Projeto da UFPB contra poluição no litoral da PB é reconhecido como uma das ações da década do oceano da UNESCO

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Sol quente, praias limpas, passeio pelas areias do mar e lixos descartados corretamente. O que poderia ser um cenário ideal para se aproveitar um dia na praia, se tornou um problema ambiental no Brasil, especialmente, no litoral paraibano. As praias do Estado ainda convivem com lixo.

A grande produção e descarte incorreto de plástico traz sérios impactos ambientais e ao homem. O produto já está presente na água, solo e atmosfera. A presença do material nos oceanos tem sérias consequências, visto que os resíduos já se acumulam na superfície e até nos leitos mais profundos, atingindo o ecossistema marinho e o ser humano. Algumas iniciativas, no entanto, visam combater o descarte de lixo nas praias paraibanas e consequentemente, contribuir para o meio ambiente.

Desde o ano passado, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), juntamente com outras instituições brasileiras (UFLA, UFPB, UFRN, SENAI/CIMATEC, IFRN e UNESP-Sorocaba) e uma instituição norte-americana (USDA), desenvolve o projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo no Mar”. Os cursos envolvidos nessas instituições são engenharia de materiais, engenharia ambiental, engenharia civil, engenharia de produção e geografia.

O projeto, coordenado pela professora do Departamento de Engenharia de Materiais da UFPB, Amélia Severino Ferreira e Santos, e idealizado em conjunto com os parceiros, vem aos poucos mudando o cenário. Transpor “montanhas” de lixo nas praias que chegam do mar ou são deixadas pelos usuários das praias, passa necessariamente por uma consciência ecológica.

Em contato com o PB Agora, a professora Amélia Severino deu detalhes do projeto, que faz parte de uma chamada co-patrocinada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Brasil e busca soluções inovadoras para combater a poluição costeira local e mundial.

Ela explicou que a iniciativa busca avaliar os prejuízos do plástico descartado de forma inadequada nas praias por meio de análise de ciclo de vida (ACV), além de propor ideias para fortalecer a circularidade dos plásticos e o uso sustentável do material.

A professora Amélia Severino enfatizou que o objetivo do estudo é mostrar que o fortalecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é um dos meios para os resíduos plásticos não chegarem ao mar, comprovando que esse resíduo jogado nos oceanos pode ser reaproveitado ou reciclado em produtos de valor agregado e ainda, valorizar o trabalho dos catadores de materiais recicláveis pela sua inserção sócio-produtiva para além da base da cadeia da reciclagem do plástico. Outra finalidade é gerar dados experimentais para estimar a taxa de geração de microplásticos nos oceanos.

“Parte da equipe dos professores envolvidos e especialistas em Análise de Ciclo de Vida (ACV) vão discutir, criticamente, quais os plásticos e suas alternativas reutilizáveis, biodegradáveis e não biodegradáveis, que têm menor impacto ambiental nos oceanos”, acrescentou a professora.

A professora explicou que um dos desafios dos pesquisadores é desvendar e mensurar a diferença de propriedades entre os plásticos encontrados na praia e aqueles recolhidos na coleta seletiva, dados de quantificação e, principalmente, tipificação e identificação dos nichos de mercado dos diferentes tipos de plásticos presentes nas praias – como o polietileno, polipropileno, PET, EPS e isopor provenientes de descartáveis, de produtos alimentícios e higiene pessoal, por exemplo.

Na luta por tornar as praias paraibanas mais limpas, os pesquisadores do projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo no Mar” realizaram atividades de campo, no Litoral paraibano, em várias praias, a exemplo do Cabo Branco, Tambaú, praia de Ponte de Seixas e Penha. Em Natal, utilizando a mesma metodologia de classificação e quantificação, as atividades estão se concentrando nas praias do Forte, dos Artistas e Praia do Meio. O levantamento da poluição por resíduos sólidos das quatro praias urbanas de João Pessoa tem sido realizado em parceria com a EMLUR com previsão de conclusão para 2024.

Entre as ações destaque para a realização de uma campanha de educação ambiental na orla do município de Cabedelo e das praias de João Pessoa supramencionadas, tem-se a distribuição de porta-bitucas e adesivos educativos junto aos quiosques e bares do local e realização de palestras e minicurso sobre o combate à poluição plástica nos oceanos para os trabalhadores formais e informais da orla e o público interno de universidades e instituições de pesquisa, assim como para todos aqueles que sintam-se comprometidos com a proteção do meio ambiente, tornando-os multiplicadores de conhecimento.

O projeto é fundamentado em 3 linhas temáticas sendo elas, o uso de tecnologias para decomposição, o tratamento e substituição do plástico nos oceanos. Como resultado desse conjunto de ações, espera-se contribuir para mitigar os impactos dos plásticos no ambiente marinho, fortalecer a PNRS, construir uma visão crítica do impacto do lixo plástico e suas alternativas nos oceanos, bem como disponibilizar modelos cinéticos para estimar a taxa de geração de microplásticos nos oceanos, explicou a professora Amélia.

Segundo a professora, é objetivo do projeto ainda, desenvolver pesquisas voltadas ao desenvolvimento de madeira plástica e tijolo ecológico, utilizando produtos plásticos com impacto significativo no oceano.

Tijolo Ecológico

Em parceria com outras instituições, o SS-Oceanos, sigla do projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo no Mar”, significando Soluções Sustentáveis para os Oceanos, já agrega projetos como o do tijolo ecológico e o da madeira plástica, que contém frações de plástico na produção, dando uma reutilização ecologicamente correta ao resíduo plástico e são produtos com grande demanda dentro do mercado da construção civil.

O tijolo ecológico idealizado pelo professor Ricardo Peixoto Suassuna Dutra, chefe do Departamento de Engenharia de Materiais da UFPB, se baseia em estudos que comprovam a viabilidade do uso de frações de plástico numa mistura que resulta em um tijolo sustentável.

Os próximos passos

Incluído como ação no. 94.4 da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), o projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo no Mar”, tem novas metas e desafios a serem alcançados, como mapear fontes terrestres e marítimas de poluentes e contaminantes e desenvolverá soluções para mitigá-los, bem como, aprimorar serviços de alerta da população sobre os riscos ecológicos, biológicos, climáticos e antropogênicos relacionados ao oceano e à costa.

A iniciativa pretende ainda, buscar superar as barreiras à mudança de comportamento necessária em prol da relação construtiva entre a humanidade e o oceano de forma amadurecida e duradoura.

“Logo, é o conjunto de ações de educação ambiental, análise gravimétrica dos resíduos sólidos em praias e de integração dos catadores com a cadeia produtiva da reciclagem, juntamente com as pesquisas enumeradas e somadas àquelas que ainda sendo organizadas em 2024 que devem somar contribuições efetivas para as ações da Década da Ciência Oceânica”, explicou a professora.

Ações da Década do Oceano da UNESCO

O projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo do Mar” foi anunciado com a ação no 94.4 da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).

 

Esse projeto, conforme explicou a professora Amélia Severino, faz parte de uma chamada co-patrocinada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil e busca soluções inovadoras para combater a poluição costeira local e mundial. Ele é a soma de esforços coletivos de 6 instituições brasileiras (UFLA, UFPB, UFRN, SENAI/CIMATEC, IFRN e UNESP-Sorocaba) e uma instituição norte americana (USDA). Entre as ações em andamento destacam-se: educação ambiental, desenvolvimento de novos mercados e produtos para o plástico reciclado, análise de ciclo de vida e modelamento da taxa de geração de microplástico no oceano.

Aumento do lixo no verão

Historicamente o verão lota as praias brasileiras, e consequentemente, aumenta o problema do lixo no litoral. A poluição plástica tem se tornado uma ameaça crescente para todos os ecossistemas chegando até o mar, onde vitima animais marinhos e contamina as águas oceânicas, com consequências para a saúde, a economia, a biodiversidade e o clima mundial.


Somente em janeiro deste ano, os agentes da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur) Emlur recolheu 110 toneladas de resíduos na Orla de João Pessoa após os festejos de Réveillon. No ano passado, em apenas um mês, cerca de 40 toneladas de lixo foram retiradas da faixa de areia do litoral de João Pessoa. A suspeita do órgão é de que os resíduos foram trazidos de outros estados pela corrente marítima. O grupo do SS-Oceanos vem coletando resíduos até de outros continentes, entre eles destacam-se as garrafas PET e produtos de higiene pessoal com rótulos em chinês.

O projeto desenvolvido pelos pesquisadores da UFPB com outros parceiros, é um exemplo de como, o esforço da população, aliados a ações simples e eficazes, podem contribuir para reduzir os impactos ambientais dos resíduos plásticos no Oceano e tornar o passeio as praias agradáveis.

Severino Lopes

Fotos: Gilberto Firmino/Divulgação Secom de João Pessoa e Pexels/Lucien/Wanda

PB Agora

 

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