem. Estava tudo parado.

Pois bem, o mesmo sentimento de decepção tomou conta de mim no São João deste ano. Já havia decidido que, mesmo que fosse ao famoso arraial junino, naquela bela cidade serrana, ficaria em casa na noite de São João, por ali, no condomínio, e visitando amigos. Mas a pressão da mídia, o desejo de minha cara-metade e dos amigos foi maior. E não é que inventei de ir ao show do Wesley Safadão.

Não! Esse ano está diferente. Nós vamos de van e o palco fica aqui perto, na cidade alta e está tudo muito bem organizado. Então tá! Naquele ano – se não me falha a memória, 2019, meu desejo era quase irrecusável, pois os três shows contemplavam o espírito junino que mais condiz com nossa cultura e nossas origens. Se não me engano, subiriam ao palco, D2, grupo que tem como vocalista o Deda, ex-Três do Nordeste, e que é para mim a maior referência vocal em terceto, depois do Trio Nordestino. Nando Cordel, e pra fechar Dorgival Dantas. Forrozeiros autênticos, dignos dos festejos juninos.

Convencido, acreditei que dessa vez a programação parecia interessante. Não precisaria descer aquela única ladeira, via única, que passa na frente da matriz de Nossa Senhora do Livramento. Já sofri pra voltar, quando inventei, na noite anterior, de curtir a cidade e seu astral ao passear pelo centro e pela praça Epitácio Pessoa, bem decorada com bandeirolas, enfeites juninos e excelentes opções da cozinha típica regional.

Pegamos a van na porta do condomínio, onde estávamos hospedados na casa do sobrinho de minha esposa, e fizemos o trajeto até o local das apresentações. Descemos do carro a uns cem metros da entrada e seguimos a pé. A estrutura do evento me chamou atenção. Era bem visível o prestígio dos espaços de open-bar e frontstage, locais privilegiados para quem paga e ficar na frente do gigantesco palco. O povão, como se diz, ficou pra trás. Senti falta do clima interiorano, calçadas cheias, típicas vestimentas e os pavilhões lotados.

Não pretendo, com essas poucas linhas, desprestigiar o São João de Bananeiras. A festa já é ponto no calendário dos grandes festejos juninos da Paraíba e a cidade é muito acolhedora. O alerta vai para a ausência de critérios na força do poder econômico. Lamentar também a invasão de ritmos do pop e da música sertaneja em todas as grandes festas juninas de nossa região. Basta ver o exemplo de Campina Grande, no episódio que envolveu o forrozeiro Flávio José e a prioridade ao sertanejo Gustavo Lima.

Voltando ao Safadão, nome que não difere muito das letras de suas músicas, procurei relaxar e curtir aquela mistura musical, acho eu, de piseiro, forró e reggae, muito voltada a um público mais jovem e cativo aos sons da moda. A modernidade entrou pra valer, desde a compra online do ingresso, ao bar cibernético, que funcionava com cartão magnético, via internet. O ruim é que, em meio à multidão, era difícil chegar à bancada do bar, e quando conseguia, tinha que apelar pelo sinal de rede. As pessoas do atendimento ficavam com as maquinetas levantadas, esperando o acesso chegar. Antes tive que comprar um cartão e abastecer com créditos no local.

Devo reconhecer que no meio da multidão, diante da relevância dos artistas, certamente, na volta para casa haveria alguns transtornos, aceitáveis, digo. Mas voltar a pé para o condomínio não estava nos meus planos, apesar de ter saído no final da primeira atração, que era o show do Safadão. Ainda faltavam duas apresentações para finalizar a programação. Novamente, depois de quatro anos, o congestionamento permaneceu sem controle e tivemos que enfrentar a situação.

Não é possível permitir o tráfego de carros particulares nas proximidades, misturados com os transportes credenciados na volta de um evento de tamanha grandeza, numa cidade que não suporta esse tipo de mobilidade. Todas as ruelas próximas ao evento ficaram tomadas de carros e o engarrafamento foi inevitável. Nossa van não apareceu. Andamos uns três quarteirões, e nada de transporte. Logo me veio a lembrança de 2019. Foi quase uma hora de caminhada, sem perspectiva de transporte algum.

Penso que nos moldes que se propaga a proposta do São João de Bananeiras, ano após ano, fica desvirtualizada do original. Tende a perder a essência de interior, da fogueira, das danças, forró pé de serra, das palhoças, do milho assado e das tradições nordestinas. Não é possível seguir modelos como o de Campina Grande. A cidade cresceu demais nas periferias com as construções de mega-condomínios. Necessita de um planejamento mais adequado, e compatibilizar a modernidade com a cidade histórica, tombada e patrimônio da Paraíba.

A preservação de sua autêntica cultura de São João deveria prevalecer, em harmonia com a proposta que interage com seu rico patrimônio histórico, mesmo que os novos formatos e estilos abram espaços para a inovação. Não é possível fazer essa mistura sem respeitar a tradição, preservar os espaços públicos, as condições de mobilidade e de estrutura de uma cidade que merece todos os títulos e o charme que lhe são atribuídos pelas suas condições geográficas, arquitetônicas e climáticas. Não quero achar motivos para perder a vontade de voltar a Bananeiras.

 

Genésio Souza Neto

Jornalista e Advogado

 

Foto: Reprodução Governo do Estado da PB


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