O short e a camisa, nas cores branca e rosa, não escondem o corpo franzino da pequena Lilian Vitória, de apenas 4 anos.
Moradora da comunidade Padre Hildon Bandeira, instalada às margens da avenida Ministro José Américo (Beira Rio), em João Pessoa, a menina está recebendo cuidados especiais para combater a desnutrição e se livrar de uma doença que já matou 2.490 pessoas na Paraíba, desde 2002. Foram 126 óbitos apenas nos primeiros oito meses de 2012, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Desde que nasceu, Vitória é acompanhada por médicos e equipes da Pastoral da Criança, que recomendaram o uso de suplementos vitamínicos para fortalecer a alimentação da menina. O produto, que se apresenta na forma de pó branco, muito parecido com leite, é acrescentado no preparo de mingaus, como explica a dona de casa Lucineia de Sousa Almeida, tia de Vitória. “Minha irmã sempre teve muito cuidado com Vitória, para melhorar a saúde da menina. Graças a Deus, depois de tanto tempo de tratamento, já houve uma grande melhora”, conta.
Alimentação inadequada ou não balanceada, problemas de digestão ou de absorção dos alimentos são alguns dos fatores que levam ao quadro de desnutrição. De acordo com a médica coordenadora do Módulo de Pediatria Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora do Departamento de Pediatria e Genética da instituição, Valderez Araújo, a doença é diagnosticada quando o corpo não recebe quantidade suficiente de nutrientes. Apesar da fome ser a principal responsável pela doença, a desnutrição pode ser associada também à ausência de apenas uma vitamina na dieta. “A desnutrição é o conjunto de condições patológicas que resulta da deficiência cronificada de calorias e de proteínas, oriundas da falta de alimentação regular ou de uma alimentação inadequada e que ocorre com maior frequência em lactentes e pré-escolares, geralmente associada a infecções repetidas e a outros déficits nutricionais”, detalha.
“Por ser associada às precárias condições socioeconômicas, sanitárias e ambientais, a desnutrição é uma doença social, determinada pelo modelo de desenvolvimento econômico, político, social e cultural de um país. É uma condição responsável direta ou indiretamente pelas altas taxas de morbidade e mortalidade em menores de cinco anos de idade”, acrescenta.
A especialista explica que o diagnóstico da doença é difícil de ocorrer em comunidades carentes, por falta de informações. Ela acrescenta que as mães não percebem emagrecimento das crianças como algo patológico. É nesse ponto, segundo a especialista em que reside o problema. “A Vigilância em Saúde deveria se manter sempre em estado de alerta, captando precocemente através do Programa de Saúde da Família, as taxas de desnutrição de cada comunidade, trazendo estratégias de enfrentamento”, ressalta.
A criança desnutrida é identificada através dos sintomas frequentes, que são um maior comprometimento do peso progressivo, apatia, pouca interação com o ambiente e com as pessoas, anemia e diarreia. Ainda podem apresentar abdômen volumoso, edema generalizado, lesões cutâneas, ferimentos e os cabelos secos, descoloridos e enfraquecidos. “Estas crianças tendem a apresentar mal absorção de alimentos, fezes líquidas e com sangue. Enfim, apresentam atrofia muscular generalizada, com peso muito abaixo do esperado para a sua idade. É um quadro melancólico e revoltante e representa a cara da desigualdade indigna”, diz a médica.
JORNAL DA PARAÍBA
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