Lula é épico

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A história é feita por personagens épicos. Muitos deles parecem parte de algum roteiro espetacular. Hoje, graças aos registros cada vez mais acessíveis, o que poderia parecer ficção vira fato propagado de forma imediata e alcance global.

São muitos homens e mulheres que atravessaram séculos com exemplos de superação, que serviram para transformar o mundo e escrever a história. No período mais recente, do século XX até os dias de hoje, a política tem produzido personagens de relevância global, capazes de ditar novos comportamentos e padrões humanitários.

É verdade que muitos se destacaram pela desumanidade, a exemplo de Hitler, Mussolini e alguns facínoras de menor relevância. Da mesma forma, temos grandes nomes que ficaram na história pelo legado que deixaram e a trajetória de superação.

Gandhi na sua luta pela independência da Índia foi preso por mais de uma vez, mas nem por isso deixou de lado os valores que defendia. Pregou a desobediência civil massiva não violenta e morreu como o grande líder indiano, um ano após se libertarem da Inglaterra.

Outro grande líder perseguido, condenado e preso por 27 anos foi Nelson Mandela. Sua luta contra o racismo e o segregacionismo garantiram lugar na história como a maior liderança política africana, com um legado reconhecido em todo mundo.

Tanto Gandhi como Mandela foram atacados pelas elites que lhes imputaram penas e tentaram marginalizar a atuação política, por representarem ameaça à dominação e lutarem contra a desigualdade. Apesar de serem lideranças de países periféricos e representarem setores progressistas ou de esquerda na sociedade, a relevância das causas que defendiam não permitiu que distorcessem suas histórias, apesar de muitas tentativas.

No Brasil, a história de Lula é também épica. Certamente, caberia em grandes roteiros, pelos diversos detalhes da sua trajetória. Porque poderia ter o mesmo desfecho de milhões de nordestinos pobres que fugiram para o Sudeste. A maioria foi engrossar as favelas e o máximo de sucesso era ter um emprego que desse condições de subsistir.

Outros tantos morreram por não conseguirem condições mínimas de vida. Muitos seguiram pela criminalidade sem qualquer perspectiva, condenados a uma sentença de morte precoce. Em comum, todos tinham origem semelhante ao Lula, o destino previsto de pobreza, criminalidade ou morte sem qualquer glamour. Dessa forma, as elites reforçavam a tese da meritocracia positivista e mantinham o regime de exploração que sempre garantiu um nível de concentração de renda absurdo.

Mas Lula era um transgressor como nenhum outro do seu segmento social. O retirante representava um risco maior do que os grandes capitalistas brasileiros poderiam imaginar. Na condição de intocáveis que muitos sempre gozaram, protegidos pela ditadura militar e o estado, subestimaram a capacidade que um líder popular, oriundo do Nordeste, teria de produzir transformações políticas nunca vistas.

Pois é, de líder sindical até se transformar na maior liderança política do Brasil, Lula derrubou barreira por barreira e colocou na pauta nacional discussões que antes eram sequer consideradas. O limite da discussão sobre fome, miséria e desigualdade era a inserção do tema em matérias jornalísticas, filmes que abordavam o tema ou campanhas de caridade.

A discussão sobre racismo, machismo, gênero, orientação sexual, distribuição de renda e tantos outros temas que ficavam na margem em toda história do Brasil, ganharam espaço e protagonismo com a ascensão de Lula ao poder. É bem verdade que muitos desses debates ficaram restritos ao viés identitário, poderiam ter ido mais além, com uma abordagem classista que deixasse claro que o problema central, que agrava todas as violências sociais, é a desigualdade.

Mas independentemente dessa posição mais radical em deixar claro que os principais problemas do Brasil precisam ser combatidos numa perspectiva de luta de classe, Lula introduziu questões antes intocáveis. Subverteu a ordem vigente de alguma forma e criou novos paradigmas. Ou alguém acha que é pouco ser praticamente senso comum que é necessário amparar os mais pobres com algum mecanismo de distribuição de renda?

Se voltarmos apenas 25 anos, teremos o retrato de um país que considerava programa como o Bolsa Família privilégio e que políticas semelhantes serviam para alimentar uma legião de vagabundos. Todo o mérito de romper com esse discurso é do Lula. A grandeza dessa conquista obrigou até a extrema-direita bolsonarista entender que é inaceitável não existir algum programa de renda mínima.

Esse legado de Lula não foi construído de forma linear e sem obstáculos como pode parecer. Exatamente por isso, que sua história que já tinha elementos suficientes para ser considerada épica, foi acrescentada de eventos que deram ainda mais força a narrativa que Lula é o maior líder político brasileiro. Um homem do povo, gestado na classe trabalhadora e sem vínculos com as elites.

Pois, foi essa elite conservadora, de extrema-direita, que sem condições de vencer Lula democraticamente, resolveu promover a desconstrução do seu legado político e mesmo com o maior bombardeio midiático da história, mais o golpe à presidente Dilma, não conseguiu reverter a opinião do povo brasileiro, muito menos a intenção de voto. Restou a estes a farsa jurídica com quebra do Estado de Direito, praticada por membros do judiciário sabidamente parciais.

Mas nem a prisão foi capaz de matar Lula e as transformações que promoveu. Os bastiões da moralidade foram desmascarados. Toda trama foi vazada, o juiz Moro condenado suspeito, algo mais que óbvio, visto que, teve como prêmio o cargo de ministro de Bolsonaro.

Se a história de Lula merecia destaque, a reparação jurídica com reestabelecimento dos direitos políticos, permitiu a ele escrever mais um capítulo condizente com a sua dimensão. Após todos os ataques, ilegalidades processuais, manipulações, difamação, condenação midiática, numa proporção que nenhum outro político talvez conseguisse sobreviver, Lula retorna para vencer as eleições, quebrar com o ciclo de ódio promovido pelos moralistas de extrema-direita e ser presidente do Brasil pela terceira vez.

O personagem épico não é mero objeto de ficção. A vitória de Lula para presidente da República em 2022 consolida definitivamente seu nome como o maior de todos os políticos sulamericanos e, certamente, um dos homens mais influentes do mundo em toda história. O nordestino, retirante, metalúrgico, filiado ao Partido dos Trabalhadores, que foi preso injustamente é na verdade o maior transgressor da lógica conservadora, que estabeleceu o mérito como direito de privilegiados. A crença incessante de que toda sua trajetória teria criado raízes no povo brasileiro foi inabalável. Esse é o grande motivo da sua vitória. A lição que Lula deixa: lutar sempre. Afinal, a vida continua.

 

Anderson Pires

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