Como se não bastasse a pandemia do coronavírus – que por dia está matando 40 paraibanos em média, a população da cidade de Serraria está em pânico com o iminente colapso no abastecimento d’água.
Distante de João Pessoa 142,9 Km, Serraria – minha terra natal – fica no Brejo paraibano. É pródiga em água que se acumula em barragens, açudes, barreiros e cacimbas. Um desses reservatórios, inclusive, fornece água para a cidade de Pilões.
Curiosamente, porém, a principal barragem que abastece a sede do município – uma das maiores da região – está em vias de colapso, com a sua lâmina d’água em nível abaixo do crítico, quase na altura da lama.
Suspeita
Diante deste quadro de contradição, conterrâneos de Serraria que procuraram o colunista para, através deste espaço, pedir socorro, manifestaram a suspeita de que estaria havendo desvio de água para barreiros e açudes construídos no curso da água.
A população de Serraria trata do suposto desvio de água com bastante reserva: uns suspeitam e outros afirmam que realmente tem gente desviando a água que abasteceria a cidade. Ninguém, entretanto, ousa apontar possíveis responsáveis pelo que, se confirmado, pode-se caracterizar um crime, haja vista que uma cidade inteira não pode padecer de sede enquanto alguns poucos usufruem de um bem absolutamente indispensável que pertence à vida, a água.
Abundância
Encravada no topo de uma serra, bem no coração do Brejo, Serraria é uma das cidades da Região mais pródiga em cacimbas, olhos d’água, barreiros, etc. conforme pode se verificar nas proximidades da barragem em colapso de onde a Cagepa retira água para abastecer a população.
Tudo bem que nos últimos meses praticamente não tem chovido na Região de modo que seria natural a redução do volume de água da barragem, mas não como está acontecendo. Nem no período de maior seca, chegou-se a tal situação.
Histórico
Para quem nasceu e viveu em Serraria é difícil acreditar no que está acontecendo.
O começo desse drama vivido pelos serrarienses tem origem no fato de a Cagepa haver negligenciado nos cuidados com a primeira barragem cedida pelo município nos anos 70, quando foi instalado o sistema de abastecimento, na gestão do então prefeito Roberto Cavalcanti, permitindo que ela ficasse totalmente soterrada, sem armazenar uma gota sequer de água.
Por sorte, há cerca de vinte anos, o então prefeito João de Deus percebeu que a barragem original da Cagepa em pouco tempo não atenderia a demanda. Com recursos públicos da Prefeitura, construiu a maior barragem do Município, garantindo uma segurança hídrica por muitos anos.
O atual prefeito Petrônio Freitas, filho de João de Deus, logo que assumiu o primeiro mandato, fez um trabalho fabuloso, quase duplicando a capacidade dessa barragem que suportou recentes sete anos de seca. Mas agora, curiosamente, está abaixo do nível crítico com apenas um ano de poucas chuvas.
Prefeitura
Questionado a respeito, Petrônio Freitas disse que esta semana esteve reunido com dirigentes da Regional da Cagepa, em Guarabira, para discutir o assunto. A primeira providência tomada pela autarquia foi conseguir com o proprietário rural Walter Carvalho, ex-prefeito de Serraria, a liberação de água do açude de sua propriedade para abastecer uma parte do município.
De posse desta água, a Cagepa e a Prefeitura vão instalar oito postos de distribuição de água em locais estratégicos da cidade. Segundo os cálculos da própria Cagepa, se esta água cedida ao município for distribuída pelo sistema convencional, talvez não seja suficiente para 15 dias de consumo.
Cagepa
A propósito de reclamações da população sobre a falta de normalização do abastecimento, face ao racionamento semanal, a Regional da Cagepa emitiu uma nota nos seguintes termos:
“NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE SERRARIA
“A Cagepa esclarece aos consumidores do município de Serraria, que o início do ciclo de abastecimento previsto para ocorrer nesta terça-feira (16), de acordo com cronograma de racionamento, não foi possível devido ao baixo volume de água existente na barragem de Paulo Afonso.
Depois de estudos técnicos, foi constatado que a água acumulada atualmente só suportaria uma semana de abastecimento, o que inviabilizaria a operação do sistema.
Esclarece ainda que a distribuição de água será feita a partir da manhã da próxima quinta-feira, dia 18, até às 18 do próximo domingo, dia 21.
A Cagepa está buscando solução alternativa a fim de captar água noutra barragem, providenciar o tratamento e fazer a distribuição.
A Cagepa não medirá esforços para garantir a distribuição de água aos consumidores de Serraria, que pela primeira vez em mais de 50 anos passa por tamanha crise em seu abastecimento.
Guarabira, 16 de março de 2021.
Gerência Regional do Brejo”
Considerando o quadro absolutamente crítico atual, o que parece mais prudente aos conterrâneos de Serraria é, ou leva a sua suspeita do desvio de água ao Ministério Público, ou dança a Toré na Praça Antônio Bento, apelando para as forças ocultas e transcendentais.
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