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El Niño provoca seca verde em 129 cidades da Paraíba

O agricultor Cristiano Salvador da Silva, 61 anos, está inconformado com a falta de chuvas registrada nos últimos dias em sua propriedade, cuja área não ultrapassa vinte hectares e enfrenta a chamada ‘seca verde’. Depois de plantar no mês de janeiro quatro hectares de feijão e milho no sítio Alvinho, zona rural de Lagoa Seca, no Brejo paraibano, ele viu a lavoura ser devastada durante o mês de fevereiro com a estiagem. Mas o problema não é isolado.

Agricultores de pelo menos 129 municípios paraibanos que plantaram nos primeiros dias do ano enfrentam os efeitos provocados pela falta ou irregularidade das chuvas fevereiro, verificadas através de dados preliminares coletados pela Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa) em 145 cidades da Paraíba.

A realidade gera maiores preocupações para as regiões do Sertão, Cariri e Curimataú do Estado, que concentram 130 municípios e possuem o primeiro trimestre do ano como período chuvoso e são historicamente mais suscetíveis à seca. Mas de acordo com a Aesa, no segundo mês deste ano as chuvas ficaram abaixo da média em todas as regiões do Estado, sobretudo na área do Brejo, Sertão e Alto Sertão, que registraram índices de precipitações inferiores em mais de 50% em relação à média histórica.

Para se ter uma ideia, em fevereiro dos 145 municípios monitorados somente as cidades de Ouro Velho (197,5 mm), São Sebastião do Umbuzeiro (193,7mm), Rio Tinto (166,9mm), Lagoa (160,2 mm), São Bentinho (146,2mm), Parari (141,1mm), Pombal (141mm), Tenório (127,2 mm), Aguiar (126mm), Cajazeirinhas (125,9mm), Vista Serrana (123,3mm), Conceição(114,5mm), Livramento (108,8mm), São Domingos de Pombal (107,5), Amparo(106,5mm) e São Domingos do Cariri (104,1mm) registraram um acumulado de chuvas superior a 100 milímetros.

Em alguns casos, como em Boqueirão, Sapé, Alagoa Nova, Salgado de São Félix e Juripiranga, o acumulado de chuvas durante os trinta dias do mês não alcança a marca de 11 milímetros. E nos primeiros dias de março o cenário não foi modificado. Conforme os meteorologistas e os dados disponibilizados no portal da Aesa as chuvas praticamente não caíram sobre as cidades paraibanas.

No sítio de Cristiano Salvador a vegetação da propriedade continua verde, mas a estiagem já inviabilizou a lavoura. Sem ter condições de construir e manter um sistema de irrigação, ele já sabe que a colheita está comprometida. “Assim que choveu eu plantei. Minha terra é pouca, mas se essa lavoura produzisse bem seria já um complemento para nosso sustento. Mas com essa estiagem aqui já está tudo perdido. Dá uma tristeza quando a gente olha a lavoura e vê tudo desse jeito. Agora é esperar para chover de novo”, lamentou o agricultor Cristiano Salvador, que há dois mora na comunidade rural com a esposa.

“Nós já havíamos previsto essa irregularidade das chuvas este ano. Tivemos um mês de janeiro que registrou precipitações acima da média, em todas as regiões, e em fevereiro e agora nos primeiros dias de março esses índices caíram. Esse fenômeno é característico do ‘El Nino’”, explicou a meteorologista da Aesa, Marle Bandeira, acrescentando que a mesma previsão deve se manter até o final deste mês.

Seca Verde

A ‘seca verde’ se caracteriza por chuvas irregulares que provocam períodos de estiagens. Sendo assim, boa parte da vegetação da caatinga nordestina mais resistente à falta de chuvas continua verde por um bom lapso de tempo, enquanto as lavouras acabam sendo inviabilizadas pela ausência das precipitações.

Saída para agricultores pode ser o ‘Seguro Safra’

Para aproximadamente 82.205 agricultores paraibanos, caso as estiagens continuem assolando as lavouras e comprometam a colheita, ainda há um alento. Eles poderão ser beneficiados com o Programa do Governo Federal ‘Garantia Safra’, que este ano já inscreveu produtores de 162 municípios do Estado. A iniciativa tem por objetivo cobrir os prejuízos provocados pelas invariações climáticas ou pragas dos agricultores que tiveram perdas superiores a 50% de suas plantações.

Através do programa os produtores têm garantida uma renda mínima de até R$ 600, cujo valor é dividido em quatro parcelas de R$ 150. “Nas safras anteriores o valor pago foi de R$ 550, em cinco parcelas de R$ 110”, lembrou o secretário de Agricultura do Estado, Ruy Bezerra, assegurando que os recursos destinados a safra do ano passado ainda estão sendo pagos aos agricultores familiares paraibanos até o mês de agosto deste ano.

Mesmo estando dentro dos critérios do programa, o agricultor Cristiano Salvador espera recuperar as perdas de outra maneira. “Quem sabe se depois do meio do ano, quando voltar a chover, a gente não vai ter uma safra boa, né? Na hora que chover eu planto de novo”, garantiu. O ‘Garantia Safra’ atende agricultores familiares que plantam entre 0,6 a 10 hectares de arroz, feijão, milho e mandioca não irrigados.

 

 

 

 

Jornal da Paraíba

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