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RADIOGRAFIA DO BRASIL: recenseadores falam ao PB Agora da experiência e dificuldades na coleta de dados do Censo 2022 na Paraíba

Uma nova radiografia do Brasil em formação. Questionário sendo aplicado. Coleta de informações valiosas. Sigilosas. Homens e mulheres nas ruas, batendo de porta em porta e ajudando a escrever uma nova história. Dados pessoais que ajudarão a identificar o novo retrato do País A cara do brasileiro. Cor, raça, idade, taxa de natividade e mortalidade. Informações preciosas que ajudarão na implementação de políticas públicas. É o Censo Democrático 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Iniciado no dia 1º de agosto, o Censo 2022 mudou a rotina das cidades do país inteiro. Homens e mulheres de diferentes idades são vistos circulando pelas ruas, com seus coletes azuis, bonés e crachás, encontrando diferentes formas de cumprir a sua missão, que é retratar da forma mais fiel possível o Brasil de hoje.

Na Paraíba, são quase 4 mil agentes envolvidos na coleta domiciliar do censo e cerca de 3,3 mil recenseadores em campo. Mais de 500 deles estão espalhados pelas ruas de Campina Grande. Batendo de porta em porta, e coletando informações, eles vão aos poucos, traçando o novo mapa social e econômico do Estado. A estimativa é de que 1,3 milhão de domicílios, distribuídos entre todos os 223 municípios do estado, sejam visitados até o final do Censo.

O trabalho segue em ritmo acelerado e já se reflete no sistema do IBGE. Até a semana passada, 2,71% dos recenseados em todo o país são paraibanos, o que representa, em números absolutos, 1.579.853 pessoas. A Paraíba tem 9.269 setores, sendo 6% deles concluídos e 45,8% em andamento.

Participar do Censo, estar nas ruas na coleta de dados, entrevistando a população nas chamadas visitas domiciliares tem sido uma experiência única e gratificante para muitos recenseadores. Muitos deles estão participando pela primeira vez do Censo. E não escondem a alegria de fazer parte deste momento da história.

É o caso da professora Marlene Gomes da Silva. Subindo e descendo as ladeiras de Vila Cabral de Santa Terezinha, ela já recenseou mais de 700 pessoas em um mês de Censo. Algumas das visitas foram feitas à noite e até nos finais de semana.

 

Supervisor do IBGE em Campina Grande, José Gomes Bandeira Neto, disse que tem sido uma experiência gratificante participar do Censo 2022, e contribuir na coleta de informações que ajudarão a formar a nova radiografia do Brasil e servir de base para futuras políticas públicas.

 

“Tem sido uma experiência gratificante. Os dados que estão sendo coletados estarão todos no site do IBGE, com toda transparência. As informações não são vinculadas individualmente. Elas são coletadas de forma coletiva de cada setor” garantiu.

 

Dione Ana Bezerra, está participando do Censo pela primeira vez. Designada para trabalhar em uma área em Vila Cabral de Santa Terezinha e no Jardim Atalaia, ela garante que a experiência tem sido gratificante. Paradoxalmente, disse que a realidade tem sido diferente do que ela imaginou devido às dificuldades que está enfrentando para colher as informações.

“Tem sido uma experiência gratificante. Uma alegria fazer parte do Censo. Mas não tem sido fácil devido a aceitação nossa diante da população. Sentimos a recusa dos moradores em responder os questionários” observou.

Trabalhar na própria localidade, onde conhece todo mundo, facilita na coleta de dados, conforme observou o recenseador Eduardo Virginio da Silva.  Ele está realizando o Censo no distrito de Galante, onde reside e conhece as pessoas. Para Eduardo, a missão de radiografar o país, tem sido gratificante.

“Uma experiência muito importante. Moro num local pequeno onde todos se conhecem. Mas tem ausência de muitos serviços municipais, como lazer, saneamento, transporte de qualidade, hospitais de emergência 24 horas e outros serviços. Participar com a consolidação em números de representativos com um exponencial de possíveis melhorias é de uma grandeza enorme e tenho me esforçado para trazer cada vez mais transparência e comprometimento da população de Galante”, relatou ao PB Agora,

 

Ele acrescentou que está sendo bem recebido pelos moradores, sendo apenas alguns tem colocado obstáculos no trabalho.

“Estou sendo na maioria das vezes muito bem. Em alguns domicílios há desconfiança, mas quando começa a entrevista vou dando a confiança necessária para o morador ser assertivo nas informações. E nós poucos casos de recusas eu conto com a capacidade de reversão do IBGE para ter maior adesão dos setores que percorro” contou.

 

As dificuldades do Censo

Portas fechadas, condomínios que se recusam a receber os recenseadores, e moradores que resistem em responder os questionários. A tarefa de realizar o Censo 2022 não está sendo fácil. A rotina dos recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística está sendo marcada por obstáculos. Desde que iniciou as visitas domiciliares eles estão enfrentando inúmeras dificuldades para aplicar o questionário.

Como se não bastasse tudo isso, eles não têm horário de trabalho definido, já que recebem por produtividade, e quando um morador se nega a responder às questões, os profissionais precisam insistir e comparecer outras três vezes naquele local. Quando não encontram alguém em casa, procuram refazer a visita em outros horários. Quando um domicílio parece estar vazio, precisam confirmar a informação com vizinhos.

Alguns recenseadores da Paraíba, ouvidos pelo PB Agora, revelaram que estão enfrentando dificuldades na coleta de dados do Censo devido à desconfiança e falta de informações de moradores, que chegam a recusar o recebimento dos profissionais nos domicílios.

 

Segundo o supervisor do IBGE, José Gomes, os recenseadores tem registrado em torno de 10 % de recusa dos domicílios visitados em Campina Grande. Neto garante que as informações obtidas no Censo são totalmente sigilosas.

 

“A principal dificuldade do censo as vezes é o fator humano. As pessoas acham que o IBGE vai dificultar a vida delas. E não é isso. Pelo contrário. Nós estamos para servir a população, e a partir dos dados coletados, cobrar das autoridades” observou.

 

Em João Pessoa, alguns recenseadores revelaram que mesmo portando colete e crachá com a identidade visual do IBGE, foram barrados em alguns condomínios e só conseguiram entrar nos locais com o auxílio do coordenador da equipe, que notificou o imóvel para a realização da pesquisa. Outros profissionais afirmam que os transtornos são causados pela falta de informação das pessoas em relação à pesquisa.

 

Medo de ser assaltado

Medo, receio de entrar em territórios desconhecidos. A recusa da população não é o único obstáculo enfrentado pelos recenseadores. O medo de ser assaltado também virou preocupação. Vários recenseadores já foram assaltados. De acordo com o instituto, os assaltos aconteceram nas cidades de João Pessoa, Santa Rita, Campina Grande, Queimadas e Sousa.

O coordenador de divulgação do Censo 2022 na Paraíba, Jorge Alves, informou que em todos os casos foram levados os dispositivos móveis de coleta, que são utilizados para colher as informações. Ele ressalta que o equipamento não é smartphone, além de ser rastreável e inutilizado pelo IBGE em caso de roubo ou extravio. Portanto, não tem valor de mercado.

O IBGE garantiu que os dados coletados pelos dispositivos são criptografados e transmitidos logo após as entrevistas. Em caso de necessidade ou urgência, todas as informações e programas são destruídos automaticamente, de forma remota, na primeira operação ou em qualquer conexão que o equipamento fizer à internet. Esse mecanismo impede o acesso aos dados coletados, garantindo o total sigilo dos questionários ou informações.

 

Falta de pagamento pode comprometer o Censo

Como se não bastasse a alta taxa de recusa ao aplicar as pesquisas do Censo, os recenseadores do IBGE reclamam do atraso no pagamento e condições de trabalho. Na semana passada, um grupo de recenseadores de João Pessoa interrompeu a pesquisa como forma de protesto pelo atraso.

Ao todo, foram destinados R$ 2,3 bilhões do orçamento federal para a realização do levantamento, mas os recenseadores têm apontado dificuldades, principalmente em relação à lógica.

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estabelece para os servidores que são temporários o pagamento por produtividade, cujo valor bruto pode ser visualizado em uma calculadora disponibilizada no site oficial do órgão. Só que o edital para o processo seletivo não esmiúça o método de cálculo. Assim, o salário varia de acordo com o município e as características da região.

 

Até o momento, em menos de um mês de pesquisa, quase 7 mil profissionais do país abandonaram o cargo e não atuam mais no Censo deste ano.

 

Para a aplicação dos questionários referentes ao Censo 2022, mais de 183 mil recenseadores foram contratados pelo IBGE para percorrer 75 milhões de domicílios em todo o país.

Esse é o 13o Censo Demográfico do país. Com os dados, o IBGE pretende atualizar o número de habitantes no país, mapear a distribuição populacional no território nacional e também detalhar as condições de vida dos brasileiros.

 

Realizado em 2010, o último Censo Demográfico constatou, entre muitas outras informações, que a Paraíba tinha cerca de 3,7 milhões de habitantes, sendo 1,8 milhão de homens e 1,9 milhão de mulheres. Agora, a pesquisa tem o desafio de identificar o que mudou ao longo dos últimos 12 anos.

Programado para ser realizado inicialmente em 2020, mas adiado devido à pandemia, e, em 2021, por questões orçamentárias, o Censo 2022 marca 150 anos do primeiro recenseamento feito no país, que ocorreu em 1872. Além disso, é o nono levantamento censitário feito pelo IBGE.

 

Severino Lopes

PB Agora

 

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