Documentário de curta-metragem “Areia, Memória e Cinema” remonta os primórdios do Cine Theatro Minerva, no município do brejo paraibano
Um filme sobre memórias, afetos e a relação das pessoas com o cinema: o documentário “Areia, Memória e Cinema”, de Letícia Damasceno Barreto, parte das vivências de seu avô para contar uma história sobre o amor pela Sétima Arte e também traçar um panorama histórico da cultura audiovisual da cidade Areia, no Brejo Paraibano.
Gutemberg Barreto, o avô da Letícia, atuou como primeiro projecionista do Cine Theatro Minerva, entre 1920 e 1930. Em 1932, se mudou com a esposa para Niterói, município vizinho ao Rio de Janeiro, então capital federal. Na cidade maravilhosa, manteve sua ligação e paixão pela Sétima Arte: todas as terças-feiras ia ao Cine Odeon, na Cinelândia, para acompanhar exibições de filmes. Não raro, pegava sessão dupla, isto é, emendava um filme no outro.
Ele atravessa a balsa que ia de Niterói para o Rio junto de esposa, Dona Edite, deixava ela à porta do Convento de Santo Antônio, onde ela assistia a missa e ia direto para o Cine Odeon, distante poucos metros da edificação religiosa, na região central carioca. Numa terça-feira como tantas outras com essa programação, algo saiu diferente: Gutemberg estava sentado imóvel em sua poltrona e uma funcionária tentou acordá-lo: em vão, o projecionista não estava dormindo, havia morrido durante a sessão de cinema.
É a partir desse evento trágico e da trajetória do avô com o cinema que a cineasta, professora do curso de Dança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), constrói o argumento do filme, que fruto do projeto de Pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV-UFPB-UFPE).
“O argumento [do filme] se deu a partir da lacuna, da indagação e do desejo de conhecer melhor a sua história [do avô] tão particular na tentativa de me aproximar do seu universo ligado a arte e ao cinema”, pontuou Letícia.
“Saber que meu avô faleceu dentro do cinema, algo pelo qual ele era apaixonado e eu tinha apenas 2 anos de idade, me suscitou a curiosidade de adentrar nessa estória, me fez desejar reconstruir, recriar e narrar de forma afetiva esse acontecimento, me trazendo desse modo a sensação de pertencimento”, complementou a cineasta.
Depoimentos
Em busca de resgatar memórias sobre o período em que Gutemberg Barreto foi projecionista do Cine Theatro Minerva e também de focalizar a relação dos moradores de Areia (PB) com o espaço nos anos em que esteve funcionando, o filme capta depoimentos de antigos moradores do município com objetivo de registrar e resgatar pela via da Sétima Arte suas memórias afetivas sobre o antigo cinema da cidade.
“Considero a fala dos moradores de Areia extremamente importante para o filme, tanto para entender um pouco do que representou o cinema para essas pessoas nos anos em que ele esteve ativo quanto para, a partir dessas memórias, tentar buscar rastros da experiência do meu avô enquanto cinematógrafo na cidade”, detalhou Letícia.
Campanha de financiamento coletivo
O curta de documentário é uma obra independente, sem patrocínio ou subsídio de editais. Para viabilizar o projeto, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar parte do valor dos custos produção: é possível acessar e colaborar clicando NESSE LINK.
Também é possível colaborar com qualquer valor pela chave PIX: CPF: 703.641.257-72 | Letícia Damasceno Barreto.
Apoios
A produção conta com apoio logístico e de equipamento do Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba (NUDOC-UFPB). Também é apoiada por empreendimentos turísticos da cidade de Areia como o Hotel e Restaurante Triunfo, as pousadas Sítio Casa de Vó e Vaca Brava e o restaurante Vó Maria.
Tem ainda o apoio institucional da ATURA – Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia, entidade que reúne os empreendimentos turísticos e culturais da cidade de Areia (PB).
As filmagens estão previstas para acontecer na segunda semana de junho, em Areia (PB).
Sobre o filme
Letícia Damasceno Barreto dirige o documentário “Areia, Memória e Cinema” partindo dos rastros que seu avô deixou ao falecer no cinema Odeon no Rio de Janeiro em 1960. Eles a impulsionam a reconstruir sua trajetória: “Voltar ao destino significa eternizar”. O documentário remonta aos primórdios da memória do cinema no município de Areia, no Brejo paraibano, e a atuação do cinematógrafo Gutemberg Barreto, que atuou como projecionista no Cine Teatro Minerva entre os anos 1920/30 na cidade.
Sobre a diretora
Letícia Damasceno Barreto é artista, professora e pesquisadora, com formação em Dança Contemporânea e em Terapia através da Dança pela Escola de Dança Angel Vianna-RJ. Atuou como docente nessa mesma escola (1994 – 1999). É Doutora em Estudos Interdisciplinares em Memória Social pela UNIRIO (2014), com tese sobre Memória do Corpo, investigando a relação do corpo/objeto como dispositivos para criação de movimento. Atua como docente do curso de Dança da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, onde é professora do quadro efetivo e desde 2010 desenvolve investigações com ênfase na Consciência pelo Movimento e na criação artística. Através de um projeto interdisciplinar que tinha como carro-chefe as interfaces entre as Artes Visuais e a Dança, realizou seu primeiro filme, o documentário “Experimentação corporal como dispositivo para criação artística”, sobre o papel das expressões e performances do corpo na construção de experimentos de arte. Atualmente está com pesquisa aprovada pelo PPGAV- Programa de Pós-graduação em Artes Visuais- UFPE/UFPB e desenvolve o projeto “Areia, Memória e Cinema”, documentário que parte das memórias de seu avô, que foi projecionista do cinema do município de Areia, no Brejo paraibano, resgatando a dimensão memorial, afetiva e identitária da Sétima Arte na vida dele, dela própria e da cidade em questão.
Assessoria