“Eu só fazia ‘viajar’. Era como se fosse real. Não parecia que estava na UTI. Imaginava que ia para o Rio de Janeiro, que era Carnaval… Depois me via em um navio, na Espanha… Mas nunca passava pela minha cabeça que eu estava num hospital, em coma e preso em uma cama”. O jornalista Genésio Sousa Neto, 48 anos, teve um coma superficial há dez anos e a única sequela sofrida após o período desacordado foi o ‘apagão’ do que viveu horas antes do acidente que sofreu.
Já o humorista Shaolin, que completa hoje 145 dias desacordado, vive um estágio de coma mais avançado, chamado de ‘lock in’ (trancado em si mesmo). “Neste caso, há uma persistência nas atividades do tronco cerebral. O paciente chega a reagir a estímulos, mas não emite nada. Ele se encontra preso dentro de si e a única pessoa capaz de tirá-lo desse estado é ele mesmo”, explicou o médico neurocirurgião Rafael Holanda.
Especialistas dizem que não existe um tratamento específico para libertar um paciente desse estado de estupor, mas o fato é que alguns acordam, “saem de suas prisões”, mesmo que às vezes isso demore dias, meses e até anos. Foi o que aconteceu com Genésio, em João Pessoa; com Chapéu, em Campina Grande, ou com o polonês Jan Grzebski, que despertou de um coma após 19 anos de inconsciência. O retorno é a esperança que alimenta as famílias dos “adormecidos”. Quem já viveu o drama conta que só tinha uma certeza: estava vivo.
Jornal Correio