O dia amanheceu ensolarado na segunda-feira (28). E nesse pacote típico do verão paraibano, residia dentro do meu ser uma espécie de angústia e ansiedade. Isso mesmo! A causa estava deitada de forma suave na mesa que faço minhas refeições.
Dormia em sono profundo um envelope e, dentro dele, o resultado de vários exames que meu médico solicitou. Busquei inúmeras vezes identificar se minha saúde estava em bom estado. Mas pouco descobri. Códigos, números, percentuais de referência. Não houve jeito. Era tudo muito confuso.
E por ser quase indecifrável todas aquelas informações, decidi deixar em repouso aquele envelope até ir ao consultório. O ar gelado daquele ambiente deixava-me com certo calafrio. Na sala de espera duas senhoras que liam edições de revistas antigas com olhar de puro fastio.
A secretária, vez ou outra quebrava o silêncio ensurdecedor daquele ambiente, enquanto um jovem digitava freneticamente os teclados virtuais do seu celular. E aquilo já estava dando certa claustrofobia sobre todo o meu ser. Então decidi explicar à atendente que precisava sair da sala para dar alguns telefonemas, o que era, até aquele momento, uma pura, mas eficaz mentira.
Uma conversa com o artista plástico Marcos Pinto
Como jornalista, cidadão e amante das artes, principalmente as que ficam nos espaços públicos; uma galeria de arte na rua. Uma democracia artística que suaviza o concreto amargo vindo dos imensos prédios, decidi ler, ver e ouvir, mais uma vez o protesto de Marcos Pinto, denominado “Meu Grito de Alerta”.
Havia o pretexto do alcaide pessoense, que já se despede do cargo, que a obra de arte seria removida de forma provisória da via pública, pois a mesma estava em processo de reforma e duplicação. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi assinado por Marcos Pinto, o vereador Milanez Neto (PV), que na época era diretor do Patrimônio Artístico e Cultural de João Pessoa, além do ex-secretário de Infraestrutura do governo Cartaxo, Cássio Andrade.
No dispositivo, como alega o próprio artista, na peça ficou claro que o monumento seria retirado, teoricamente, de forma provisória e com cuidado, havendo o compromisso da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) em não danificar a escultura, sob pena de a mesma arcar com os custos de possíveis avarias, pois seria necessária uma restauração, óbvio.
A escultura foi danificada
E Marcos Pinto continuou o seu relato, cuja voz embargada fruto de dor, indignação e angústia. “Para a minha surpresa, eu estava em Campina Grande e me ligaram dizendo que estavam quebrando minha escultura. Quando eu cheguei em João Pessoa, já tinham cortado. Estavam cortando pelo ‘tronco’, e um dos engenheiros que estava lá disse: ‘A ordem é destruir essa escultura, que isso não é coisa boa não. Foi quando eu discuti com ele. Que aquela era uma obra de Deus, não era nada obra do mal. Isso já faz mais de três anos. Resultado; ela foi retirada, foi toda estraçalhada, a nave central que tem uma estrela no meio foi toda cortada, a base foi cortada, e ela precisa ser restaurada urgentemente. Eu venho há anos lutando com isso, e o prefeito Luciano Cartaxo não deu a menor atenção”.
A escultura foi da época Luciano Agra
Além do relato de pura discriminação, quase religiosa, para com a obra denominada “Aves de Arribação”, Luciano Cartaxo, em ato de má fé, quebrou um legado deixado não só pelo o artista, mas pelo ex-prefeito Luciano Agra –já falecido – e a Construtora Holanda, pois a mesma estava fazendo 40 anos em João Pessoa, e deu um presente à Capital, contratando os serviços artísticos de Marcos Pinto, um dos mais consagrados artistas plásticos do país, que poderia residir em um grande centro artístico, mas preferiu manter o seu ateliê em sua terra natal.
Onde está a escultura?
O périplo de um artista
Marcos Pinto, ao longo da entrevista, revelou que por três vezes se dirigiu à Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), a fim de ter uma audiência com o titular da pasta, Maurício Burity, mas o mesmo não recebeu o artista, alegando que o órgão não tinha competência para arbitrar no caso. “Se a Funjope não tem, será a Guarda Municipal ou a secretaria de Saúde que deve ter o cuidar da nossa cultura”, indagou em tom jocoso o artista.
Ele também informou que por diversas vezes foi à sede da Seinfra a fim de falar com a secretária Sachenka Bandeira da Hora, sem a mesma recebê-lo. Já com certo desespero, protocolou no dia 03 de dezembro de 2020 uma solicitação para a titular da pasta, conforme está em anexo na matéria.
No documento, solicitou o artista que a Seinfra transportasse sua escultura até seu ateliê, no bairro de Manaíra. Diz Marcos Pinto em suas argumentações: “Porque não tenho caminhão Munch guindaste, para a retirada, e vou restaurar ela inteirinha por conta própria e com a ajuda de amigos, refazer tudo aquilo que por ventura foi danificado, para deixá-la nova e intacta como era antes instalada na rua”.
A secretária Sachenka Bandeira não respondeu ao artista, e o PBAGORA tentou falar com a gestora por meio da sua assessoria de imprensa. Lacônica, apenas enviou breves palavras, como consta em anexo, buscando esquivar-se das suas atribuições.
Disse a secretária: “ Boa tarde! Essa informação não é conosco. Elas foram retiradas na época da obra da Beira Rio, como foi doação para a Prefeitura quem determina o retorno ou não é da SEPLAN”. Interessante que ela não falou sobre o local que a obra estava, embora tenha sido questionada.
Diante da resposta, O PBAGORA buscou a Secretaria de Planejamento (Seplan), a fim de ter um esclarecimento. Foi passado o telefone para o gabinete da titular da pasta, Daniella A. Bandeira de Miranda Pereira.
A secretária particular de Daniella Bandeira, de pré-nome Iane, disse que estava “colhendo informações para lhe responder”, como consta no print em anexo da matéria. Mas as informações se perderam no “Mundo das Ideias” e da omissão, e nunca chagaram ao Portal.
A esperança de Marcos Pinto no governo de Cícero Lucena
Indagado se teria esperança em ter a obra de volta, a fim de restaurá-la na gestão do futuro prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), Marcos Pinto não titubeou na resposta. “Sim, eu tenho certeza que Cícero Lucena, homem sensível e inteligente irá me ajudar, ajudar a cidade e seu povo. A escultura será restaurada e posta não no antigo local, mas em outro”, finalizou.
Recadinho para todos nós!
Sem arte, nada somos. Sem ruas e logradouros, cujos elementos foram desconstruídos, nada somos. A atual civilização é o que é pelo efeito da arte, pois ela sempre passou os valores de cada época. Destruir tal coisa e um crime contra nós, humanidade e nosso passado, presente e futuro.
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