A Paraíba perdeu, no último sábado, um dos maiores comunicadores de sua história: Otinaldo Lourenço de Arruda Melo. Morreu de Covid-19.
Qualquer comentário enaltecendo este grande jornalista e advogado foge à irônica observação de que todo mundo depois de morto se torna maravilhoso, perfeito, amigo etc. e tal.
Não é o caso. Não é mesmo!
Para que se tenha a noção da grandeza desta importante figura, basta a seguinte constatação: Embora esteja há séculos fora dos veículos de comunicação, Otinaldo Lourenço continuou sendo festejado e reverenciado como uma referência de comunicador, sobretudo como homem de rádio.
Mais que isso, como aquele que promoveu a maior renovação na maneira de se fazer rádio na Paraíba, especialmente em João Pessoa.
A melhor data
Por ironia do destino (perdão pelo lugar comum), Otinaldo se foi exatamente numa data que tem tudo a ver com a sua história: no Dia Mundial do Rádio, olha só!
Claro que ele não opinou a respeito, mas se tivesse sido perguntado não seria de admirar que ele escolhesse esta data para marcar a sua partida deste mundo de meu Deus.
Legado
O legado de Otinaldo para o mundo da comunicação é imensurável.
As transformações que ele promoveu na radiofonia pessoense repercutem até os dias de hoje. Datam, entretanto, dos anos 60 quando dirigia a famosa Rádio Arapuan de Renato Ribeiro Coutinho, na Rua Almirante Barroso.
Atenção: não confundir com a rádio Arapuan de hoje. Não tem nada a ver. A Arapuan que Otinaldo comandou e com ela fez história, há anos pertence ao Sistema Correio de Comunicação.
Nesta emissora, Otinaldo promoveu uma verdadeira revolução, especialmente no radiojornalismo.
Renovou completamente a grade de programação. Criou programas de grande aceitação das mais variadas camadas de público, em alguns dos quais o colunista aqui atuou profissionalmente: Antena Política, que era ouvido diariamente pelo escritor José Américo de Almeida; Jornal Sensacional, Mesa de Redação, e Dramas e Comédia da Cidade, este apresentado pelo mais festejado repórter policial de rádio da história de João Pessoa, Enoque Pelágio (do Carmo).
Tudo produzido na Central de Redação Dulcídio Moreira, também fruto de sua imaginação.
Bossa Nova
A Rádio Arapuan do passado também foi a primeira emissora da Paraíba a introduzir a Bossa Nova na sua programação, graças ao bom gosto e ao espírito renovador de Otinaldo. A propósito, ele se gabava de ter sido a Arapuan a primeira emissora da Paraíba a tocar a canção Chega de Saudade, na voz do baiano João Gilberto.
Líder de Audiência
Depois que passou ao comando de Otinaldo, a Rádio Arapuan alcançava índice de audiência tal, que quando a emissora saia do ar as pessoas nem sempre mudavam de prefixo: mantinham o dial ali, aguardando a retomada da programação.
Um detalhe pitoresco: até então, no Dia de Finados as emissoras da Paraíba tocavam sempre música clássica em sua programação, numa reverência aos mortos, porque seus programadores achavam, equivocadamente, que a música clássica era música fúnebre. Ao chegar à direção da emissora, Otinaldo mudou tudo.
Otinaldo era ouvinte assíduo das mundialmente famosas rádios BBC de Londres e Voz da América, de onde bebeu algumas inovações aqui introduzidas.
De botar, e não tirar
Monarquista convicto, derretia-se todo com “A Voz” de Frank Sinatra.
Otinaldo Lourenço tinha uma qualidade que, para mim, é tudo em um jornalista digno de respeito: se a notícia é verdadeira e de interesse público, é pra ser publicada.
Ele era, literalmente, o que podemos chamar de um cara de bom gosto, assim como o slogan que ele deu à radio de Renato Ribeiro: “Arapuan, a emissora do bom gosto”.
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