A Bíblia, como sabemos, é um livro primordialmente religioso. Porém, não é apenas um livro religioso. A Bíblia apresenta uma dimensão política. Desde Gênesis é possível encontrar orientações acerca da relação entre os governantes e o povo, como também um conteúdo ético com impacto político. Temos o profeta Moisés legislando, temos o rei Davi governando, e temos os profetas denunciando erros de autoridades. Os Dez Mandamentos, inclusive, são o fundamento de muitas leis do ocidente.
E o que falar das declarações de Jesus sobre dá a César o que é de César, submeter-se às autoridades, pagar impostos, dentre outras? O Evangelho tem uma dimensão política e todo seguidor da fé cristã deve ter respeitado seu direito constitucional de expressar suas crenças na esfera pública. Assim também, os seguidores de outros sistemas de crenças religiosas devem ser livres para opinar.
Não existe neutralidade na política. Em qualquer empreendimento que o ser humano se empenhe, ali estará expressa sua visão de mundo. Todo ser humano, seguidor ou não de uma religião, tem opiniões acerca do papel do Estado, da formatação das instituições sociais, do conteúdo das leis, dos valores morais a serem protegidos, etc.
E nossas crenças religiosas tem uma dimensão política. Todos temos valores que acreditamos dever ser observados e respeitados na esfera pública. Não há neutralidade, mas há diferentes fontes de conteúdo que alimentam opiniões dos indivíduos e repercutem na esfera política. Há pluralidade de visões de mundo e de política, mas não neutralidade.
Contudo, reconhecer que o Evangelho, assim como outros sistemas de crenças, tem uma dimensão política é diferente de defender que o Evangelho é partidário. Há um abismo nesse ponto. O Evangelho não assume partido, ideologia, ou líder político. O Evangelho tem uma mensagem de amor e salvação, mas também de repreensão dos pecados individuais e políticos, da esquerda à direita. O Evangelho não passa a mão na cabeça de partido ou de político, nem muito menos avaliza projetos de poder humanos.
Assim, é preciso sempre manter duas coisas distintas: seguidores do Evangelho, ou de qualquer outra crença religiosa, podem expressar sua opinião política com base em suas crenças religiosas, contudo tais crentes não podem associar o evangelho de Cristo com um projeto de poder de um político ou partido.
Toda vez que Cristo é associado a um partido ou a um projeto político, suas vestes são, figurativamente, rasgadas. Todos querem um pedaço, aquela parte que interessa, aquilo que se acomoda aos interesses do momento. Grande engano. Cristo está em seu trono e não empresta sua glória e fama a partido ou políticos que falam em seu nome para o próprio benefício. A mensagem de Cristo tem uma dimensão política, mas é apartidária. A mensagem de Cristo se coloca contra os pecados de César, em todo e qualquer lugar.
PB Agora