Para quem conhece minimamente ou convive com os meandros da Comunicação Política, a estagnação da candidatura de Geraldo Alckmin durante todo o processo eleitoral não causa nenhuma surpresa.
Era previsível que o barco começasse a fazer água antes mesmo da campanha começar. Essa pedra, aliás, foi cantada há muito tempo dentro e fora do PSDB.
A ausência de uma estratégia inicial clara, capaz de empolgar o eleitor e evoluir com o andamento da campanha, com certeza levaria a uma perda definitiva dos rumos mal traçados desde 2017.
Os fatos que se seguiram só vieram confirmar esse diagnóstico.
A estratégia inicial dos programas eleitorais de Alckmin era apostar numa intensa desconstrução do “fenômeno” Jair Bolsonaro, repetindo a fórmula aplicada em 2002 pelo próprio PSDB na campanha de José Serra contra Ciro Gomes.
A estratégia fracassou porque a capacidade de apreensão e processamento do conteúdo e da forma no marketing político de 2018 é completamente diferente das campanhas anteriores.
A Lava Jato educou o eleitor brasileiro para percepção e análise das estratégias de persuasão e dissuasão das campanhas eleitorais.
Fisicamente, o infausto incidente da facada do potencial homicida Adélio Bispo feriu no intestino o líder das intenções de voto. Politicamente, atingiu em cheio o coração do candidato do PSDB, consumando a morte de sua campanha.
Alckmin colocou todos os ovos na mesma cesta. E todos quebraram.
A aposta de um exitoso bombardeio sobre Bolsonaro, na convalescença de uma cama no Hospital Albert Einstein, teve que interromper abruptamente à estratégia do tucano. Pois Bolsonaro, num inusitado sinistro, saiu do papel de violento agressor para violentamente agredido.
Faltou ao ex-governador de São Paulo atitude e discurso firmes contra o verdadeiro carrasco do seu partido nos estados, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi há pelo menos dois anos, alvo diário das munições de Bolsonaro. De forma sincera e oportuna.
Não houve também de Geraldo Alckmin, por aparente frouxidão, um repúdio firme ao estelionato eleitoral praticado pelo senador Aécio Neves, seu colega de partido, que fez 51 milhões de brasileiros de idiotas.
Não era difícil vislumbrar que a nau tucana navegaria em 2018 sem mão firme no leme.
Faltou uma visão estratégica que desse a Geraldo Alckmin a verdadeira dimensão e gravidade desse acontecimento junto aos eleitores. Fato que, por si só, representou o desmonte sumário da campanha do PSDB.
Alckmin pagou pelo “Aéciogate”.
Em 2017, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati, até tentou fazer um pedido de desculpas ao povo em rede nacional. Mas a falta de uma punição exemplar que incluía a expulsão do senador mineiro, fez com que o próprio Aécio derrubasse Tasso do comando do partido.
Para “matar Bolsonaro”, bastava a Alckmin dar o tom do seu projeto nacional desde 2017. Algo que começasse por resgatar à pregação do seu guru Mário Covas: moralizar a vida pública, atacar o uso da Lei de Gérson e condenar os políticos nefastos.
O presidenciável tucano precisava ter promovido um grande debate nacional que nos fizesse resgatar à auto-estima, com a recuperação dos preceitos de moral e bons costumes tão desprezados nestes tempos obscuros da política brasileira.
Mas preferiu o caminho fácil do Centrão.
Na reta final do primeiro turno, atacar os adversários, subir o tom, apimentar o discurso, vai sempre parecer agressão oportunista e desesperada de um mau perdedor perante os olhos da população.
A discussão perdeu o momento de ser encaminhada para outros mares menos favoráveis à tranqüila navegação da nau petista, que pôde esconder no porão o rosário de crimes praticados contra a nação.
Na falta de estrategistas, os alquimistas do marketing político tucano basearam tudo na campanha eletrônica, que – diziam insistentemente – tudo mudaria.
Mais uma vez fica provado que não basta ter o “marketing dos sonhos” com um “candidato dos sonhos adversários”.
Como cidadão, lamento o fracasso com tristeza, pois a meu ver Geraldo Alckmin seria – entre os presidenciáveis – o mais equilibrado para estabilizar o Brasil e nos livrar de uma iminente guerra civil.
Por ironia do destino, é o candidato certo. Na hora errada.
Ytalo Kubitschek
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