Um dia de orações e de saudades. Certos de que a morte é apenas uma passagem para a vida definitiva, milhares de paraibanos reverenciam neste dia 2 de novembro os seus mortos. Em Campina Grande, segunda maior cidade do Estado, o dia de Finados mais uma vez promete ser agitado e movimentar os noves cemitérios da cidade.
A expectativa é que mais de 40 mil pessoas compareçam ao longo de todo o dia, aos nove cemitérios existentes na cidade, incluindo os três localizados nos distritos de Galante, São José da Mata e Catolé de Boa Vista. Tradicionalmente, muitos campinenses preferem ir cedo visitar seus mortos nos cemitérios do José Pinheiro, Cruzeiro, do Santíssimo em Vila Cabral de Santa Terezinha, Nossa Senhora do Carmo no Monte Santo, Bodocongó, Araxá e o Campo Santo Parque da Paz.
Uma tradição cristã de muitos séculos, sendo desconhecida sua origem. Neste dia, as pessoas rezam pelos parentes e amigos já falecidos, pedindo a Deus o perdão e seus pecados, confiantes na alegria do reencontro no dia da ressurreição. A esperança conforme enfatizou o padre passionista Sérgio Leite, é na Palavra de Jesus que ao ressuscitar o amigo Lázaro afirmou as irmãs Marta e Maria “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, mesmo que esteja morto viverá e, todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá”. (João 11.25).
A exemplo de anos anteriores, os preparativos para as homenagens aos mortos começaram na manhã de ontem, com a limpeza e ornamentação dos túmulos. Doralice da Silva, 42 anos, moradora de Vila Cabral de Santa Terezinha, perdeu o pai na semana passada, e ontem à tarde viajou para Sumé onde foi prestar uma homenagem ao ente querido. Antes passou na feira de flores e comprou rosas para levar.
Devido as homenagens e celebrações do dia de Finados, a Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP) de Campina Grande vai realizar intervenções no trânsito da cidade durante todo esse domingo.
Segundo o órgão, o plano, começou ser desenvolvido desde as 6h e se estende até às 18h em todas as áreas próximas aos cemitérios da cidade. De acordo com o planejamento das ações, o foco principal do efetivo de agentes de trânsito será o cemitério de Monte Santo, onde sempre há o maior fluxo de pedestres e veículos, tendo a necessidade, inclusive, de interdição de ruas adjacentes.
No cemitério Nossa Senhora do Carmo, no bairro do Monte Santo, considerado o maior da cidade, e onde existem mais de quatro mil túmulos, cerca de 15 mil pessoas deverão circular durante este dia 2 de novembro, entre visitantes, comerciantes e funcionários.
Quem cruzar os portões do cemitério de Nossa Senhora do Carmo bairro do Monte Santo em Campina Grande, não tem noção da quantidade de história que está enterrada no chamado campo santo. Há mais de 100 anos o cemitério, guarda história e cumpre seu papel de lugar de resignação, despedida, dor e saudade.
No entanto, para além da triste incumbência, delegada a toda necrópole, o Monte Santo, guarda em seus jazidos, parte da história de ilustre personalidades políticas, religiosas e culturais da Rainha da Borborema. Entre seus mais de quatro mil túmulos, alguns chamam atenção. São incontáveis as figuras de relevo, personagens marcantes do passado, que ali descansam silencioso e inerte, fazendo do espaço um mausoléu da história de Campina Grande.
Entre as palmeiras imperiais que formam um corredor na entrada principal do cemitério, o visitante reparará, à esquerda, um túmulo que guarda os restos mortais de vários membros da família Figueiredo, raiz de uma das principais árvores genealógicas da Paraíba. Mais à frente, à direita, num enorme, porém, simples, o mausoléu onde está sepultado o homem que por mais tempo governou Campina Grande, o dinamarquês Cristiano Lauritzen, morto em 1923.
No Cemitério do Monte também estão enterrados o major Veneziano, falecido em 1962, e do seu filho, o jurista Antônio Vital do Rêgo. Tradicionalmente, este túmulo é um dos mais visitados no dia de Finados.
No silêncio sepulcral do Monte Santo, também estão enterrados pessoas como o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, o tribuno, poeta, jornalista e político Félix de Sousa Araújo, um dos maiores nomes da história campinense; morto em 1953, o historiador Irenêo Joffily, e Raymundo Asfora, encontrado morto em sua granja a uma semana antes de assumir o cargo de vice-governador. Sobre o bonito jazigo feito de mármore e granito, a sombra de uma árvore torna o local convidativo para o descanso.
Os grandes nomes da Paraíba estão sepultados no cemitério Do Carmo Monte. No descanso eterno. Personagens conhecidos da história, como o ator, compositor e radialista Rosil Cavalcanti, falecido em 1968; João Vieira da Silva, o “João Carga D água”, apontado como o principal líder do início da revolta do “Quebra Quilos”, de 1874, e o cangaceiro Antônio Silvino.
Todos os anos um dos túmulos mais visitados é o da menina Isabel Cristina, assassinada nos anos 70 a caminho de casa, e que segundo relato de muitos campinenses, já realizou milagres.
De acordo com relato do ex-prefeito Elpídio de Almeida, em seu livro “História de Campina Grande”, o cemitério Nossa Senhora do Carmo teria sido construído entre 1899 e 1900, durante a gestão do prefeito João Lourenço Porto.
Para o bispo da Diocese de Campina Grande Dom Manoel Delson, celebrar o dia dos mortos é comemorar nossa esperanças na ressureição. “É o dia da comemoração dos nossos entes queridos falecidos. E nós cremos na vida eterna, na ressurreição. Os que morreram são sepultados, e nós acreditamos que o cemitério é o lugar onde os corpos são colocados, mas o espírito renasce para Deus” afirmou.
– Nas missas, nas nossas orações, nós lembramos dos nossos entes queridos. Um pensamento seguido pela confiança que realmente Deus prepara para eles a vida eterna, o banquete celestial. Então a grande expectativa do cristão é um dia participar, junto com todos que nos antecederam, deste momento glorioso junto de Deus. O dia dos mortos é o dia da esperança, sobretudo – sublinhou.
O padre José Assis da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, lembrou que a solenidade litúrgica de todos os santos e a comemoração de todos os fieis defuntos, para nós cristãos católicos têm algo em comum, pois na nossa profissão de fé afirmamos: “Creio na comunhão dos santos, na ressurreição da carne e na vida eterna”. Por isso foram colocadas no calendário litúrgico da Igreja Católica uma seguindo-se à outra. “As primeiras comunidades cristãs chamavam de “santos” (cf. Fl 1,1) todos os seus membros e a própria Igreja chamada “comunhão dos santos”, lembrou.
Ele enfatizou que o caminho de santidade que deve percorrer todo cristão é, primeiramente a solidariedade para com os “menores dos irmãos” constitui uma exigência intrínseca a todo e qualquer caminho de santidade: “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” disse citando Mt 25,31-46.
“É importante também não perder de vista que hoje recordamos com saudade os nossos entes queridos que nos deixaram. Partiram desta vida, marcados com o sinal da fé. Esta recordação deveria tratar-se de uma memória agradecida aos cristãos de todas as gerações. A fidelidade de tantas pessoas que trataram de viver no seguimento de Jesus e agora vêem a Deus” disse.
Para o religioso, a visita aos cemitérios, enquanto conserva os vínculos de afeto com quantos nos amaram nesta vida, deveria permitir, entre outras coisas, que assumamos a finitude de nossa condição humana, por mais que isso nos aconteça nunca sem dor. É evidente que a consciência antecipada da morte é um privilégio de nossa espécie humana e ao mesmo tempo nos aflige, a certeza da própria morte nos entristece e cria uma profunda e intrusa angustia e alimenta nossa mais feroz luta contra o silêncio Deus”.
“Recordamos que todos tendemos para uma outra vida, para além da morte. Por isso o pranto, devido a separação terrena, não prevaleça sobre a certeza da ressurreição, sobre a esperança de alcançar a bem-aventurança da eternidade” disse.
Orações, lágrimas e saudades marcarão mesmo o dia de Finados do campinense. Campina Grande terá 48 opções de missa neste domingo.
Dom Manoel Delson, bispo diocesano, presidirá celebrações no Cemitério do Monte Santo (16h) e no Campo Santo Parque da Paz (9h).
O Dia de Finados também se transforma em uma fonte de renda extra, principalmente para comerciantes de flores e velas. Na véspera do feriado os comerciantes de flores e velas se instalaram em frente aos cemitérios. Hoje o movimento deve ser maior, quando famílias inteiras se reunirão em torno do hábito de reverenciar os entes queridos.
Severino Lopes
PBAgora
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