Opinião: Tributo a uma Atalaia do Senhor Jesus!

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Sim! Ela vivia apaixonada pelo Mestre da Galileia vinte quatro horas por dia. Fui seu discípulo desde minha adolescência, quando tinha dez anos de idade. Se me ponho muito emocionado e exagero um pouco, peço desculpas, mas penso que se Cristo Jesus tivesse começado seu ministério nos dias de hoje, com o espaço tão grande como se lhe é dado às mulheres atualmente em nossa sociedade, ela teria todas as características para ser parte do colégio apostólico. Enquanto nos dias de hoje muitos se autodenominam apóstolos, ela seria um deles sem a necessidade de autodenominar-se.

Uma das suas características mais destacáveis foi que nunca trabalhou para obter reconhecimento dos homens. Ela entregou a sua vida completamente a Deus capacitando jovens com chamado missionário e direcionando-os para várias partes do mundo. Quando obedeceu ao chamado de Deus para dar-se sem medida para sua obra, recebeu uma promessa da parte do Senhor no Salmo 2:8 “Pede-me, e eu te darei as nações como herança e os confins da terra por tua possessão”, no que se referia ao objetivo que ela mesma traçou para si, na formação dos estudantes que passaram pelas suas mãos foi: “Até Cristo ser formado em vós” (Gálatas 4:19b). Estou me referindo à missionária Lídia Almeida de Menezes, fundadora e presidente por mais de três décadas do Instituto Bíblico Betel Brasileiro, com sede na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.

Lembro-me das primeiras vezes que a vi evangelizando com um grupo de estudantes do Instituto Bíblico. Por um período de tempo usou a sala da minha casa (no povoado Cristo Redentor, hoje um bairro da Capital paraibana) nos domingos pela manhã e ali ministrava aos adultos, jovens e crianças. Apesar de aquela ser na época uma área muito resistente ao evangelho e com muita influência do espiritismo, ela e seus alunos eram muito valentes e continuavam com seu objetivo.

Minha mãe, Francisca Nunes, era muito católica, mas nutria simpatia pelas missionárias, especialmente em relação à missionária Lídia Almeida. Foi através da evangelização de D. Lídia que minha mãe chegou ao conhecimento de Cristo Jesus e morreu como uma verdadeira serva do Senhor. Somando esforços à evangelização, a irmã Lídia formou um grupo de jovens chamados “Soldados de Cristo” do qual eu fazia parte. Nossa missão fundamental era pregar o evangelho. Lembro-me que um sábado pela tarde nos levou para visitar o Governador do Estado da Paraíba, naquela época o Dr. João Agripino, que morava na Praia de Tambaú. Muitos dos meus companheiros que faziam parte daquela equipe, hoje estão servindo no Ministério da Palavra e outros são úteis às suas igrejas e às suas famílias.

Esta fiel serva de Cristo tinha uma alegria contagiante mesmo em meio às adversidades. Lembro-me que por um tempo esteve muito doente, com uma dor que a consumia. Embora a dor afetasse todo o seu rosto e os médicos não dessem nenhuma solução, ela sempre estava sorrindo. Uma vez nos disse que essa dor era como dores de parto. O tratamento foi uma cirurgia que quem a conhecia observava uma grande cicatriz no seu rosto. Acredito que o diabo sabia muito bem quem seria Lídia Almeida na obra do Senhor e por isso quis derrubá-la no início do seu ministério. Mais uma vez os propósitos de Deus mostrariam a soberania do Senhor. Pois Lídia teve décadas de ministério frutífero.

Meu pai, José Nunes, foi muito resistente à mensagem do evangelho pregado pelas missionárias, mas as respeitava bastante. A irmã Lídia tinha uma admiração muito grande por ele e quando foi coordenadora na Secretaria da Educação do Estado da Paraíba, o levou para trabalhar na sua secretaria. Durante os últimos minutos da sua vida num trágico acidente automobilístico e nas vésperas do Natal, ele declarou ter aceitado a Cristo Jesus como Senhor da sua vida, tal como o fez o ex-ladrão na cruz ao lado de Jesus, por tal motivo espero vê-lo no céu.

Era muito interessante ver o espírito de administração que tinha a irmã Lídia Almeida ainda nas coisas mínimas. Lembro-me que quando estavam construindo a Igreja Betel no Cristo Redentor há cerca de cinquenta e cinco anos, meu pai trabalhou como pedreiro junto a outros homens. Eles trabalhavam a semana toda e as segundas-feiras ofertavam sua jornada de trabalho a Deus. Isto foi um pedido feito pela irmã Lídia e prontamente foi atendido por todos com muita alegria, assim o prédio da igreja do Betel no Cristo Redentor foi construído.

Na área da fé ela era uma mulher extraordinária. Certa vez um advogado da Polícia Militar da Paraíba, que não era evangélico, me disse: “Sabe Elcio, nesta cidade há uma mulher a quem eu admiro como ninguém, embora eu não professe a fé evangélica como ela. Esta mulher se chama Lídia Almeida de Menezes. Eu vejo que se relaciona com as grandes autoridades deste estado e todos a respeitam”.

O pastor Marivaldo Barreto França, filho do famoso General Mário Barreto França, naquele tempo capitão da aeronáutica, disse: “Lídia destaca-se entre muitos pastores e líderes cristãos na obra missionária”.

Lembro-me de uma vez que estava com o pastor Djair Guerra e ele me disse: “Sabe, Élcio, se uma moça ou um rapaz, passa quatro anos no seminário Betel e depois resolve não fazer mais nada na obra do Senhor, já fez o bastante, porque Lídia espreme-o como uma laranja. Os estudantes sempre foram produtivos e muitas de nossas igrejas refletem os frutos do seu trabalho de evangelização”. Lídia Almeida era também muito zelosa pela obra de Deus e principalmente por aquilo que era dito desde o púlpito aos estudantes. Muitas vezes baixei a cabeça um pouco envergonhado pela maneira como ela se dirigia a certos oradores em público.

Mesmo que fossem oradores convidados por ela, se saíssem do contexto bíblico ela os interrompia para corrigi-los e em várias situações eles tiveram que se calar. Ela dizia: “Eu estou formando jovens que vão sair pelo mundo todo levando uma mensagem que lhes foi ensinada nesta casa, eles não podem ser confundidos, pois depois como consequência confundirão outros”.

Ela tinha muito zelo em relação ao andamento perfeito da obra.
Uma vez escutei quando o Pr. Alexandre Ximenes se encontrou com a irmã Lídia num dos corredores do Betel depois de ter terminado a sua aula na segunda-feira à noite. Ele lhe comentou: “Lídia, viajo todas as semanas de Campina Grande a João Pessoa para ensinar a estes alunos, mas eles têm mil e uma perguntas para fazer inclusive com respeito à área particular das suas vidas e eu estou sem tempo para aconselhá-los”. Ela imediatamente lhe disse: “Alexandre, você aqui tem sido convidado para ensinar sua matéria e mais nada, quem orienta os estudantes sou eu!”.

O Pr. Alexandre era um homem muito inteligente, então sorriu e deu-lhe um grande abraço. Também era valente em seu falar. Um sábado pela manhã, no culto de missões, ela se dirigiu a uma estudante em público e lhe disse muitas verdades abertamente pelo seu mau comportamento. Outra estudante que estava ali disse para si mesma: “Deus, como podes usar esta mulher com tanto poder na tua obra, alguém que desafia a outra pessoa dessa forma em público?” Essa estudante mais tarde me confessou: “Elcio, quando eu estava deitada no meu quarto, naquele mesmo dia, senti a presença do Espírito Santo que falava e me dizia: “você me perguntou hoje pela manhã, como eu usava Lídia dessa forma tão especial para fazer minha obra com o temperamento tão forte que ela tem para com as outras pessoas, sabes por que a uso? Porque tudo o que eu lhe peço ela o faz exatamente como eu a designo e nunca faz diferente”.

Certo dia, cheguei ao antigo prédio do Betel em Cruz das Armas e a irmã Lídia estava sentada em seu escritório com um mapa grande em suas mãos, avaliando um lugar que tinha lotes à venda. Ela me disse: “Sabe Élcio, vou comprar um grande terreno nessa área para construir nosso campus teológico (nossos seminários)”. De repente tomou o telefone e ligou para o dono do terreno, Juracy Palhano e lhe fez uma proposta. O dono dos lotes disse para a irmã Lídia que aquela área estava sendo vendida para construir algumas mansões e que ele pensava que a irmã Lídia não tinha dinheiro suficiente para comprar. Contudo, ela insistiu e disse que queria parte daquele terreno. Naquele momento a missionária Ivanise, que era a responsável pela cozinha, subiu as escadas rapidamente e comunicou à irmã Lídia que não tinha nada para o jantar, nem dinheiro para comprar comida. Então a irmã Lídia lhe respondeu: “Ponha todos os estudantes de jejum e oração que o nosso Deus proverá”.

Para mim foi algo contraditório. Como queria comprar um terreno tão grande para as instalações dos novos seminários, sem sequer ter o suficiente dinheiro para a comida diária. Mas na verdade, já antes eu tinha contemplado grandes milagres naquela casa. Terminando a história, o governador da época, o Dr. Wilson Braga, resolveu construir naquela área um conjunto residencial para pessoas de baixa renda. Este conjunto ainda existe e se chama “Conjunto dos Motoristas”. Assim, devido à construção das casas para pessoas pobres, o preço do terreno baixou consideravelmente e a irmã Lídia conseguiu obter grande parte da área para a construção do Instituto Bíblico Betel Brasileiro e também construiu a sua residência, tal como havia dito ao dono do terreno. Assim se cumpriu a palavra de fé dita por esta serva de Deus.

Em Julho de 2002 partiu para estar com o Senhor, mas deixou pegadas que não podem ser apagadas em nosso mundo. Em muitos lugares do mundo onde se encontre uma comunidade de brasileiros cristãos evangélicos, sempre vamos encontrar no meio deles alguém que, direta ou indiretamente, participou da obra missionária dirigida pela irmã Lídia Almeida de Meneses.

A verdade é que ela foi um exemplo extraordinário de fé na história da Igreja cristã no Brasil e no mundo. Não sei se estou autorizado a dizer, uma lenda, difícil de ser substituída. Mas como ninguém na verdade é insubstituível na obra do Senhor Jesus, Deus preparou seus sucessores para dar continuação a sua missão: “Com a morte do líder, a obra não morre”.

Ainda que ela tivesse desejo como tantos outros servos do Senhor, de participar do arrebatamento da Igreja, expressava esse desejo na frase : “Não irei antes da vinda do Senhor”.

A Missionária Glícia Almeida, sobrinha da irmã Lídia, o Pr. Edmundo Jordão e atualmente a Missionária Eva Rêgo, tomaram a direção do Instituto Bíblico Betel Brasileiro e hoje dão seguimento à obra betelina numa nova etapa, mas seguindo os mesmos princípios estabelecidos por Deus para aquela casa: A formação de vidas que continuem
alcançando as nações.

Meses antes da sua morte, tive o privilégio de recebê-la em minha casa aqui em Houston, Texas. Ela refletia a presença de Deus na sua vida todos os dias que compartilhou conosco. Uma vez ela estava falando com a minha esposa e comigo a altas horas da madrugada e nos dizia: “Eu resolvi apaixonar-me completamente pelo Senhor Jesus, nunca me casei, não porque não admirasse os homens, pelo contrário, sempre fui muito feminina, mas me apaixonei tanto pelo Mestre da Galileia que Ele resolveu tomar-me totalmente para si, para que pudesse entregar minha vida completamente para sua obra”. Ela tinha uma comunhão muito profunda com Deus, conhecia muito bem os planos dEle para com a sua vida, ao ponto de que quando despediu-se de nós disse: “Esta é a última visita que realizo à sua casa, tenho a plena convicção de que o tempo da minha partida há chegado e o Senhor está me chamando para sua morada” e assim foi, poucos meses depois Deus a chamou a sua presença.

Suas pegadas ainda servem de orientação para minha vida. Minha esposa Marlene Nunes foi estudante do Betel Brasileiro e a irmã Lídia admirava-a muito como Missionária. Meus filhos, Tiago e Thalita, ainda mantêm as lembranças dos dias que a irmã Lídia passou conosco e o exemplo de Cristo que refletia através de sua vida.

Em outubro de 2023 o Instituto Bíblico Betel Brasileiro completa 85 anos de existência e nossa oração é que Deus continue contemplando essa obra com a mesma visão saudável que foi dada à irmã Lídia há quarenta anos. Visão de formação missionária para alcançar o mundo baseado no caráter de Cristo, formado na vida de alunos, missionários e líderes de Igreja e que o Betel Brasileiro jamais perca a sua maior característica no Reino de Deus: Não ser uma denominação, mas um grupo que serve às denominações com visão global dentro da obra missionária.

 

Pr. Elcio Nunes

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