A combinação parece ideal para as colisões frontais: mais de 80% da BR-101 é de pistas simples, que requerem ultrapassagens dos veículos lentos pela contramão; e esse ingrediente de risco é agravado pelas condições da sinalização.
A falta de pintura no asfalto (para delimitar as faixas e indicar onde a ultrapassagem é segura) e de placas (como para alertar curvas perigosas e limites de velocidade) são os piores problemas da rodovia. No ES, tanto na aproximação de Guarapari como no trecho urbano de Serra há placas oficiais que avisam: região com “alto índice de acidentes”. Mesmo assim, falta sinalização horizontal inclusive nas curvas perigosas.
Das badaladas praias paulistas de Ubatuba ao interior da Bahia, outra falha generalizada abrange as placas encobertas pelo mato. Um problema também se repete nos trechos recém-reformados: asfalto novo, mas liberado ao tráfego sem a demarcação das faixas.
À noite, essa condição, aliada à falta de iluminação nas regiões rurais, é um convite a acidentes graves. Sem a pintura da pista para orientar a ultrapassagem, não é possível para quem está atrás de um caminhão ter a mínima noção se é longa reta ou curva sinuosa.
Pelo código de trânsito, as vias não poderiam ser liberadas sem a sua completa sinalização.
Nos últimos anos, flagrantes de veículos trafegando na contramão em rodovias paulistas levantaram debates sobre a motivação -e as explicações de embriaguez e tentativa de suicídio são as mais frequentes.
No percurso pela BR-101, a reportagem vivenciou essa situação, motivada pela sinalização confusa da estrada em longos trechos onde ela está em obras de duplicação, como em parte de Santa Catarina e entre as capitais Recife e Natal.
Sem saber, a Folha e um outro carro percorreram em torno de um quilômetro na contramão durante a noite num trecho recentemente duplicado da rodovia na Paraíba. A condição só foi percebida porque um veículo que vinha num ritmo próximo de 100 km/h, no sentido contrário, se assustou, reduziu bruscamente a velocidade e deu alerta pelo farol.
O lugar onde os veículos entraram involuntariamente na contramão é uma das diversas variações de pista simples para dupla. A placa que aponta a trajetória correta é pequena, com pouca visibilidade à noite.
Outro lado
Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infra-Estrutura do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), diz que as condições da BR-101 ficaram prejudicadas pelo excesso de chuvas.
“Não está nas condições que gostaríamos para este momento”, afirma Caron, ressalvando ter pedido reparos para deixá-la melhor nas férias, por haver contratos de manutenção. Além da chuva, segundo ele, como há obras ao longo da rodovia e outras programadas, “não justificaria fazer conservação pesada de pavimento que vai ser restaurado”.
O diretor do Dnit avalia que há falta de sinalização tanto por ineficiência de alguns setores (no ES, recentemente houve até auditoria para apurar a deficiência) como por não ser possível pintar com tanta rapidez os trechos novos de asfalto.
“É preciso manter a trafegalidade. Nos segmentos com recapeamento tem que esperar alguns dias para fazer a sinalização. Não há alternativa.”
Folha